8 de outubro de 2015

Sermão para o 16º Domingo depois de Pentecostes – Pe Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] A santidade sacerdotal


Sermão por ocasião da celebração de uma primeira Missa de um padre.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Vós, Senhor, sois suave e manso e cheio de misericórdia com aqueles que Vos invocam. (Intróito do 16º Domingo depois de Pentecostes).
O Papa Pio XII (Exortação Apostólica Menti Nostrae), mencionando seus antecessores São Pio X e Pio XI diz que o sacerdócio é o verdadeiro grande dom do Divino Redentor, que, para perpetuar até o fim dos séculos a obra da salvação do gênero humano consumada na cruz, transmitiu seus poderes à Igreja, querendo assim fazê-la participante de seu único e eterno sacerdócio. O sacerdote, continua o Papa Pio XII, é um “alter Christus”, porque está marcado com o caráter indelével que o torna semelhante ao Salvador; o sacerdote representa Cristo, que disse: “Como o Pai me enviou, assim eu também vos envio a vós” (Jo 20,21); “quem vos ouve, ouve a mim” (Lc 10,16). O sacerdote, iniciado, por vocação divina, neste divino ministério, “é constituído a favor dos homens nas coisas que tocam a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados” (Hb 5,1). A ele (ao sacerdote) – diz ainda o Papa – é necessário que recorra quem queira viver a vida de Cristo e deseje receber força, conforto e alimento para a alma; a ele pedirá o remédio necessário quem deseja ressurgir do pecado e enveredar pelo caminho certo. Por este motivo, todos os sacerdotes podem a si mesmos aplicar as palavras do Apóstolo: “Somos auxiliares de Deus” (1Cor 3,9). Mas tão excelsa dignidade – arremata o Papa – exige dos sacerdotes que correspondam com a máxima fidelidade ao seu altíssimo ofício. Destinados a promover a glória de Deus na terra, a alimentar e engrandecer o Corpo Místico de Cristo, é absolutamente necessário que se elevem a tal santidade de costumes que por meio deles se difunda, por toda parte, o “bom odor de Cristo” (2Cor 2,15).
No mesmo dia em que o padre foi exaltado à dignidade sacerdotal, o bispo, em nome de Deus, lhe indicou solenemente qual seria o seu dever fundamental pela oração do Pontifical Romano: “Compenetrai-vos do que fazeis, imitai o que tratais, de modo que, ao celebrardes o mistério da morte do Senhor, cuideis de mortificar a vossa carne com todos os seus vícios e concupiscências. Seja a vossa doutrina uma medicina espiritual para o povo de Deus, seja o exemplo da vossa vida como um odor de consolação para a Igreja de Cristo, para que pela vossa pregação e conduta edifiqueis a casa, isto é, a Igreja de Deus”. Totalmente imune do pecado, a vossa vida, mais que a dos simples fiéis, seja, como diz São Paulo, “escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3).” Adornado assim com a alta virtude que a sua dignidade exige, o sacerdote poderá cuidar do oficio a que foi destinado pela sagrada ordenação, que é o de continuar e completar a obra da redenção.
É este o programa que o sacerdote livre e espontaneamente assumiu: ser santo, porque santo é o seu ministério.
Como diz São Pio X, o padre não pode ser bom ou mal para si mesmo, sozinho, isolado. Mas grandes são as consequências de sua conduta e de sua maneira de viver para o povo. Que imenso tesouro, diz São Pio X, é um sacerdote verdadeiramente bom. O sacerdote deve ser sal da terra e luz do mundo. Se ele negligencia a sua santificação, o padre não poderá de nenhum modo ser sal da terra, pois aquilo que está corrompido e contaminado não conserva as outras coisas. E onde falta a santidade se introduz a corrupção. Assim, Nosso Senhor Jesus Cristo chama os sacerdotes que negligenciam a santidade um sal insosso, que não serve para mais nada, a não ser para ser jogado fora e esmagado pelos pés dos homens. Entre o Padre e um homem honesto, diz São Pio X, deve haver tanta diferença quanto existe entre o céu e a terra e, por isso, o padre deve vigiar para que sua virtude esteja isenta de toda reprovação, não somente em matéria grave, mas também em matéria leve.
Nós vemos, caros católicos, a necessidade dessa santidade manifestada em diversos aspectos da liturgia, mas particularmente no lavabo. No lavabo, na Missa Tradicional, o padre lava apenas a ponta dos quatro dedos que irão tocar na hóstia. Ele não lava a mão inteira. O significado espiritual do Lavabo é a grande pureza que deve estar presente na alma do sacerdote para oferecer o santo sacrifício da Missa. As mãos significam as obras. As obras do sacerdote devem ser limpas, puras, boas. Todavia, o sacerdote não lava as mãos inteiras porque já deve estar em estado de graça para rezar a Missa. Ele lava somente as pontas para mostrar que deve estar puro, mesmo das menores faltas. Como São Pedro, que não precisava ser inteiramente lavado na Última Ceia, mas que precisava somente ter os pés lavados pelo Senhor.
E quão importante é que o sacerdote esteja consciente da necessidade de sua santidade. São Pio X escreveu o seguinte ao Cardeal Respighi (Carta do 5 de maio de 1904) sobre a disciplina do clero: “A restauração de todas as coisas em Cristo, que nós nos propusemos, com a graça de Deus, no governo da Igreja, exige – como várias vezes já o demonstramos – a boa formação do clero, a seleção criteriosa das vocações, o exame da integridade de vida dos aspirantes, a prudência para não abrir muito facilmente as portas do santuário. Para fazer reinar Jesus Cristo no mundo nada é tão necessário quanto um clero santo, que seja guia dos fiéis pelo exemplo, pela palavra e pela ciência. Os fiéis, diz um velho provérbio, serão sempre tais quais os padres: sicut sacerdos, sic populus. Tal o sacerdote, tal o povo. Nós lemos, continua dizendo o Papa, no Concílio de Trento que “nada forma (o povo) de maneira mais habitual à piedade e ao culto de Deus que a vida e o exemplo daqueles que são consagrados ao ministério divino.”
Não há dúvida, o sacerdote tem obrigação de ser santo e de ser mais santo do que o mais piedoso dos leigos. E isso em virtude de seu sacerdócio, que o assimilou ainda mais profundamente a Cristo. Em virtude do poder do sacerdote sobre o Corpo real de Cristo na Eucaristia. Em virtude do seu poder sobre o Corpo Místico de Cristo, isto é, sobre os fiéis, para ensiná-los, para governá-los. Para atingir essa santidade, São Pio X (Exortação Haerent Animo) dá como principais meios coisas bem comuns, mas muito eficazes: a vida profunda de oração, por si e pelo próximo; a meditação católica diária; a leitura espiritual, o exame de consciência diário. Somente assim o sacerdote chegará ao ideal de estar crucificado para o mundo e o mundo para ele. Ajuda e muito na necessária santificação do sacerdote a oração dos fiéis, sobretudo daqueles que estão sob os seus cuidados.
São necessários sacerdotes e sacerdotes santos para restaurar tudo em Cristo. E eles vêm principalmente das boas famílias católicas. Como temos dito reiteradas vezes: é preciso o sacerdócio católico e as famílias católicas para restaurar tudo em Cristo. O primeiro jardim, diz Pio XI (Encíclica ad Catholici Sacerdotii Fastigium), e o mais adaptado, de onde germinam e aparecem as flores do santuário, é sempre a família verdadeiramente e profundamente católica. Continua o papa dizendo que a maior parte dos Bispos e dos padres de quem a Igreja proclama o louvor (Salmo 44, 15) devem a origem de sua vocação e de sua santidade ao exemplo e às lições de um pai repleto de fé e de virtude viril, ao exemplo e às lições de uma mãe casta e piedosa, às lições e ao exemplo de uma família na qual, com a pureza de costumes, reina soberana a caridade para com Deus e com o próximo. As exceções a essa regra comum da providência são raras e apenas a confirmam. Quando, em uma família, os pais, seguindo o modelo de Tobias e Sara, pedem a Deus uma posteridade numerosa, na qual seja bendito o nome de Deus pelos séculos dos séculos (Tobias 8, 9), e que eles a recebem com gratidão como dom do céu e como um depósito precioso ; quando eles se esforçam de inculcar em seus filhos, desde os primeiros anos, o santo temor de Deus, a piedade cristã, uma terna devoção a Jesus Eucarístico e à Virgem Imaculada e o respeito para com as pessoas sagradas ; quando, por sua vez, as crianças vêem nos pais um modelo de vida de honra, de trabalho e de piedade ; quando eles vêem que os pais se amam santamente no Senhor, que os pais se aproximam com frequência dos sacramentos, que obedecem não só à lei eclesiástica do jejum e da abstinência, mas que obedecem também ao espírito cristão da mortificação voluntária; quando as crianças vêem os pais rezarem no lar, agrupando em torno deles toda a família, a fim de que a oração em comum suba mais agradável ao céu; quando eles sabem que os pais têm compaixão com a miséria do próximo e que eles o vêm partilhar com o pobre seus ricos ou modestos bens, é muito provável que entre todos os filhos que se esforçam de seguir o exemplo dos pais haja pelo menos um que ouça o chamado do Divino Mestre: Vem e segue-me, farei de ti pescador de homens. (Mt 19, 21 ; Mc 10, 21) (cf. Mt 4, 19). Bem-aventurados os pais cristãos que, mesmo não fazendo da vocação dos filhos o objeto de suas orações fervorosas, como antigamente no tempo de maior fé, ao menos não têm medo disso e sabem ver nisso uma grande honra, uma graça de predileção do Senhor pela família.
Em nome do Pai…



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