[Sermão] O coração doloroso de Nossa Senhora
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria.
Gostaria de saudar o Eminentíssimo Cardeal Dom José Freire Falcão, e de lhe agradecer, Eminência, por sua bondade para conosco e grande ajuda, desde que começamos esse apostolado. É uma honra e grande alegria sua presença entre nós aqui na Festa de Nossa Senhora das Dores, nossa Padroeira.
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“Fazei que arda o meu coração no amor de Cristo Deus.”
Caros católicos, quando falamos das Dores de Nossa Senhora, o que mais comumente nos vem à imaginação é o coração de Maria, transpassado pela espada ou por sete espadas, que resumem, em sete episódios da vida de Nossa Senhora, todas as suas dores. Sete espadas. A primeira espada é a profecia do velho Simeão, que diz precisamente que uma espada transpassará a alma dela. Essa dor compreende os trinta e três anos da vida de Cristo. A segunda espada é a fuga para o Egito e a terceira, a perda do Menino Jesus no templo. Essas segunda e terceira espadas se referem à infância de Nosso Senhor Jesus Cristo. A quarta espada é o encontro entre Maria Santíssima e seu Filho no caminho da cruz, enquanto a quinta é a crucificação de Jesus Cristo. Quarta e quinta espadas se referem à Paixão de Cristo. A sexta espada é a descida de Cristo da Cruz, enquanto a sétima é a sepultura de Nosso Senhor. Essas duas últimas espadas se referem a Cristo já morto.
Vemos, então, a Virgem Dolorosa, com seu coração transpassado pela espada. Vemos o coração, que significa o amor de Maria Santíssima. Coração que significa o amor de Maria Santíssima pela Santíssima Trindade e por seu Filho, o Verbo Encarnado. O coração de Nossa Senhora ardia tanto de amor por Deus que Ele se dignou encarnar nela. E ela aceitou plenamente a vontade de Deus. Junto com a Maternidade Divina, Nossa Senhora aceitou de bom grado todas as dores e sofrimentos que havia de passar enquanto Mãe de Jesus Cristo. Nossa Senhora ardia de amor por Deus, sempre pronta a agir segundo a palavra divina, segundo a vontade divina. Esse coração é a caridade de Nossa Senhora com relação a Deus. Mas esse coração é também seu amor por nós, pobres pecadores. Nossa Senhora tinha, basicamente, dois objetivos em sua vida: a glória de Deus e a salvação da alma dos homens, nós. A caridade fraterna também ardia na alma de Maria. Ela nos amava por amor a Deus, para nos levar para Deus, para o céu. O coração doloroso de Maria é um coração de amor a Deus e de amor aos homens.
Mas vemos esse coração transpassado pela espada. São as dores, os sofrimentos, as cruzes. Nossa Senhora amou e sofreu. Ela era imaculada, concebida sem pecado, e sem pecado durante toda a sua vida. Mas ela sofreu por amor a Deus e por amor a nós. Ela sofreu para se associar à obra da redenção operada por seu Filho. Ela sofreu não para expiar pelos próprios pecados, já que não [os] tinha, mas para cooperar com seu Filho na nossa salvação. Maria sofreu no seu corpo e na sua alma. Sofreu tanto que mereceu receber a palma do martírio, embora não tenha morrido como tal. Mais, ela é a Rainha dos Mártires.
Portanto, nós vemos no coração de Maria amor e sofrimento, coração com espada. Amar e sofrer é o resumo de nossa santa religião, caros católicos. Amar a Deus, amar a verdade, amar o bem, amar a virtude, e sofrer por Deus, pela verdade, pelo bem, pela virtude. Falamos ontem, na Festa da Exaltação da Santa Cruz, da Cruz. E hoje falamos novamente. Nosso Senhor veio ao mundo, como Ele mesmo o diz, para dar testemunho da Verdade, para falar do Pai. E, por causa disso, sofre até chegar à morte mais injusta e ultrajante. Maria Santíssima quer conhecer, amar e servir a Deus. Ela sofre também. Se Nosso Senhor, que era, além de homem, Deus, sem a menor sombra de pecado, e se Nossa Senhora, que também não tinha nenhum pecado sofreram, quanto mais nós, caros católicos, teremos de sofrer. Nossa religião não consiste em fugir da realidade, em criar um mundo de sonho. Ela consiste em amar e sofrer.
Todavia, no coração doloroso de Maria nós vemos também flores, rosas. Maria ama e sofre, mas com serenidade. No meio dos espinhos e das espadas, estão também as flores. Diante da Cruz, nos diz a Sagrada Escritura e repetidas vezes a liturgia de hoje, Nossa Senhora estava de pé. Stabat Mater.Lacrimosa e cheia de dores, mas sem desespero, com serenidade diante da vontade de Deus. Essas rosas, essas flores, são as graças que Deus nos dá para suportarmos os sofrimentos. Amar e sofrer com serenidade, apoiados na graça de Deus. Eis o que deve ser nosso plano de vida aqui nesse mundo, para podermos chegar ao céu.
Como nos diz a oração após a Ladainha de Nossa Senhora das Dores: que nós possamos ler nas feridas, nas dores de Maria, a dor e o amor. A dor, para suportar por Ela, toda dor. O Amor para desprezar, por Maria, todo amor desordenado às coisas desse mundo. Amar e sofrer com serenidade e alegria, eis o programa de vida católica que nos dá Nossa Senhora das Dores. Virgem Dolorosa, rogai por nós.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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