POR QUE SE INSISTE TANTO SOBRE A COMUNHÃO FREQUENTE
D. — Padre, queira dizer-me por que se insiste tanto sobre a comunhão frequente?
M. — Porque a Comunhão (como já foi dito mais atrás) é a aspiração mais veemente do Coração divino e porque a comunhão é também o melhor meio para obtermos a salvação. Assim como Deus pela sua providência misericordiosa, sustenta todas as criaturas para que não pereçam de fome, do mesmo modo Jesus Cristo quer alimentar todas as almas por meio da Eucaristia.
A Comunhão verdadeiramente é alimento; ora se é alimento deve ser comido: a coisa é claríssima.
São Boaventura diz que "o alimento que não serve para ser comido não tem razão de existência" ou em outras palavras é um alimento inútil. Por esta razão é que, gracejando, dizia um Bispo: "A Eucaristia é pão; o pão é para ser comido e não para ser exposto".
D. — Verdadeiramente é assim Padre. Muitas vezes ouvi dizer que Jesus Cristo logo após ter instituído a Eucaristia, distribuiu-A aos discípulos para que a comessem, dizendo Tomai e comei.
M. — E não somente isso. Jesus fez ainda mais, pois querendo perpetuar seu Corpo como alimento para as almas, ordenou aos discípulos que repetissem o mesmo prodígio, fazendo corno o tinham visto fazer.
Além disso, é preciso notar que Jesus Cristo, entre todos os alimentos escolheu de preferência o pão pela simples razão de que o pão serve somente para alimento. Pela mesma razão devemos concluir que o alimento eucarístico deve ser comido, pois do contrário não poderá produzir os efeitos que o Senhor teve em vista quando instituiu tão grande Sacramento.
M. — Perfeitamente. Assim como Jesus Cristo instituiu o Batismo para lavar a mancha original das almas e, por conseguinte é necessário derramar a água sem que ninguém pense em bebê-la, da mesma forma Jesus Cristo instituiu a Eucaristia para que servisse de alimento e unicamente comendo-a se poderá obter os frutos inerentes a esse sacramento admirável.
D. — Com isso, quer dizer o senhor que a Igreja age mal conservando a Eucaristia nos Sacrários e expondo-a aos fiéis?
M. — Absolutamente não. Deus tem pleno direito à nossa adoração, sendo por isso coisa muito santa e muito útil conservar e adorar a Santíssima Eucaristia; porém, repito, não pretendamos conseguir os efeitos da Eucaristia unicamente por meio dessas adorações. Assim como não conseguiria os efeitos do Batismo aquele que passasse a vida toda diante do Batistério igualmente tão pouco usufruiria os frutos da Sagrada Comunhão quem passasse toda a vida ao redor do altar adorando a Eucaristia sem recebê-la.
D. — Será por isso, Padre, que apesar de tantas devoções à Eucaristia, não se obtém quase nenhum fruto prático?
M. — Infelizmente é assim. Constroem-se suntuosas Igrejas, altares, sacrários, organizam-se soleníssimas procissões eucarísticas, grandiosas procissões ou congressos, e o fruto prático é quase nulo... Por quê? Porque Jesus Cristo não disse: “Tomai e adorai”, mas sim, "Tomai e comei".
Não excluiu nossos obséquios de adoração, porém deu a entender categoricamente que se quisermos conseguir o fim primordial da Eucaristia, é preciso que a comamos, isto é, que comunguemos.
Se quisermos conseguir o fim primordial da Eucaristia, é preciso que a comamos, isto é, que comunguemos.
D. — Por conseguinte, nossos obséquios não lhe serão agradáveis quando não forem acompanhados pelo desejo e vontade firme de recebê-lo em nossos corações?
M. — De certo que não lhe serão agradáveis e nem O podem agradar.
Suponha que uma mãe, a custa de grandes sacrifícios tivesse preparado um remédio muito bom para sarar seu filhinho e livrá-lo da morte; mas quando ela fosse dar o remédio ao filhinho, esse se desmanchasse em beijos e carícias para com ela, negando-se, todavia a tomar o remédio e, por conseguinte permanecendo sempre em perigo de morte... Que diria essa mãe? Qual não seriam suas queixas e sua grande dor?
D. — Padre, com Jesus acontecerá o mesmo, quando nos obstinamos em não querer recebê-lo?
M. — Sim, o mesmo.
São Francisco de Sales diz que "o Senhor nunca está tão bem servido como quando é servido a seu gosto e como Ele quer ser servido". Ora na Eucaristia Ele quer ser servido assim: quer que o comamos, isto é, que comunguemos. Eis o seu desejo.
D. — Qual será a frequência com que nos devemos alimentar desse manjar celestial, isto é, quantas vezes devemos comungar?
M. — O alimento eucarístico está sujeito as mesmas leis que regulam o alimento material, ou seja, a comida. Para sustentar o corpo nós todos os dias havemos de fazer uma refeição principal assim também devemos fazer uma refeição principal para sustentar a alma, isto é, devemos comungar.
Assim nos ensinou e nos faz pedir todos os dias Jesus no Padre-Nosso: "O pão nosso de cada dia nos dai hoje". Que diríamos, nós, se um pobre nos pedisse pão e depois o jogasse fora?
D. — Diríamos que não merece receber mais nada.
M. — Pois bem, tão pouco merece que se lhe dê mais, quem despreza e se descuida em receber a Comunhão.
D. — Mas, Padre, se Jesus Cristo tanto deseja e quer que O recebamos frequentemente na Santa Comunhão, por que não fez um mandamento expresso para isso?
M. — Ouça, meu querido discípulo. Jesus Cristo poderia ter feito um mandamento expresso sobre a Comunhão cotidiana, entretanto, na sua tolerância infinita em suportar nossas misérias, não o fez. Pois Ele sabia que para muitas almas seria dificílima a Comunhão cotidiana.
Muitos doentes devido à enfermidade estariam impossibilitados; outros por causa da distância não teriam tempo nem comodidade para isso. Pense só nas mães de família, nos lavradores do campo, nos empregados, como poderiam observar esse preceito?
Todavia estejamos convencidos de que para assegurar os efeitos salutares da sagrada Comunhão é absolutamente necessário usá-la da mesma forma como foi instituída, isto é, não somente recebê-la de quando em quando, mas sim recebê-la de modo adequado e normal.
D. — Para viver, bastaria comer algumas vezes na semana, e contudo comemos todos os dias, não é, Padre?
M. — Perfeitamente. Em relação à Comunhão devemos fazer o mesmo.
Só assim agradaremos a Jesus Cristo que tanto deseja isso, e daremos à nossa alma o que há de melhor, proporcionando-lhe os admiráveis efeitos deste augusto sacramento por meio da Comunhão frequente e bem feita.
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