20 de junho de 2012

Tesouro de Exemplos - Parte 128

OLHAI PARA O ALTO

S. Afonso, um dos homens mais santos e sábios, gostava de recordar o fato seguinte.
Caminhavam por montes e vales uns homens ricos e amigos dos prazeres. Eram caçadores? Não sabemos; o certo é que se internaram pela floresta adentro e no meio dela, entre as árvores frondosas, encontraram uma choupana. Aproximaram-se e dentro dela viram um anacoreta, cujo rosto era o retrato duma alma que gozava de paz.
- Irmão - perguntaram aquêles senhores - que fazes aqui?
- Irmãos - resondeu o ermitão - vim procurar a felicidade.
- A felicidade? Nós gozamos da abundância das riquezas; corremos de diversão em diversão e, contudo, não pudemos achar a felicidade; e tu a procuraste aqui?
- Aqui a procurei e aqui a encontrei.
- Encontraste mesmo a felicidade?
- Sim; olhai por esta janelinha da minha choupana. Por aí se vê a minha felicidade.
Os caçadores precipitaram-se para a janelinha e olham ansiosos. Em seguida, mal-humorados, dizem:
- Irmão, enganaste-nos como um velhaco.
- Nunca, nunca - replicou o santo solitário; é porque não olhastes bem; tornai a olhar. Garanto que por aí se vê a minha felicidade.
Segunda vez chegam-se os homens à janelinha, olham por todos os lados e, agastados, dizem:
- Irmão, pela segunda vez nos enganaste. És um impostor.
E o solitário, com aquêle ar de paz que nunca o abandonava, responde:
- Irmãos, não olhais bem. Asseguro-vos que não vos engano: olhai melhor, pois garanto que daí se vê a minha felicidade.
Os homens, desejosos de descobrir a felicidade, olham, tornam a olhar para baixo, para cima, para os lados... e por fim dizem:
- Irmão, não nos enganes mais. Por aqui não se vê nada; apenas e um pedacinho do céu...
- Isso, isso (exclamou radiante da alegria o ermitão), isso, isso. Aí está a minha felicidade. Quando tenho algum sofrimento, quando a dor me atormenta, contemplo êsse pedacinho de céu e digo a mim mesmo: Tudo passa; dentro em pouco estarei no céu. A alegria enche a minha alma...
Êsse solitário era S. Antão. Fôra para o deserto em busca da felicidade. Passou os longos anos de sua vida em orações e penitências. Olhava para o alto e via um pedacinho do céu! Teve lutas terríveis com o espírito do mal; não via o fim daquela guerra; mas olhava para o alto, e via um pedacinho do céu!
Sofreu fome, calor, sêde; a carne pedia comodidade, o cilício atormentava-o, molestava-o a pobreza do hábito... Olhava para o alto e via um pedacinho do céu!
Passaram-se os dias e passaram-se os anos. Olhava sempre para o alto, e o pedacinho do céu parecia-lhe cada vez mais próximo, cada vez maior. Afinal, um dia não vê mais a terra, não vê mais o deserto. Ante seus olhos surgia uma cidade fantástica. Aquilo era a terra da promissão, era a pátria de Deus, era o que tantas vêzes vira de longe: o céu! o céu!
E a alma de S. Antão, que vivera para Deus, para a oração, para a penitência, para a santidade, para o céu, entrava gloriosa no paraíso...

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