17 de junho de 2015

A Esmola - Padre André Beltrami.

CAPITULO III
JUROS VANTAJOSOS NESTA
VIDA E A GLORIA ETERNA NA
OUTRA

O banco de que falamos, não abriu falência, nem abrirá jamais; não só, mas também é o mais vantajoso, pois multiplica os capitais em pouco tempo. Os bancos terrenos dão ordinariamente cinco ou seis por cento de juros; mas o divino banco da esmola oferece nada menos que o cêntuplo nesta vida,como penhor, e depois, na outra, as"riquezas do céu, tesouros que não podem ser roubados pelos ladrões, nem estragados pelas traças; pérolas e diamantes que formarão a nossa coroa para sempre. Não é exagero para engrandecer a beleza e utilidade da esmola  mas a pura realidade, promessa formal de Jesus Cristo; de fato, lemos no Evangelho (S. Marcos X, 30): «Quem abandonar as suas coisas por amor de Mim diz Ele, receberá centiés  tantum nunc in témpore hoc, et in .saéculo futuro vitam aeternam ». Receberá o cêntuplo das bênçãos que Deus enviará à sua pessoa, a seus bens, a seus negócios; o cêntuplo na paz do coração; o cêntuplo na concórdia da família; o cêntuplo nas graças espirituais na vida e na morte. E não é só: os juros do divino banco da esmola vão além do túmulo e obtêm-nos lá no céu uma glória eterna, uma corôa imarcescível, um trono firme. Este banco,
fundado por Deus no tempo, é destinado principalmente a enriquecer-nos de riquezas imortais, que são as verdadeiras riquezas, as únicas que merecem ser amadas e procuradas pelo homem, pois não nos podem ser roubadas. O Profeta-rei cantava na harpa as alegrias inefáveis da esmola e dizia no salmo quarenta: - «Feliz aquele que vem em auxílio do pobre e do mísero; o Senhor defendê-lo-á na hora da tribulação,conservá-lo-á ileso, dar-lhe-á a vida de sua graça, torná-lo-á feliz na terra e não o entregará nas mãos de seus inimigos ». A magnitude dos lucros prometidos não deve causar maravilha. Nosso Senhor é um banqueiro riquíssimo e embora dê muito e enriqueça os homens, nunca empobrece. Os seus haveres são infinitos e não ficam diminuídos, como o mar que não se esvazia quando os homens lhe tiram as águas. Todos, os ricos principalmente, deveriam pensar na prodigiosa fecundidade do celestial banco da esmola e nele pôr os seus capitais. Porventura não é melhor receber cem por um, que seis por cento? Não é melhor ficar rico no tempo e na eternidade, do que enriquecer-se somente cá na terra? Pondes os vossos capitais nos bancos da terra e os deixareis quando tiverdes de deixar a terra. Se, invés, colocais o dinheiro no banco da esmola, depois de terdes gozado juros centuplicados nesta vida, levá-lo-eis convosco e sereis ricos por toda a eternidade. E' horripilante pensar a um avaro que passou a vida ajuntando dinheiro, confiando seus bens ora a este, ora àquele banco, sem socorrer os pobres, sem enxugar uma lágrima, sem desalterar a fome a um infeliz, alimentando, quiçá, galgos ou cavalos de raça, para fazer bela figura diante dos homens. Ei-lo agora estendido no leito de morte, e em breve deve deixar tudo e baixar á sepultura, sem poder levar nem um ceitil. Por outro lado, como não deve consolar o rico no ponto de morte o pensamento de ter socorrido generosamente os pobres Suas riquezas ele as achará na outra vida convertidas em méritos e glória eterna e morre consolado com a esperança do céu. Procuremos, pois, acertar na escolha do banco e demos preferência ao divino banco da caridade, pondo nele os nossos capitais, porque apresenta tais garantias, que torna-se impossível uma bancarrota, e porque dá rendas vistosas. Destarte evitaremos a triste sorte do rico epulão e daquele outro infeliz que, depois de ter enchido os celeiros para gozar da vida, foi logo chamado ao outro mundo e obrigado a deixar tudo. Não esqueçamos a promessa do Redentor: «Dai e vos será dado; e derramar-vos-ão no seio uma boa medida, cheia, e recalcada, e acogulada; porque com aquela mesma medida que tiverdes medido, se vos há de medir a vós ». (S. Lucas, VI, 38). Na vida dos santos vemos confirmada retribuição do. cem por um. Quanto mais davam, ·mais recebiam. S. João, Patriarca de Alexandria, foi chamado a Esmoler por causa das abundantes e continuadas esmolas que distribui-a, Ele confessou ter-lhe Deus dado a correspondência fiel do cêntuplo por um. Jovem de quinze anos, tendo dado um manto a um pobre, no mesmo dia foi-lhe entregue o dinheiro no seu valor centuplicado. De outra feita, ordenou ao seu esmoer que desembolsasse quinze escudos que os desse a um pobre forasteiro espoliado pelos ladrões; ao mordomo pareceu demasiada aquela soma e deu apenas cinco. No mesmo dia uma rica senhora mandou quinhentos escudos para os seus pobres. O santo, que já se habituara a receber cem por um, e vendo que isto agora não se verificara, suspeitou do mordomo, e procurou saber como este cumprira a ordem recebida; confessou sem ambages, que tinha dado cinco escudos somente. Foi o santo agradecer á piedosa senhora, e qual não foi a sua admiração ao saber que ela determinara mandar-lhe mil e quinhentos escudos e ao dar a ordem ao seu caixa, errara o número, notando só quinhentos. S. João via a Jesus Cristo na pessoa dos pobres e por isso os chamava seus senhores. Enquanto, certo dia, um dos pobres por ele socorrido se desabafava nos mais ternos afetos de reconhecimento, o santo Bispo\ lançando-se a seus pés, o interrompe com estas belas palavras: «Meu caro irmão, eu ainda não derramei o meu sangue por ti, corno fez Jesus Cristo pela minha salvação e como está obrigado a fazer, se preciso for, um Pastor fiel » . Reproduzo da vida de S. José Cottolengo
o fato seguinte: Quando lhe pediram em Utelle, que mandasse algumas Irmãs para atenderem ao hospital e abrirem. um educandário, notou que não só não tinha dinheiro para fornecer o necessário ás religiosas, mas nem ainda um ceitil para a viagem.. Confiando na Divina Providência, sai tranquilo de casa e na rua Milão dá com o senhor Henry, seu conhecido e amigo. O Santo foi-lhe logo dizendo:
-Devo ir a Utelle afim de erigir uma casa das nossas Irmãs e não tenho no bolso nem sequer um centésimo quereríeis emprestar-me mil liras? - Darei com muito gosto, respondeu o amigo. Horas após, o Santo tinha a quantia necessária; ao recebê-la, pronunciou infalível Deo gratia; e sorrindo acrescentou: - Recordai-vos caro Henry, cinquenta por um . Henry não compreendeu. Cottolengo ao se despedir disse mais uma vez. - Recordai-vos, Henry, cinquenta por um. Passaram-se meses. Um belo dia, Henry recebia cinquenta mil liras por um bilhete de loteria que lhe custara mil. Só então compreendeu que Deus para premiar a sua caridade, o recompensava precisamente como lhe fera predito. S. Vicente de Paulo, paupérrimo como era, chegou a distribuir em esmolas aos pobres milhões de francos. E donde tirava tanto dinheiro? Deus dera-lhe o cêntuplo por um e, mais ainda, inspirava aos ricos a proverem-no de dinheiro. Alfredo o Grande, rei da Inglaterra destronado pelos dinamarqueses e obrigado em tempo de inverno a homiziar-se no castelo de Atelney, por pouco morria de fome. Um dia, se lhe apresentou um mendigo pedindo comida; mandou que lhe dessem alguma coisa. Sua mãe, porém, advertiu que em casa só havia um pão. Alfredo roga á sua mãe que dê metade ao pobre, e tenha confiança naquele Senhor que saciará cinco mil pessoas com cinco pães e dois peixes prometera o cêntuplo por um do que fosse dado por seu amor. A fé viva do monarca foi logo recompensada a sua caridade heroica atraiu as bênçãos do céu sobre si e sua família. Porquanto, Deus lhe concedeu vitória completa sobre os dinamarqueses e o restabeleceu no trono.  Mas, objetará alguém, eu dou tanta esmola e não acho que Deus me de cem por um. Vós vos enganais, respondo; a promessa  de Jesus Cristo não pode falir. Certamente que Deus não manda ter por vez um  anjo a pagar-vos cem por um; mas Ele vô-lo dá abençoando a vossa família, fazendo prosperar os vossos negócios, dando saúde, e o que é mais importante, colmando-vos de graças espirituais. Uma só graça, embora pequena vale mais que todo o ouro do mundo. E se não obstante, virmos pessoas esmoleres visitadas pela tribulação, é sinal que assim exige a salvação de sua alma. Quereis um exemplo? Lede: Santa Teresa de  Jesus recebia abundantes esmolas de um negociante que se recomendava sempre ás suas orações; uma vez a Santa lhe falou assim: - «Tenho rogado muito por vós e foi me revelado que o vosso nome está escrito no livro da vida pela generosa caridade que haveis usado para comigo; mas, no entanto, é mister que passeis antes por muitas provações » . Tal aconteceu; uma tempestade pôs a pique as naus carregadas de mercadoria sua. Abriu falência. Cientes da desgraça, os seus amigos lhe subministraram o necessário para continuar o negócio. Novo desastre e nova falência. Pelo que ele, espontaneamente, fechou-se numa prisão. Seus credores, conhecendo a magnanimidade de seu coração, libertaram-no. Reduzido á miséria, deu-se todo ao serviço divino e ás obras de caridade e morreu santamente, cheio de méritos. Ora, pergunto eu, deixou talvez de se cumprir a palavra do Divino Redento neste negociante esmoler?- Absolutamente. Ele recebeu cem por um nas desgraças que lhe deram ampla ocasião de conseguir méritos, na paciência e Deus lhe concedeu, nas boas obras que praticou. Do céu deve certamente bendízer a caridade para com Santa Teresa e aquelas desventuras, que, suportadas por amor de Deus, lhe fruiram o paraíso. Se tivesse  tido prosperidade, apegaria o coração ás coisas desta terra e talvez se condenaria. Demos pois, esmola, confiados que Deus nos recompensará largamente nesta vida e na outra e procuremos imitar os luminosos exemplos que os santos nos deixaram.

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