26 de junho de 2015

A Esmola - Padre André Beltrami.

CAPITULO XI

QUE E' O POBRE ? E' A PESSOA
 DE JESUS SOFREDOR


Jesus habita na terra oculto sob os véus eucarísticos e sob os andrajos do pobre; no santo Tabernáculo e no pardieiro do mendigo. E é por isso que muitos santos serviam aos pobres, de joelhos, com a cabeça descoberta, com a reverência com que se costuma servir a um rei. Apenas Jesus declarou feito a si o que se faz ao próximo, viram-se os soberbos senadores romanos e os sábios do areópago, que antes consideravam os escravos como animais, abraçá-los como irmãos e pô-los em liberdade, maravilhando com isso os pagãos. Quantas vezes Jesus Cristo apareceu andrajoso ou enfermo para ser socorrido por seus eleitos!

Santa Isabel, duquesa de Turíngia, filha do rei da Hungria, foi a heroína de caridade que edificou o século XIII. Dava aos pobres quanto podia, mantendo grande número deles em palácio e servindo-os á mesa, com grande humildade. Abaixava-se para lavar os seus pés, curar as suas chagas, beijando-os com afeto e reverência. Andava pelas casas a visitar os enfermos, a levar-lhes alimento e remédios; e encontrando crianças abandonadas, Isabel levava-as para sua casa, as lavava e penteava como se fossem filhos seus. Subjugara de tal modo a natureza que sentia até prazer no exercício daquela caridade e quereria passar os seus dias entre os pobres e doentes. Os cortesãos e principalmente a sogra murmuravam e desaprovavam abertamente o procedimento da santa, dizendo que desonrava a dignidade ducal, e que não sabia manter o decoro de sua alta posição. Mas a Isabel pouco se lhe davam tais murmurações; e continuava a fazer obras de misericórdia. Deus interveio com muitos milagres a aprovar o seu procedimento. Em um dia de cruel inverno, descia do castelo em companhia de uma donzela, com abundante recurso que ia distribuir aos pobres. De caminho encontrou o marido, que voltava da caça; aquele senhor, digno de ser esposo de uma santa, quis ver o que ela levava no avental. Isabel o abriu  para mostrar lhe o trigo que ia distribuir aos pobres; e com indescritível maravilha o achou convertido em belíssimas rosas de variegadas cores. Nutria grande amor para com os pobres leprosos, tão numerosos na Idade Média, lembrando-se de que Jesus foi descrito pelo Profeta Isaías como um homem coberto de chagas da cabeça aos pés, á guisa de leproso. Certo dia, acolheu um no palácio e o pôs na sua mesma cama para limpá-lo e curá-lo. A sogra ficou indignada; e correu a chamar o filho para mostrar-lhe o que Isabel estava fazendo . Vão ao leito, abrem o cortinado e invés do leproso, dão com Jesus Cristo pregado na cruz.

S. Francisco, logo após a sua conversão, percorria a cavalo a planície de Assiz, quando encontrou um leproso. Desceu logo do cavalo, abraçou o doente com ternura e deu-lhe uma esmola. Montando a cavalo, voltou-se para o saudar; mas não viu ninguém. Compreendeu, então,que Jesus lhe aparecera sob aquela forma para ser honrado e socorrido por ele; e daí por diante concebeu um amor terníssimo para com esses infelizes, ao ponto de entrar nos leprosários para lhes prestar os mais humildes serviços.

S. João, o esmoler, tendo dado muitas vezes bela soma de dinheiro a um indivíduo que mudava sempre a roupa e o nome, fingindo ser grande necessitado, ainda depois de perceber isso, continuou a fazer-lhe caridade. Avisado dessa fraude, disse ao secretário: - «Dá-lhe o dinheiro pedido, pois pode ser que Jesus Cristo queira experimentar a tua caridade». Na vida de Tobaldo, conde de Chartres, narra-se um fato assaz curioso. Viajando, um dia, acompanhado de muitos amigos no coração de rígido inverno, encontrou um pobre seminu. Tobaldo, liberalíssimo corno era, perguntou:                   - Que desejas?
- Dai-me, respondeu o pobre, o vosso manto. Deu-lho o conde, dizendo:
-.Se queres, pede mais alguma coisa.
-Dai-me o hábito que tendes sobre a túnica. Foi-lhe dado. Vendo tanta generosidade,
o pobre ousou replicar:
- Bem vedes, sr. conde, que tenho a cabeça nua ... dai-me, pois, o chapéu porque podereis logo arranjar outro, enquanto que eu não tenho dinheiro. O conde, que era calvo, não gostou do pedido, e:
-Caro filho, disse, és demasiado importuno e não posso satisfazer-te. Então o pobre desapareceu, deixando tudo sobre a neve. O conde apeou incontinenti, ajoelhou-se, pedindo a Deus perdão por aquela recusa e prometeu não mais negar no futuro qualquer coisa que lhe pedissem os pobres.

Apareceu um dia a S. Gregório Magno, quando ainda abade do mosteiro, um Anjo, disfarçado em comerciante que, devido a um naufrágio, perdera toda a sua mercadoria; pelo que, vinha lhe pedir algum recurso. Gregório deu-lhe seis escudos; mas o comerciante observou-lhe que era pouco; o abade deu-lhe outros seis escudos. Alguns dias depois, volta o mesmo negociante todo aflito a pedir-lhe novo auxilio, alegando a sua extrema miséria. Como Gregório encontrasse vazia a bolsa do mosteiro, mandou que lhe dessem uma bandeja de prata que Silvia, sua santa mãe, lhe mandara aquela manhã.
Elevado ao sólio pontifício, ordenou certa vez a um seu capelão, que chamasse à sua mesa doze pobres, em honra dos doze apóstolos; durante a refeição notou que eram treze. Perguntou ao capelão, porque chamara mais de doze; ele protestou que não tinha convidado sinão doze. Mas Gregório via treze e suspeitando de algum  mistério fixou atentamente o olhar sobre o décimo terceiro; notou que mudava de semblante, parecendo ora moço, ora velho. Terminada a refeição, chamou-o à parte e o conjurou a dizer-lhe quem era:
-«Eu sou aquele comerciante arruinado pelo naufrágio, a quem vos destes doze escudos de esmola e a bandeja de prata, presente de vossa mãe. Sabei que por vossa caridade quis Deus que fosseis o sucessor de S. Pedro.
-Como sabes isto? continuou S. Gregório.
-Eu sou um Anjo mandado por Deus para vos experimentar.
Prostrou-se o santo com grande reverência e exclamou:
- Se por uma coisa tão pequena Deus me fez Pastor universal de sua Igreja, quantos benefícios ainda maiores posso esperar d'Ele, se O servir com grande afeto na pessoa dos pobres!
Com isso, aumentou muito a sua liberalidade para com os necessitados.
Um dia, querendo servir com suas próprias mãos a um pobre, este desapareceu. A' noite, apareceu-lhe em sonho Jesus Cristo e lhe disse.
-« Outras vezes me tens recebido nos meus membros; ontem, porém, me recebeste em minha própria pessoa».

O venerável Monsenhor De Palatox,  toda quinta-feira dava jantar a doze pobres. Lendo a vida de S. Martinho, notou que o santo lavava os pés aos pobres e lhes servia a comida; e logo se propôs a fazer o mesmo. Cumpriu à risca a promessa.
Se todos os ricos vissem a Jesus nos pobres, portiariam em socorrê-los e a terra não seria mais um vale de lágrimas e de dores. Queira Nosso Senhor iluminá-los com a  sua santa graça e fazê-los compreender esta verdade que, praticada, torná-los-á felizes no tempo e na eternidade. (1)

(1) Merece lembrada a sentença que tinha sempre na boca S. José Cottolengo: - " São os pobres que nos hão de abrir as portas do Paraíso ".

Nenhum comentário:

Postar um comentário