29 de junho de 2015

Sermão para o 4º Domingo depois de Pentecostes – Pe Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] O Sagrado Coração e a santificação da família


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Caros católicos, nesses poucos anos de apostolado, já entronizamos o Sagrado Coração de Jesus em vários lares e em outros tantos o faremos em breve. Consideremos, hoje, ainda mês de junho, o real sentido dessa entronização. Em cada lar, em cada família, procuro explicar o sentido desse belo ato que é a entronização do Sagrado Coração de Jesus. Convém, todavia, que o façamos também publicamente.
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus tem seu início desde os primórdios do cristianismo. Nosso Senhor Ele mesmo nos aponta para o seu Sagrado Coração no Evangelho, dizendo : “Tomai meu jugo sobre vós e aprendei comigo, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas.”  Também na Última Ceia, quando São João se reclina sobre o Coração de Jesus, temos uma base para a devoção ao Sagrado Coração. Ainda na Sagrada Escritura, podemos ver a abundância da bondade do Coração de Jesus, quando, desse Coração transpassado pela lança, jorra sangue e água para a salvação do mundo. A devoção ao Sagrado Coração de Jesus vai se desenvolvendo ao longo dos séculos, favorecida pelos santos. Podemos citar de modo particular São Bernardo e São Francisco de Sales. E é justamente para uma religiosa da ordem fundada por São Francisco de Sales que Nosso Senhor aparecerá para difundir a devoção ao seu Adorável Coração. Ele aparecerá, no século XVII, para Santa Margarida Maria Alacoque, freira da Ordem da Visitação. A devoção ao Sagrado Coração foi, então, claramente, estabelecida e desejada pelo Divino Salvador Ele mesmo. E Ele próprio explicou a finalidade dessa devoção ao dizer as seguintes palavras para Santa Margarida Maria: “Eis aqui esse Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada, ao ponto de se esgotar e de se consumir para demonstrar seu amor. E, em reconhecimento, eu recebo, da maior parte, ingratidões.” Amor e reparação é o que pede o Sagrado Coração de Jesus. Amor, para pagar, na mesma moeda, aquele que tanto nos amou. Reparação, para desagravá-lo e consolá-lo dos ultrajes feitos ao seu amor infinito. A devoção ao Sagrado Coração de Jesus deve ser, então, uma devoção de amor a Nosso Senhor Jesus Cristo e de reparação ao amor de Cristo ultrajado pelos nossos pecados. Não deve ser uma devoção sentimental (como sugerem muitas imagens do Sagrado Coração), mas uma devoção que nos leve efetivamente à santidade, que nos faça amar a Cristo, com todo a nossa alma, todo o nosso ser, nos levando a cumprir a sua vontade em todas as coisas, nos levando a cumprir seus mandamentos. Deve ser também uma devoção pela qual reparamos os nossos próprios pecados e os dos outros.
E para levar os homens a corresponder aos desejos de seu Sagrado Coração, Nosso Senhor fez 12 promessas generosas. A mais importante delas, chamada de “grande promessa”, é a seguinte : “Darei, diz o Sagrado Coração de Jesus, a todos aqueles que comungarem em nove primeiras sextas-feiras do mês seguidas, a graça da penitência final; eles não morrerão na minha desgraça, nem sem receber os sacramentos e o meu divino Coração será o seu asilo seguro no último momento.” É a devoção das nove primeiras sextas-feiras. Uma promessa tremenda, para uma devoção tão simples. Apenas posso incentivá-los, caros católicos, veementemente a praticar essa devoção da comunhão nas nove primeiras sextas-feiras em homenagem e em desagravo ao Sagrado Coração de Jesus. Claro, é preciso receber as comunhões em estado de graça, querer desagravar o Sagrado Coração, praticar a devoção com reta intenção, querendo levar uma boa vida católica. Mais uma vez, apenas posso incentivá-los veementemente, caros católicos, a praticar tão boa e tão frutuosa devoção.
Entre as doze promessas, duas delas dizem respeito diretamente à família. Aos devotos do seu Sagrado Coração, Nosso Senhor diz : « colocarei a paz em suas famílias ». Ele diz também : « Abençoarei as casas em que a imagem do meu Coração for exposta e honrada. » Se essas promessas relativas à família são importantes em todo tempo, elas são ainda mais importantes nesses tempos atuais, em que o demônio e o mundo atacam tão brutalmente a família.
Foi introduzida, a partir dessas duas promessas, a prática da entronização do Sagrado Coração de Jesus nos lares, para atrair sobre as famílias as bênçãos divinas e a paz de Jesus Cristo. Todavia, não basta expor a imagem do Sagrado Coração. Não basta o simples gesto da entronização, da consagração da família ao Sagrado Coração de Jesus. É preciso procurar vivê-la.
Ao entronizar o sagrado Coração no lar, a família afirma reconhecer NSJC como o soberano do lar, como o Rei da família. A família se engaja a obedecer às leis de Cristo, seus mandamentos. Ao entronizar o Sagrado Coração de Jesus, a família faz a entrega total de si a Nosso Senhor. Ela se consagra verdadeiramente a Ele. E aos que se consagram com reta intenção ao seu Sagrado Coração, Jesus fez a seguinte promessa: “ninguém que se consagra ao meu Divino Coração morrerá sem a graça.” Assim, a família deve procurar realmente viver a consagração ao Sagrado Coração de Jesus. Em primeiro lugar, cada um da família deve procurar ter uma devoção sólida ao Sagrado Coração de Jesus. Em seguida, a família deve ter uma devoção familiar ao Sagrado Coração de Jesus. Os membros da família devem fazer algumas das orações em família diante da imagem entronizada do Sagrado Coração. Procurem, por exemplo, rezar todas as sextas-feiras a Ladainha do Sagrado Coração de Jesus em família. Na primeira sexta-feira de cada mês, procurem renovar a entronização, guiados pelo pai de família, que é o principal responsável pela vida de oração familiar. Procurem praticar a devoção das nove primeiras sextas-feiras de que falamos. Sem essa devoção familiar, não haverá frutos da entronização ou muito pouco fruto.
Para que tenha fruto a entronização do Sagrado Coração, é preciso também que cada membro da família procure viver como bom católico, cumprindo bem seus deveres de estado, sobretudo, os deveres de estado relativos à família. Marido e esposa, principalmente, devem evitar, de modo particular, o uso do matrimônio contra a lei natural e de Deus, quer dizer, devem evitar a contracepção, que é pecado mortal e que tanto destrói as famílias. Se algum membro da família estiver, por infelicidade, afastado de Deus, recorram os outros membros ao Sagrado Coração com confiança.
É preciso viver a consagração da família ao Sagrado Coração de Jesus com uma devoção familiar a Ele, e procurando seguir as suas leis em todas as coisas. É preciso também afastar do lar as diversões perigosas, as intemperanças, tudo o que é hostil à religião católica e aos seus ensinamentos, e tudo o que representa perigo para a pureza. É preciso afastar da vida familiar a pretensão de conciliar a verdade com o erro, a licença nos costumes com a moral católica. É preciso afastar a tibieza. Não se pode estar no limite entre a virtude e o vício, entre o céu e o inferno. É preciso banir o espírito mundano da família, como diz o ato de entronização. A família que se consagrou ao Sagrado Coração deve entregar-se a Ele inteiramente, sem guardar nada para si.
Assim, essa família poderá suportar com méritos e alegria as fadigas dos deveres quotidianos, os sacrifícios próprios da vida familiar, todas as provações que a Providência enviar. A família encontrará repouso e consolo no Sagrado Coração. A família poderá enfrentar devidamente as cruzes e tirar delas frutos para a glória no céu.
Temos insistido um pouco, caros católicos, na santificação da família, de maneira oportuna e inoportuna. Como já dissemos, citando Monsenhor Tihamer Toth, é pelas famílias que virá a renovação da sociedade. Eis o que diz Pio XII a respeito:
“Não há dúvida de que, se queremos encontrar uma solução durável para a crise atual,[1]será preciso reconstruir a sociedade sobre fundamentos menos frágeis, quer dizer, será preciso reconstruir a sociedade sobre fundamentos mais conformes à fonte primeira de toda civilização, que é a moral de Cristo.[2] É igualmente certo que para fazer isso será preciso, antes de tudo, recristianizar as famílias. Aqueles que querem expulsar Deus da sociedade e jogá-la na desordem se esforçam de tirar da família o respeito devido às leis de Deus, exaltando o divórcio e a união livre, colocando diversos entraves à tarefa providencial dos pais para com os filhos, inspirando aos esposos o medo das fadigas materiais e o medo das responsabilidades morais que advém de uma família numerosa. É contra tais perigos que nós recomendamos que consagrem a família de vocês ao Sagrado Coração de Jesus.” Era muito frequente Pio XII recomendar a consagração ao Sagrado Coração de Jesus aos jovens esposos que iam em peregrinação a Roma depois das bodas.
Procurem, prezadas famílias, fazer a entronização do Sagrado Coração de Jesus e viver bem essa consagração a Ele. Procurem a santidade da família. A restauração de todas as coisas em Cristo virá pela santificação das famílias de um lado e pela santificação do clero do outro lado. E pela cooperação estreita das famílias com os sacerdotes.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
 [1] Nota do Padre: A crise de que fala Pio XII, é a dos anos 40. Muito mais grave é a crise atual da sociedade e da família.
[2] Nota do Padre: Interessante notar que não pode haver verdadeira civilização que vá contra os princípios de Cristo.

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