3 de junho de 2012

Tesouro de Exemplos - Parte 111

DESFILE DE PRESOS

Narram as crônicas do tempo que um vice-rei de Nápoles foi certo dia visitar uma prisão. Ordenou que num grande pátio formassem todos os presos. Momentos após ali estavam alinhados, como soldados, todos os reclusos daquele presídio. Que tipos! que caras! que olhares! que atitudes! Sómente ver aquela gente impressionava. Quase todos levavam na fronte a marca dos crimes cometidos.
Apresentou-se o prudente e discreto vice-rei e começou a passá-los em revista. Um após, outro todos tinham que desfilar diante dêle.
Passou o primeiro prêso.
- Por que estás aqui? - perguntou o vice-rei.
- Senhor - respondeu o presidiário - por nada, por uma calúnia.
Passou o segundo.
- E tu, por que estás aqui? Que crime cometeste?
- Eu, crime?... Não cometi crime nenhum.
Passou o terceiro.
- Vamos ver se encontro algum criminoso. Dize: Tu por que estás aqui?
- Eu, senhor, porque me trouxeram, pois não fiz mal a ninguém.
E assim passaram quatro, vinte, cinqüenta. Todos eram bons, inocentes. Cada um dizia mais ou menos o mesmo: não matei, não roubei, não desonrei, não fiz mal a ninguém. Estavam presos apesar de serem todos bons e virtuosos. A justiça humana era a única culpada.
Aconteceu, porém, passar um prêso que respondeu de maneira diferente de todos os outros. Era um môço. Manifestava nas faces a vergonha que lhe causava o achar-se naquele lugar. Apresentou-se diante do vice-rei, que lhe perguntou como aos demais:
- Por que estás aqui? Que crime cometeste?
- Senhor, respondeu o infeliz, baixando a cabeça; senhor, tenho cometido muitos. Estou onde devo estar. A justiça humana teve razão de me condenar; espero que me salve a misericórdia divina.
E, após êle, foram desfilando todos os restantes; todos uns verdadeiros santos, pois não tinham derramado nem uma gota de sangue.
Terminou o desfile. O vice-rei chamou aquêle que havia confessado seus crimes, e disse:
- Amigo, pelo que vejo tu és o único mau, e os outros são bons. Para não contaminares êles... sai depressa, vai para a rua!
E, voltando-se para os outros, acrescentou:
- Vós, porém, continuai aqui. Na rua há muitos pecadores e não convém que êles tornem a perder-vos com seus maus exemplos.

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