16 de fevereiro de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

VI

 Vede quão invencível é a alma « que habita no santuário da Divindade ».
 Não esqueçamos, porém, que o não conseguiremos senão pela fé em Jesus Cristo, nosso Chefe e nosso modelo.
 Com efeito, diz o salmista que, para nos proteger dos dardos inimigos, «Deus nos cercará com a Sua verdade como se fosse um escudo»: Scuto circumdabit te VERlTAS EJUS. É igualmente o pensamento de S. Paulo, ao descrever as armas de que deve munir-se o cristão para a luta espiritual: IN OMNIBUS sumentes scutum FlDEL,­ in quo possitis OMNIA tela nequissimi ignea extinguere. «Em todas as circunstâncias, armai-vos do escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do espírito maligno». S. P.edro exprime-se no mesmo sentido:  « O demônio anda sempre a rondar em torno de vós, em busca duma presa para a devorar; e é pelo vigor da vossa fé que lhe haveis de resistir»: Cui resistite FORTES 1N FIDE.
 Deveis ter notado que, para repelir o demônio, Jesus Cristo apela sempre para a palavra divina. Esta mesma tática nos levará a nós ao triunfo. 
Assim, por exemplo, quando o demônio vos tentar contra a fé, lembrai-vos do testemunho do Pai Eterno a proclamar que Jesus é o Seu Filho muito amado; lembrai-vos de que « só os que creem em Jesus, Filho de Deus, só esses vêm de Deus ». Quando vos induzir à desconfiança, repeti as palavras de Jesus Cristo: «Só Deus é bom»: Nemo bonus nisi solus Deus: ou então: <
 Em todas as circunstâncias - In omnibus - armai-vos das palavras do Verbo; são um escudo contra o qual todos os dardos se virão a quebrar e perder.
 A fé é a arma por excelência. « Tenho como certo - escrevia Santa Teresa, que Deus jamais permitirá ao demônio enganar uma pessoa que, desconfiando de si mesma, está tão firme na fé que, pela menor das verdades reveladas, estaria pronta a afrontar mil mortes.». É a fé que, na hora da provação, no momento da tentação, nos lembra os direitos soberanos de Deus à obediência à sua justiça, os sofrimentos indizíveis pelos quais Jesus expiou o pecado, a gratuitidade da graça, a necessidade da oração, a eternidade das penas com que Deus castiga o pecador que morre impenitente, a infinita beatitude com que recompensa magnificamente uma fidelidade de poucos anos. Todas estas verdades nos está repetindo a fé. E por mais temíveis que sejam as setas do inimigo, por mais violentas que sejam as suas sugestões, por mais prolongado que seja o combate, a alma que tem uma fé viva encontra nessa fé, e na união com Jesus Cristo que ela produz, o melhor apoio da sua resistência, o próprio princípio da sua estabilidade no bem, o verdadeiro segredo da vitória.
 << Feliz da alma - é Deus quem o diz - feliz da alma que suporta assim a tentação sem a ela se expor, que passa através do fogo com os olhos da fé fixos nas palavras e exemplos de Jesus Cristo e nas promessas divinas; triunfará nesta vida e receberá mais tarde o prêmio da sua generosidade e do seu amor: BEATUS vir qui sutfert tentationem: quoniam cum probatus fuerit, accipiet coronam vitae quam repromisit Deus díligentibus se.
 Porque, diz S. Paulo, Jesus Cristo não abandona os Seus discípulos na luta.« Pontífice compassivo que sofreu a tentação, conhece o que é a provação e pode sustentar-nos no meio do combate ». Socorre-nos com a Sua graça, ajuda-nos com a Sua oração. Repete por nós o pedido que fez ao Pai no momento em que ia sofrer, para delas sair vitorioso, as derradeiras investidas do inferno: «Pai, não Vos peço que os tireis do mundo, mas que os preserveis do mal ». E porque cremos em Seu Filho Jesus, porque não nos queremos afastar d'Ele, porque desconfiando de nós mesmos, só n'Ele colocamos, pela oração, a nossa esperança, porque nos vê e nos ama em Seu Filho - Quia tui sunt -, o Pai nos preservará do mal»; mandará os Seus bons Anjos« que invisivelmente se aproximem de nós e nos sirvam ».É  aliás, a magnífica promessa que nos fez, pelos lábios do escritor sagrado, no belo salmo XC, que quero citar ainda ao terminar esta palestra. « Porque recorreu a mim, diz o Senhor, eu o libertarei; porque me reconheceu como o Todo-poderoso, protegê-lo-ei; invocar-me-á.  e eu o atenderei; estarei com ele na aflição para o libertar e cumular de glória; dilatar-lhe-ei os seus dias; e far-lhe-ei ver, para que sempre dela goze, a salvação que só eu posso dar»: Clamabit ad me, et ego exaudiam eum;  cum ipso sum in tribulatione; eripiam eum et glorificabo eum; longitudine dierum replebo eum, et ostendam illi salutare meum.

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