22 de outubro de 2015

Sermão para o 21º Domingo depois de Pentecostes – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Armadura para o combate espiritual


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Revesti-vos da armadura de Deus, para poderdes resistir aos estratagemas do demônio.” (Epístola do dia)
Na coleta da Missa de hoje, pedimos a Deus que proteja a sua família, que somos nós, das adversidades, dos inimigos. Pedimos isso a fim de que possamos servi-lo pela prática das boas obras.
Na Epístola de hoje, São Paulo nos dá o meio para nos protegermos do inimigo: a armadura de Deus, com a qual devemos nos revestir. Pedimos a Deus a proteção contra os inimigos e devemos nos revestir da armadura de Deus.
Está claro, então, que existe um combate. Todavia, nesse combate, qual é o inimigo a ser enfrentado? É indispensável, em uma guerra, conhecer o inimigo para saber que armas devemos adotar para enfrentá-lo, para combatê-lo eficazmente. As armas devem ser proporcionais ao inimigo. O inimigo, nos diz São Paulo, não é a carne nem o sangue, quer dizer, não são os nossos próximos. Os nossos verdadeiros inimigos são os principados e as potestades, os espíritos do mal. Nosso combate é contra o demônio e os outros anjos caídos, rebeldes a Deus. Nossos inimigos são os demônios, que querem nos levar ao pecado, que é a inimizade com Deus.
Trata-se, assim, de um combate espiritual e que não é puramente humano. Temos que combater contra os demônios, superiores a nós, pois são puro espírito. Sozinhos, com nossas próprias forças, perderemos. Precisamos nos revestir, então, da armadura de Deus, para podermos resistir nos dias maus, nos momentos em que somos tentados.
A armadura de Deus tem a verdade como cinturão. A justiça como couraça. O zelo para propagar o Evangelho da paz como calçado. A fé como escudo. A salvação como elmo, como capacete. E a palavra de Deus como espada.
O cinturão amarra os rins e significa a pureza, a castidade. Todavia, São Paulo não fala do cinturão da castidade, mas do cinturão da verdade. O apóstolo nos indica, então, que, para guardar a castidade, é preciso ter um amor profundo à verdade. Devemos estar amarrados, presos, dominados pela verdade. Somente esse amor profundo pela verdade é que nos possibilitará resistir a um amor desordenado pelos prazeres. É somente com o amor à verdade que conseguiremos guardar a castidade, a pureza. Sem esse amor, naufragaremos, tragados por amores desordenados. O inimigo nos ferirá mortalmente. Primeira parte da armadura de Deus: o cinturão da verdade.
A justiça como couraça. Devemos estar protegidos sem brechas, pela nossa vida irrepreensível. Devemos buscar a justiça, que aqui é entendida não somente como a virtude particular de dar a cada um o que lhe é devido, mas como a santidade. Se não tivermos a justiça como couraça, isto é, se não tivermos o desejo sincero e a busca real da santidade como couraça, daremos alguma brecha para o inimigo nos atacar e nos ferir mortalmente. Segunda parte da armadura de Deus: a couraça da justiça.
O zelo para propagar o Evangelho da paz como calçado. Nosso calçado deve ser a prontidão, o zelo para fazer o bem, para propagar o Evangelho pelo exemplo e pelas palavras. Para propagar o Evangelho da paz, que não é a paz do mundo, mas a paz de Cristo, que existe quando se seguem os seus ensinamentos. Aquele que está calçado está pronto para fazer a viagem, para se deslocar, sem mais tardar. Aquele que possui o zelo está sempre pronto para fazer o bem, com boa vontade, sem murmurar, sem tardar, sem perder tempo. E assim devemos ser. Terceira parte da armadura de Deus: o calçado do zelo para propagar o Evangelho.
A fé como escudo. Sim, é pela fé que poderemos nos defender contra os ataques à verdade e ao bem. Sem a fé, nossa inteligência é capaz de conhecer várias verdades da lei natural, mas ela tende, pouco a pouco, a cair em erros cada vez mais graves e a negar verdades cada vez mais elementares. É o que acontece hoje, por exemplo, ao se admitir o assassinato dos mais indefesos pelo aborto. De forma que, muitas vezes, apenas os que têm a fé continuam a afirmar tais verdades elementares, opondo-se ao aborto, ao divórcio, à dissolução da família, por exemplo. E, claro, pela fé conhecemos Deus em sua vida íntima, conhecemos a verdade sobrenatural: a Santíssima Trindade, a Encarnação, a redenção… Sem a fé, abandonados às nossas próprias forças, seremos feridos mortalmente. Quarta parte da armadura de Deus: o escudo da fé.
A salvação como elmo. O elmo, o capacete, está na cabeça, para protegê-la. Nosso elmo deve ser o desejo pela salvação. Nossa cabeça, nosso pensamento e nossas ações devem estar protegidos pelo desejo de alcançar a salvação. Com esse desejo de alcançar a salvação, não faremos nada contrário a ela. E dirigiremos tudo para a minha salvação. Quinta parte da armadura de Deus: o elmo da salvação.
Finalmente, a palavra de Deus como espada. Não devemos apenas nos defender contra o inimigo maligno, mas é preciso também atacar. E o atacamos com a palavra de Deus, com o Verbo de Deus, que é Nosso Senhor Jesus Cristo. Unidos a Nosso Senhor Jesus Cristo não somente resistiremos ao demônio e ao pecado, como o derrotaremos, como o fez Nosso Senhor com sua vida, paixão, morte e ressurreição. Sexta e última parte da armadura de Deus: a espada da palavra de Deus.
O devedor da parábola do Evangelho de hoje é o exemplo de alguém que não compreendeu em nada o combate. Não compreendeu quem é realmente o inimigo, que é o pecado e o demônio. Ele pensa que seu real inimigo é o seu devedor, o seu próximo. Ele não tem amor pela verdade, mas se deixa guiar pelo desejo dos bens desse mundo. Ele não está revestido de justiça. Sua dívida imensa foi perdoada pelo rei, mas ele se nega a perdoar quem lhe deve pouco, colocando a pessoa e sua família na prisão. Não tem zelo para fazer o bem, mas, ao contrário, faz o mal. Não se defende do mundo e de suas máximas com a fé nem se preocupa com a salvação, esquecendo-se da sentença do Rei, do justo juiz, que é Deus. Sua espada não é a palavra de Deus, mas o desejo pelos bens do mundo.
Por outro lado, Jó, citado no ofertório, é o exemplo de um homem revestido da armadura de Deus. Está claro, para ele, que o inimigo a ser combatido é o demônio que o tenta. Ele não se preocupa com os bens desse mundo. Tendo perdido tudo o que tinha – e Jó tinha muitos bens materiais, uma bela família e tudo de legítimo que se pode desejar – ele permanece fiel a Deus. Ele ama a verdade e sofre por ela. Ele busca a santidade, a justiça, e apenas isso lhe interessa. Jó tem prontidão para fazer o bem, tem a fé, acreditando em Deus. Seu objetivo é a salvação e, por isso, suporta todas as provações, apoiando-se na palavra de Deus, nas promessas divinas.
Aqui nesse mundo, caros católicos, somos membros da Igreja militante, quer dizer, militamos, combatemos contra os nossos pecados e combatemos para amar a Deus cada vez mais. Não somos simplesmente uma Igreja peregrina ou em caminho. Somos uma Igreja militante. O inimigo é o demônio e o pecado. Nossa armadura deve ser a armadura de Deus: o cinturão do amor à verdade, a couraça do desejo pela santidade, o calçado do zelo para fazer o bem, o escudo da fé, o elmo do desejo pela salvação e a espada da palavra de Deus.
Em nome do Pai…


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