15 de junho de 2015

II DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES - Capela N. Sr.ª das Dores - Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Omnia parata sunt – Algumas desculpas comuns para não chegar à santidade

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Um homem fez uma grande ceia, nos diz Nosso Senhor na parábola contida no Evangelho de hoje. E, com antecedência, ele convidou muitos. À hora da ceia, ele mandou seu servo dizer aos convidados que viessem, porque tudo estava preparado. Esse homem é Deus ou o próprio Jesus Cristo. O servo que convida os homens são aqueles que, na Igreja, têm a função de transmitir a verdade divina aos homens, e que têm o dever de chamá-los à conversão. São os padres e bispos, em suma.
Era o costume convidar as pessoas com antecedência e, na hora da ceia, enviar alguém para chamá-las e dizer que estava tudo preparado. Assim, ao contrário do que parece à primeira vista, as pessoas não foram pegas de surpresa pelo convite. Elas já tinham sido convidadas antes e tiveram toda a possibilidade de se organizarem para comparecerem à ceia. E tudo, diz a parábola, estava pronto para os convidados. Omnia parata sunt. Tudo está preparado. Mas surgem as desculpas para não irem à ceia. Comprei uma vila, é preciso ir vê-la. Comprei cinco juntas de bois, preciso experimentá-las. E outro, casei-me, e por isso não posso ir. Já tinham aceitado o convite e, quando tudo estava já preparado, recusam-se a ir, com desculpas.
Nós recebemos, caros católicos, o primeiro convite para a ceia, pela recepção de nosso batismo, em que Deus nos chama à santidade. E nós – em geral pelos nossos pais e padrinhos – aceitamos o convite, renunciado ao demônio, às suas obras e pompas e prometendo servir a Deus, guardando a fé e a caridade, guardando a nossa alma pura do pecado. E Deus nos convida de novo, constantemente. Às vezes, Ele o faz pelas palavras de um pobre servo seu indigno, ou por uma boa leitura, ou por um bom pensamento que inspira à alma. Ele nos convida para irmos ao banquete, que já está inteiramente preparado, o banquete da santidade, o banquete da prática séria da religião católica, o banquete do amor a Deus, com toda a alma, com toda a força. Deus nos convida pelos mais diferentes meios à conversão profunda, caros católicos. Tudo está preparado para a nossa felicidade, bastando que aceitemos o convite divino. Omnia parata sunt. Tudo está preparado, para que sejamos santos. Quantas graças Deus tem preparadas para nós, caros católicos…
Todavia, quantas vezes dizemos: “adquiri uma quinta, preciso ir vê-la”; “adquiri cinco juntas de bois, preciso experimentá-la”, “casei, por isso não posso ir”. Vejamos que as desculpas dadas não são nem coisas ilícitas por si mesmas, são coisas normais da vida. Assim, muitas vezes deixamos de atender ao convite de Deus para a santidade por nos entregarmos exclusivamente às atividades terrenas, ainda que lícitas em si mesmas. E pouco a pouco vamos nos esquecendo das coisas celestes e caindo em um catolicismo tíbio, que pode levar a uma queda definitiva.
A primeira desculpa revela o apego aos bens desse mundo. Não se recusa o convite à santidade por um bem terreno. Mais vale a santidade do que todos os bens desse mundo. A santidade é o tesouro escondido, pelo qual devemos vender tudo o que temos, se for preciso. Omnia parata sunt. Tudo está preparado, para que sejamos santos.
A segunda desculpa revela, entre outras coisas, a curiosidade, ou a vida levada pelos cinco sentidos, representados pelas cinco juntas de bois, como diz São Gregório Magno. Essa desculpa revela uma vida dispersa e superficial. Essa desculpa está imensamente presente em nossos dias, principalmente pela superficialidade e dispersão causada pelo uso de redes sociais, de grupos de telefone, pelo uso imoderado da internet e coisas do gênero. As pessoas vivem disso e para isso, muitas vezes com aparência de apostolado, mas esquecidas de atender ao chamado bem real e concreto de Deus à santidade. Movidas por essas coisas, não conseguem se concentrar para rezar, para ler um bom livro católico, para fazer a meditação católica diária. Não conseguem fazer isso porque se tornaram superficiais, inconstantes, preguiçosas por se entregarem a essas coisas, que facilmente se tornam um vício. Elas têm que experimentar várias coisas no mundo virtual, têm que conhecer tudo o que ocorre no mundo e com cada pessoa, mas se esquecem de conhecer a si mesmas e de conhecer a Deus e de ver quão bom e suave é Deus. Vão sendo, assim, levadas à tibieza, ao desgosto pelas coisas celestes. O uso dessas coisas e dos eletrônicos, em geral, traz consigo uma satisfação, é algo agradável à nossa sensibilidade. Se não moderarmos bastante o uso delas, vamos nos acostumando a fazer somente o que nos agrada, a fazer somente o que é conforme à nossa inclinação e deixaremos de fazer o que é árduo, o que demanda sacrifícios, deixaremos de fazer o que demanda a negação da vontade própria: deixaremos a oração, deixaremos de cumprir bem os deveres de estado, deixaremos de nos alegrar com as renúncias diárias que devemos fazer, deixaremos de lado as mortificações. Isso é um problema grave na sociedade como um todo e para os católicos em particular. Qualquer padre sério e atento se dá conta rapidamente dos prejuízos causados às almas em virtude dessas coisas, quando não são reduzidas ao mínimo necessário. Elas vão minando as forças da alma, sem falar dos pecados contra a pureza que muitas vezes ocorrem. “Padre, estou com preguiça para rezar, estou com preguiça para cumprir os horários, tenho dificuldade para rezar, não consigo me concentrar para rezar, para fazer a meditação, para ler. Me distraio no trabalho, não consigo estudar. Não tenho tempo.” São afirmações constantes que ouve um padre. Usa muito o celular? Redes sociais, internet? Em geral, a resposta é sim. Bem, está aí, então, grande parte da causa de tudo isso. Alguns têm que trabalhar diretamente com isso. Devem rezar e tomar todas as preocupações para evitar as más consequências disso, reduzindo o uso ao necessário, realmente. Os pais, se têm um pouco de caridade para com suas crianças, devem mantê-las longe disso e vigiar para que, no dia que precisarem usar realmente, o façam com extrema moderação e evitando as ocasiões de pecado. Deus nos chama concretamente à santidade, pelos esforços do dia-a-dia. Atendamos ao seu convite suave e doce, sem sermos arrastados pela superficialidade, pela inconstância, pela curiosidade, pelo ócio. Omnia parata sunt. Tudo está preparado, para que sejamos santos.
A terceira desculpa é também muito comum. Sou casado. Tenho filhos. Não tenho tempo. Não. O matrimônio é um sacramento e como todo sacramento nos dá a graça para que sejamos santos. Se é casado, santifique-se como casado. E santificar-se como casado é fazer suas orações individuais e em família. Santificar-se como casado é buscar a santidade para você e para sua família. Santificar-se como casado é assumir suas responsabilidades como pai ou mãe de família. Santificar-se como casado é cumprir a rotina diária por amor a Deus. É oferecer os sacrifícios e cruzes da vida matrimonial pela salvação de todos os membros da família. É preciso ouvir e atender ao convite de Deus – também os casados – para que se santifiquem. Procurem organizar-se, ter horários individuais e familiares bem definidos, para que possam ter o mínimo de vida de oração individual e familiar. O casamento não é impedimento para a santidade, mas um meio para chegar lá. Um meio com muitas cruzes e dificuldades, certamente, mas, também por isso, um meio eficaz. E não devemos nem podemos nos enganar. Não é uma forma de governo – monarquia, república, aristocracia – que mudará a face da terra. Mas a santificação das famílias. Santificação que poderá vir somente com uma liturgia e doutrina sólidas e com a vida de oração da família. Os esposos devem atender ao convite de Deus para que sejam santos, empregando os meios necessários para isso. O primeiro: a vida de oração com o intuito de emendar-se. No matrimônio, omnia parata sunt. No matrimônio, tudo está preparado para a santificação dos esposos. Grandes graças estão preparadas para os esposos.
Caros católicos, evitemos a ira de Deus. Na parábola, ao ouvir o servo relatando as desculpas dos convidados, o senhor se ira e diz que nenhum dos convidados provarão da ceia. Uma hora o convite de Deus cessa definitivamente. É a hora de nossa morte, que não sabemos quando será. Hoje, amanhã, depois. Se não atendermos ao convite de Deus, conheceremos a sua ira. Vale mais atender aos seus suaves e constantes convites, para que tomemos parte na ceia da vida celestial. Omnia parata sunt. Tudo está preparado para que sejamos santos.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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