MEDITAÇÃO XIV
Para a 6.ª feira santa
Jesus morto pendente da cruz
1. Minha alma, levanta os olhos e contempla aquele
crucificado. Contempla o Cordeiro divino já sacrificado sobre o altar da
dor. Reflete que ele é o Filho dileto do eterno Pai e que morreu pelo amor
que te consagrou. Vê como tem os braços estendidos para
abraçar-te, a cabeça inclinada para dar-te o ósculo da paz, o lado aberto
para receber-te no seu coração. Que dizes? Merece ou não ser amado um
Deus tão amoroso? Ouve o que ele te diz daquela cruz: Vê,
filho, se existe no mundo quem tenha te amado mais do que eu. Não, meu
Deus, não há no mundo quem tenha te amado mais do que eu.
Não,
meu Deus, não há no mundo quem me tenha amado mais do que vós. Mas que poderei dar em retorno a um Deus que quis
morrer por mim? Que amor de uma criatura poderá jamais compensar o amor
de
seu criador morto para conquistar o seu amor?
2. Ó Deus, se o mais vil dos homens tivesse sofrido por mim
o que sofreu Jesus Cristo, poderia deixar de amá-lo? Se eu
visse um homem dilacerado pelos açoites, pregado numa cruz para
salvar-me a vida, poderia lembrar-me disso sem me abrasar em amor? E
se me fosse apresentado o seu retrato expirando na cruz poderia
contemplá-lo com indiferentismo, pensando: Este homem morreu assim
atormentado por meu amor e, se não me houvesse amado tanto, não teria morrido dessa maneira? Ah, meu Redentor, ó amor de
minha alma, como poderei esquecer-me mais de vós? Como poderei pensar
que os meus pecados vos reduziram a um tal estado e não
chorar sempre as injúrias feitas à vossa bondade? Como poderei vos
ver morto de dor sobre essa cruz por meu amor e não vos amar com
todas as minhas forças?
3. Meu caro Redentor, bem reconheço nessas vossas chagas e membros dilacerados outras tantas provas do terno amor que
me consagrais. Já, pois, que para me perdoar não perdoastes a
vós, olhai-me com aquele mesmo amor com que me olhastes uma vez da
cruz, na qual morríeis por meu amor; iluminai-me e atraí para vós
todo o meu coração, para que de hoje em diante eu nada mais ame
fora de vós. Não per mitais que eu me esqueça de vossa mor te. Vós prometestes que, levantado na cruz, haveríeis de atrair os
nossos corações. Eis aqui o meu coração, que, enternecido com a
vossa morte e enamorado de vós, não quer resistir mais ao vosso
chamamento: ah, atraí-o todo e tornai-o todo vosso! Vós morrestes por
mim e eu desejo morrer por vós e, continuando a viver, só para
vós quero viver. Ó dores de Jesus, ó ignomínias de Jesus, ó morte de
Jesus, ó amor de Jesus, fixai-vos no meu coração e aí fique sempre a
vossa memória a ferir-me continuamente e a inflamar-me em amor. Eu
vos amo, bondade infinita, eu vos amo, amor infinito, vós sois e
sereis sempre o meu único amor. Ó Maria, Mãe do amor, obtende-me o santo amor.
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