29 de junho de 2015

A Esmola - Padre André Beltrami.

CAPITULO XII

A PREDESTINAÇÃO DO RICO
DEPENDE DA ESMOLA

Salva-se o rico se pratica o preceito da esmola; aliás, perder-se-á irreparavelmente.A obrigação da caridade é grave e se encerra no sétimo mandamento: «Não furtar». Já que o supérfluo pertence ao pobre, comete um furto quem lho não dá. Não é ladrão o que não quer pagar uma dívida e retém o que pertence ao alheio ? « Praecipio tibi, ut aperias  manus fratri tuo egéno ac páuperi qui versátur tecum in terra. Eu, disse o Senhor no Deuteronômio, com a plenitude de minha divina autoridade, ordeno a ti, minha criatura, a quem enriqueci por mera liberalidade, que, do muito que te dei, disponhas de uma parte para o sustento dos pobres. Que diríeis se o sol retivesse toda a luz e não a comunicasse ao mundo, ou o mar detivesse todas as águas em seu seio, e não as levantasse ao céu meio de vapores, porque descessem em chuva  benéfica para fecundar a terra? Com certeza vós lhes diríeis:
- Senhor sol, e senhor mar, tamanha quantidade de luz e de água não é exclusivamente para vós. Estas coisas o Criador vô-las deu afim de que repartais com o mundo, para iluminá-lo, para fecundá-lo. 
As Escrituras falam claro: - Senhores ricos, quod superest, date eleemosynam. Deus tem supremo domínio sobre as riquezas todas e a sua Providência vela sobre todas as criaturas; a alguns dá mais, porém, com a obrigação expressa de auxiliar os necessitados. E por isso, no Eclesiástico, o Espírito Santo adverte o rico a não negar esmola ao pobre, porque lhe é devida. O rico, por sua vez, reflita seriamente nisso, e se lembre de que no tribunal de Deus ser-lhe-á pedida conta severa do uso ou do abuso de seus bens. O rico epulão sepultado no inferno unicamente porque pensava em gozar das riqueza:negando esmola ao pobre Lázaro, para com o qual foram mais compassivo os seus cães, que lhe lambiam as chagas. Não satisfazem, por certo, os seus deveres os que dão apenas uma moeda ou uma fatia de pão. O preceito inclui todo o supérfluo. Mas, porque há tanta dificuldade em socorrer os pobres, enquanto que se esbanja dinheiro em festas, em passatempos, em vestidos de luxo para seguir a moda ? Melhor seria evitar despesas inúteis e enxugar tantas lágrimas, saciar a fome a tantos infelizes. O rico que pratica durante a vida o preceito de esmola tem um penhor seguro de predestinação. S. Jerônimo deixou escritas palavras verdadeiramente consoladoras: «Non mémini me legisse mala morte defunctum qui libérius ópera caritátis  exercuerit. Não me recordo de haver lido que urna pessoa caridosa tenha rnorrido mal ».

Na vida do glorioso Patriarca de Assiz, escrita por S. Boaventura, conta-se que o santo estendeu uma vez a mão a um militar, implorando a caridade por amor de Deus. O militar fê-la de boamente, e S. Francisco se ajoelhou logo para rezar por ele, como soia fazer com os demais benfeitores. Deus lhe revelou que aquele militar, embora sadio e robusto, em breve teria morte improvisa. O santo correu-lhe ao encalço e:
- Vós, lhe disse com grande afeto, fizestes uma caridade temporal e, em troca, quero fazer-vos uma espiritual; e vos aviso da parte de Deus que vos restam poucos dias de vida. Confessai-vos e preparai-vos para o grande passo.
O militar se preparou com muitos exercícios de piedade e pouco depois da confissão morreu, dando certeza de salvação. Imaginemos agora, que aquele militar, invés de fazer caridade, tivesse dito um desdenhoso «ide trabalhar», ou então «não tenho >>  Francisco não teria rezado por ele, não teria recebido o aviso de sua morte próxima; e um homem do mundo, morrendo improvisadamente,em confissão, salva-se? 

Mais instrutivo ainda é o  fato seguinte narrado por Santa Teresa no capitulo quinze do livro das Fundações. Um senhor de  Valladolid deu á santa a sua casa com amplo jardim, para que fizesse um mosteiro das religiosas de sua Ordem. Dois meses após aquela generosa oferta, o benfeitor morreu improvisadamente, sem poder receber os Sacramentos. Diante de tal desventura, Santa Teresa doeu-se profundamente, tanto mais que na cidade murmurava-se que a vida desse senhor não tinha sido irrepreensível. Pôs-se então a rezar fervorosamente pela alma de seu benfeitor; e teve revelação de Deus que ele se salvara, e sua alma ficaria no purgatório até que fosse celebrada a primeira Missa em sua casa. Como prêmio de sua caridade para com a santa, Deus lhe concedera a contrição perfeita no momento em que a apoplexia o golpeou. Se não desse de presente a sua casa, talvez não se salvasse; pela caridade, mereceu a contrição e com esta uma santa morte. Ele terá dito certamente:
-O' feliz esmola, pela qual mereci uma glória eterna e do céu terá contemplado com satisfação a sua casa transformada em convento, causa de sua felicidade eterna.

Concluamos, pois, com o dilema: «Ou esmola ou condenação ». Para o rico não há meio termo.  Ele se salva, se for fiel á prática do preceito da caridade; e terá o mesmo fim  do epulão se como este,fechar a  porta ao pobre. O rico é obrigado a socorrer o pobre; mas o pobre não tem direito de se apropriar dos bens do rico, quando este lhe nega esmola. Ambos comparecerão ao tribunal de Deus; então, o pobre acusará o rico de furto e de crueldade e pedirá vingança. Tenho para mim que os ricos, entre a esmola e a condenação, escolherão a esmola e serão pródigos para com os necessitados, os quais se tornarão seus advogados no dia terrível do juízo.

(l) Causam temor salutar aquelas palavras do salmista: Dormiérunt somnum suum et nihil invenérum
 omnes viri divitiárum suárum in mánibus suis. (Sal75).

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