29 de outubro de 2014

Sermão para a Festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei – Padre Daniel Pinheiro

[Sermão] O remédio é o reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo

Aviso dado pelo Padre antes da Missa: Se houver reeleição da candidata à presidência, não deve haver desespero. Se houver a eleição do candidato, não se deve achar que tudo está resolvido. Em ambas as hipóteses, será preciso continuar o árduo combate pelo reino de Cristo sobre a sociedade e sobre nossas famílias.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Que os governantes das nações vos honrem publicamente, que os magistrados e juízes vos reverenciem, que as leis e as artes exprimam vossa realeza.” (Hino de Vésperas)
A Festa de Cristo Rei, caros católicos, foi instituída por Pio XI no ano santo de 1925 pela Encíclica Quas Primas. No calendário tradicional, ela se celebra no último domingo de outubro e não no último domingo do ano litúrgico, para deixar claro que Nosso Senhor não é Rei somente no final dos tempos ou na sua última vinda, mas que Ele é Rei desde já, aqui e agora. Antes da instituição da Festa de Cristo rei, havia festas em que o reinado e a realeza de Nosso Senhor eram relembrados – Epifania, Domingo de Ramos –  mas não de forma explícita e direta. O Papa Pio XI quis, então, criar a Festa de Cristo Rei, em que o reinado de Cristo é explicitamente e diretamente reconhecido, confessado e honrado.
Pio XI, na Encíclica Quas Primas deixa muito claro o motivo da instituição da Festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei. Diz o Papa:
“Para Nós também soou a hora de provermos às necessidades dos tempos presentes e de opormos um remédio eficaz à peste que corrói a sociedade humana. Fazê-mo-lo, prescrevendo ao universo católico o culto de Cristo-Rei. Peste de nossos tempos é o chamado “laicismo”, com seus erros e atentados criminosos. Como bem sabeis, Veneráveis Irmãos, não é num dia que esta praga chegou à sua plena maturação; há muito, estava latente nos estados modernos. Começou-se, primeiro, a negar a soberania de Cristo sobre todas as nações; negou-se, portanto, à Igreja o direito de doutrinar o gênero humano, de legislar e reger os povos em ordem à eterna bem-aventurança. Aos poucos, foi equiparada a religião de Cristo aos falsos cultos e indecorosamente rebaixada ao mesmo nível. Sujeitaram-na, em seguida, à autoridade civil, entregando-a, por assim dizer, ao capricho de príncipes e governos. Houve até quem pretendesse substituir à religião de Cristo um simples sentimento de religiosidade natural. Certos estados, por fim, julgaram poder dispensar-se do próprio Deus e fizeram consistir sua religião na irreligião e no esquecimento consciente e voluntário de Deus.”
O Papa enumera, em seguida, os frutos trágicos dessa apostasia dos indivíduos e dos estados. Alguns desses frutos são os germes de ódio esparsos por toda parte, as invejas e rivalidades entre nações. Frutos desta apostasia são as ambições desenfreadas, que muitas vezes se encobrem com a máscara do interesse público e do amor da pátria, e suas tristes consequências: dissensões civis, egoísmo cego e desmedido, sem outro objetivo nem outra regra mais que vantagens pessoais e proveitos particulares. Fruto desta apostasia é a perturbação da paz doméstica, pelo esquecimento e desleixo das obrigações familiares, o enfraquecimento da união e estabilidade no seio das famílias, e por fim o abalo na sociedade toda, que ameaça ruir.
Dizia isso o Papa em 1925. Quase um século depois, vemos muito concretamente todos esses frutos lamentáveis e muitos outros que talvez o Santo Padre nem tenha imaginado. Ao mal do laicismo deve-se opor, então, o reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo. Cristo é Rei não somente dos indivíduos, mas também das sociedades, das nações, dos estados.
Ele é Rei porque é Deus. Mas Ele é Rei também enquanto homem, em virtude da união hipostática com o Verbo e porque lhe foi dado pelo Pai todo poder no céu e na terra. Ele é Rei também por direito de aquisição, por ter derramado seu sangue na cruz e nos ter redimido. O Reinado de Cristo não é um reinado meramente individual, mas é um reinado social igualmente.
Toda criatura deve se submeter ao criador, ou seja, a Deus, a Nosso Senhor Jesus Cristo. A sociedade civil, o estado, é também uma criatura, saída das mãos de Deus. Deus criou o homem como um animal social, como um ser que precisa viver em sociedade para prover com perfeição às suas necessidades. Assim, ao criar o homem, Deus criou também a sociedade. Como toda criatura o estado deve reconhecer o soberano domínio de Deus e se submeter ao soberano domínio de Deus, de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O estado se submete à realeza de Cristo quando os governantes honram publicamente Nosso Senhor Jesus Cristo, quando os magistrados e juízes o reverenciam, quando as leis e as artes exprimem a realeza de Cristo e se conformam às leis da Igreja, quando a verdadeira Igreja de Cristo, a Igreja católica, é reconhecida como tal.
Como nos diz Leão XIII, quando um organismo se corrompe e perece é porque ele deixou de estar sob o efeito das causas que lhe deram forma e constituição. Para fazer esse organismo saudável e florescente de novo, é necessário colocá-lo sob a influência vivificante das mesmas causas de antes. A sociedade, no seu esforço de escapar de Deus, rejeitou a ordem sobrenatural e a Revelação divina, rejeitou a Igreja. A sociedade colocou-se fora da influência do cristianismo, que é manifestamente a mais sólida garantia de ordem, o mais forte vínculo fraterno entre as pessoas, a fonte inesgotável de toda virtude, pública e privada. Ainda segundo Leão XIII, esse sacrílego divórcio – entre o Estado e a Igreja – trouxe ao mundo os problemas que agora o perturbam. Assim, é sob a órbita da Igreja que essa sociedade perdida deve entrar se ela deseja possuir novamente o seu bem, o seu repouso e a sua salvação.
Igreja e estado devem estar unidos sem se confundirem. Devem ser distintos sem separação. Quando se toca à salvação das almas, é a Igreja que tem a palavra e o estado deve se submeter a ela e às suas leis.
O remédio para a sociedade não é o simples antiesquerdismo, nem o simples antiliberalismo, tampouco a simples monarquia – que no Brasil, aliás, nunca brilhou por sua catolicidade exemplar enquanto existiu. A verdadeira solução é o reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo, que penetra a sociedade e todas as suas instituições realmente com os princípios católicos. O paganismo da antiguidade – e que já revive em nossos tempos com matizes ainda piores – não foi extirpado por uma doutrina humana, nem por um monarca, mas pela Igreja e pela submissão paulatina da sociedade a Cristo Rei e à sua Igreja.
E esse reinado de Cristo deve começar na nossa alma pelo fato de vivermos na graça divina. Ele deve começar pelas famílias, com o Sagrado Coração entronizado nos lares não só em uma cerimônia, mas efetivamente. Que as famílias tenham Jesus Cristo como o rei do lar e se submetam ao seu jugo suave e leve.
 A festa de Cristo Rei deve nos dar, caros católicos, a mais viva esperança de acelerarmos a tão desejada volta da humanidade a seu Salvador amantíssimo. Devemos fazer também a nossa parte. A Festa de Cristo Rei é, pelas circunstâncias atuais de nossa sociedade, das mais importantes em nossos tempos, caros católicos, e por isso a celebramos com grande solenidade e devoção, para reconhecermos o reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo e para o buscarmos em nossas vidas, em nossas famílias e nos ambientes em que vivemos. O Reinado social não será restaurado de uma hora para outra. Ele virá pela nossa conversão a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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