8 de fevereiro de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

II 

Esta cena misteriosa não é mais do que uma aplicação particular da lei divina que vos indiquei no princípio desta palestra: é preciso que Jesus Cristo seja glorificado, uma vez que por nós sofreu a humilhação. Jesus abaixa-se até se confundir com os pecadores, e eis que logo o céu se abre para O exaltar; solicita um batismo de penitência, de reconciliação, e eis que o Espírito de amor testemunha que repousa em Jesus com a plenitude dos Seus dons de graça; reconhece-se merecedor dos golpes da justiça divina, e eis que o Pai O proclama o objeto de todas as suas complacências: Humiliavit semetipsum ... propter quod et Deus exaltavit illum. 
Esta solene glorificação de Jesus Cristo não interessa somente à Sua pessoa; tem um alcance muito extenso, que quero pôr em relevo.
 É nesse momento que a missão de Jesus, como enviado de Deus, é declarada autêntica: o testemunho do Pai acredita, para assim dizer, o Seu Filho junto do mundo e liga-se, por este lado, a um dos caracteres da obra de Jesus Cristo a nosso respeito.
 De fato, devemos notar que a missão de Jesus reveste um duplo aspecto: tem, ao mesmo tempo, o carácter duma redenção e duma santificação; resgatar as almas e depois infundir-lhes a vida, eis toda a obra do Salvador. Estes dois elementos são inseparáveis, mas distintos.
 Achamo-los em germe nas circunstâncias que assinalam o batismo de Jesus Cristo, prelúdio da Sua vida pública. 
Já vimos de que modo, ao apresentar-se para receber o batismo de penitência, o verbo Incarnado afirma a Sua qualidade de Redentor; deve consumar a Sua obra pelo dom da Sua vida divina, que nos confere em virtude dos merecimentos da Sua Paixão e Morte: Unigenitum misit Deus in mundum ut vivamus per eum. Deus deu-nos o Seu Filho para que aqueles que nele crêem tenham a vida: «Ut omnis, qui credit in ipsum, NON PEREAT, sed HABET VITAM aeternam .
 A fonte da vida eterna é em nós uma luz.
 No Céu é a luz da visão beatifica. Nesta luz, vivemos da própria vida de Deus: Quoniam apud te est fons vitae: et in lumine tuo videbimus lumen. 
Neste mundo, a fonte da nossa vida sobrenatural é igualmente uma luz, a luz da fé. A fé é uma participação do conhecimento que Deus tem de Si mesmo. Esta participação é comunicada à alma pelo Verbo Incarnado; torna-se para nós uma luz que nos guia em todos os nossos caminhos, e é por isso que deve vivificar toda a nossa atividade sobrenatural: Justus meus ex fide vivit.
 Ora o fundamento desta fé é o testemunho que Deus dá do Seu Filho Jesus: <
 Jesus Cristo é apresentado solenemente ao mundo como o enviado do Pai. Tudo o que nos disser será o eco dessa verdade eterna que Ele contempla sempre no seio do Pai: Unigenitus Filius, que est in sinu Patris, ipse enarravit. «A Sua doutrina não será Sua, mas do Pai que O envia». Repetirá tudo quanto ouviu, e assim é que Jesus, no último dia, poderá dizer ao Pai: << Pai, cumpri a obra que me confiaste; dei-te a conhecer ao mundo».
 As palavras do Verbo Incarnado não produziram em todas as almas a luz que deve ser para elas o principio da salvação e da vida. Ele é, sem dúvida, «a luz do mundo»; mas é preciso segui-la, se não quisermos andar nas trevas e quisermos alcançar essa luz eterna que é a fonte da nossa vida no céu»: Qui sequitur me, non ambulat in tenebris, sed habebit lumen vitae; só são aceites a Deus aqueles que recebem o Seu Filho. 
Para ouvir com fruto a palavra de Jesus Cristo, é preciso ser atraído pelo Pai: Omne quod dat mihi Pater, ad me veniet; aqueles que não são atraídos pelo Pai não ouvem a voz do Verbo: Vos non auditis, quia ex Deo non estis. E quem são os que são atraídos pelo Pai? Os que reconhecem em Jesus o próprio Filho de Deus: OMINIS qui credit quoniam Jesus est Christus, ex Deo natus est.
 É por isso que este testemunho público dado pelo Pai a Jesus, depois do batismo, constitui a um tempo o ponto de partida de toda a vida pública de Jesus, Verbo Incarnado, luz do mundo, e o próprio fundamento de toda a fé cristã e de toda a nossa santificação. 
Assim, este mistério do batismo de Jesus, que marca o início do Seu ministério público, contém como que o resumo de toda a Sua missão neste mundo.
 Pela humilhação que quis sofrer, recebendo este rito de penitência <
 Em paga, abre-se o céu. O Pai Eterno introduz autenticamente o Seu Filho no mundo. O esplendor de glória que Lhe dá este testemunho divino anuncia a missão de iluminação das almas, que o Verbo feito carne vai iniciar. O Espírito Santo desce sobre Ele ;para marcar a plenitude dos dons que exornam a Sua alma santa e simbolizar, ao mesmo tempo, a unção da graça que Jesus Cristo deve comunicar ao mundo. 
O batismo, com a fé em Jesus Cristo, tornou-se para nós o sacramento da adoção divina e da iniciação cristã. É nos conferido em nome da Santíssima Trindade, dessa Trindade que se nos revelou nas margens do Jordão.
 Santificada pelo contato da Humanidade de Jesus e unida ao «Verbo de verdade», a água tem a virtude de apagar os pecados daqueles que detestam as suas faltas e proclamam a sua fé na Divindade de Jesus Cristo; é <
 De modo que, diz S. Paulo, <
 Do mesmo modo que o batismo constitui para Jesus Cristo o resumo de toda a Sua missão, simultâneamente redentora e santificadora, assim contém para nós, em germe, todo o desenvolvimento da vida cristã, com o seu duplo aspecto de <
É uma verdade, segundo a palavra do Apóstolo, que <
 Ó feliz condição dos cristãos fiéis: Ó cegueira insensata daqueles que esquecem as suas promessas batismais! Ó terrível destino daqueles que as calcam aos pés!. ..
É que, dizia aos judeus o Precursor, <

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