6 de maio de 2012

QUARTO DOMINGO DEPOIS DA PÁSCOA

Jesus Cristo no berço e no túmulo

A exortação que Jesus dirigiu a seus apóstolos, para consolá-los, refere-se a vinda do Espírito Santo.

Eu vou para aquele que me enviou, diz Jesus, para daí mandar-vos o consolador.

Estas poucas palavras resumem a vida do Filho de Deus.

Ele veio a este mundo pelo presépio de Belém... Ele sairá deste mundo pela morte do Calvário. A vida e a morte são os dois termos gloriosos da vida de Jesus Cristo.

Meditemos hoje estes dois termos, considerando que;

1o. Ele nasceu como Deus.
2o. Morreu como Deus.

As considerações anteriores mostraram a vida admirável, divina do Salvador... hoje veremos que não somente Ele viveu como Deus, mas que nasceu e morreu como tal.

I. Nasceu como Deus

Jesus Cristo nasceu como Deus, neste sentido, que o seu nascimento foi anunciado quatro mil anos antes da sua realização.

Durante este longo espaço de séculos, o Cristo viveu na memória dos homens. Foi prometido, figurado, profetizado, esperado e quando apareceu, o mundo viu realizado em sua pessoa, tudo o que havia sido predito do Libertador e Salvador esperado.

Não somente Jesus Cristo se fez conhecer antes de existir, mas Ele se fez amar e adorar.

Ora, que um homem se faça adorar depois de ter vivido, seria um fato bem prodigioso; mas que Ele se faça adorar antes de nascer, seria o cúmulo do absurdo, ou então seria divino.

É divino sim, e esta primeira prova é corroborada por uma segunda, não menos prodigiosa.

Jesus Cristo é o único homem, que tenha mudado a correnteza do tempo, das idéias e das esperanças.

O mundo antigo esperava pela vinda de Deus... era uma expectativa universal.

Ora, basta percorrer a história para ver que é a Jesus Cristo que vem ligar-se esta longa corrente de profecias das quais cada anel prende-se ao precedente e sustenta o que segue.

A ruína da nacionalidade judaica coincidindo com a vinda de Jesus Cristo resolve a questão por um fato sem réplica.

Donde vem que, depois do nascimento de Jesus Cristo, afora um punhado de homens, a humanidade deixou de esperar o advento de Deus que antes tanto desejava?

Porque o oceano dos tempos, veio ele parar diante do presépio de Jesus Cristo para desviar a sua corrente e cavar-se um outro leito?

O momento de seu nascimento marcou uma época nova para o gênero humano inteiro e o seu berço foi o ponto de chegada do mundo antigo e o ponto de partida para o mundo novo.

É em cima do berço de Jesus Cristo que o passado e o porvir da humanidade encontraram-se e se abraçaram, que o povo judeu e a gentilidade se deram o abraço da paz.

Logo, Jesus Cristo antes mesmo de nascer, vivia já na memória dos homens; e o seu nascimento é realmente o advento de Deus a este mundo.

II. Morreu como Deus

Jesus Cristo morreu como Deus, pois domou realmente a morte, que doma todas as criaturas.

Ele morreu porque devia, por este meio, expiar os pecados dos homens, porém morreu porque o quis. Ninguém me tira a vida, disse Ele, tenho o poder de dá-la e de retomá-la (Joan X. 18) quando o quero... como o quero... para o tempo que o quero: ressuscitarei no terceiro dia. (Math. XX. 19)

Em sua morte, nos excessos das dores que a precederam, nas circunstâncias que a acompanharam, na resignação com que a aceitou, na potência, na grandeza de alma, na força física e moral que Jesus mostrou, em tudo isso há qualquer coisa tão sobre-humana que um de seus inimigos disse: Se a morte de Sócrates é de um sábio, a morte de Jesus Cristo é de um Deus.

Mas para coroar este conjunto de maravilhas, Jesus Cristo quis dar a grande, a sublime prova da sua divindade, ressuscitando-se a si mesmo dos mortos. Só Deus pode dar a vida...

Retomá-la depois de tê-la perdido pela morte; é por assim dizer, uma obra mais divina ainda que dá-la, de modo que a ressurreição é a obra de Deus acima de todas as obras.

Ora, a ressurreição de Jesus Cristo, pelo seu próprio poder, é um fato absolutamente certo.

Tal ressurreição foi predita várias vezes por Jesus Cristo e dada como prova da sua divindade. (Math. XX. 18 - Joan II. 19)

Tal predição era conhecida pelos Apóstolos que a esperavam, ao ponto de desanimarem pela sua demora (Luc. XXI. 21) e pelos Judeus, que tudo punham em obra para impedi-la (Math. XX. 27, 63)

Ela é afirmada pelo Evangelho que a conta minuciosamente. (Marc. XVI. 9)

Ela é provada pela incredulidade dos Apóstolos durante os primeiros dias - pela convicção com que os apóstolos a defenderam até ao preço da sua própria vida - pela impotência física e moral em que se encontravam os apóstolos de se enganarem a este respeito - pela impossibilidade de retirarem o corpo de Jesus, seja durante o sono dos soldados, seja pela força, pela sedução ou pela astúcia.

Aliás, o fato da ressurreição está ligado com uma série de fatos históricos incontestáveis e que não teriam cabimento sem ela.

É incontestável, por exemplo; que os apóstolos tenham pregado o Cristianismo e que uma multidão de judeus e de gentios tenham abraçado esta religião.

Ora, sem a ressurreição de Jesus Cristo, estes dois fatos ficariam inexplicáveis.

Porque os apóstolos teriam pregado a doutrina de Cristo morto, não podendo este nada mais fazer para eles?

Que vantagens podiam eles tirar de uma tal pregação? Humanamente nenhuma.

Porque os Judeus e gentios se teriam convertido?

Humanamente não encontramos nenhuma razão. Entretanto o homem precisa de um atrativo para agir.

Admitindo a ressurreição, admitindo que está vivo, em consequência que é Deus, tudo se explica. É para Ele, vivo, amado, adorado, que se luta e que se morre... para Ele, que promete recompensas infinitas e cuja ressurreição dá a segurança de recebê-las.

III. Conclusão

Jesus Cristo mostra-se pois, Deus verdadeiro, não somente durante a sua vida, mas no seu berço e no seu túmulo.

Ele entra neste mundo humilde e escondido, porém, diante desta humildade de um estábulo e de um presépio, Ele faz parar os tempos antigos e começar os tempos modernos...

Com sua mãozinha terna e frágil, Ele muda a correnteza dos oceanos e cava novos leitos para as suas águas, como indica novos rumos aos povos e aos séculos.

Ele sai deste mundo pregado num patíbulo de infâmia como o último dos celerados, porém, deste patíbulo sai uma luz que ilumina a humanidade e um sangue que faz germinar o heroísmo e a santidade.

Ele é sepultado, porém sai glorioso da sua sepultura, atrai o mundo a si e o eleva ao pináculo de todas as grandezas e de todas as esperanças...

Ele ressuscita a si mesmo... vencendo a morte e abrindo o céu.

Ele é, pois, Deus; e não resta aos homens outra solução, senão caírem de joelhos, adorarem o amor infinito de um Deus, que amou ao mundo, até dar-lhe o seu Filho para salvá-lo e diante deste Filho temos que redizer com Tomé convertido e convencido: Meu Senhor e meu Deus.

EXEMPLO

A propagação da religião

No século mais refinado, mais esclarecido, mais fastoso, doze homens tomados no meio do povo, sem fortuna, sem talentos, sem apoio, deixam a Judéia com o pensamento que manifestam publicamente, de operar uma revolução geral do mundo inteiro e de submeter reis e povos a uma doutrina até então desconhecida.

Não é um espetáculo curioso ver estes homens ao saírem do Cenáculo, dividirem para si o mundo e seguirem caminho com uma cruz na mão, sem outro guia que o seu zelo?

Pregarem a todos sem distinção, a falsidade de tudo o que haviam acreditado até ali? A quimera das suas divindades, a abominação de seus sacrifícios, o embuste de seus oráculos, a impostura de seus sacerdotes e de seus doutores? Levantarem a voz contra o seu comportamento, exigirem que derrubassem os seus templos, pisassem debaixo de seus Pés os seus ídolos e adorassem a um homem Deus, morto ignominiosamente sobre a Cruz?

À um destes audaciosos reformadores, um dos sábios do Areópago de Atenas, que tinha vindo escutá-los por curiosidade, disse, talvez admirado deste zelo ardente e desta convicção profunda:

- Este Mestre, em nome do qual ides pregar, vos deixou, sem dúvida, meios de sucesso que vos estimulam!

- Não, Ele nos disse somente: Ide, ensinai a todas as nações; e nós lhe obedecemos.

- Sem dúvida, pensais atrair o povo pelo engodo dos prazeres, das honras ou das riquezas?

- Não! Para a vida presente, nós prometemos só humilhações, sofrimentos, perseguições e pobreza. Aliás, é o que esperamos para nós.

- Mas, pelo menos, o vosso Mestre vos preparou e dispôs o coração dos reis e dos povos para vos acolherem?

- Não; Ele nos disse que seríamos odiados, perseguidos, massacrados e o nosso corpo já traz os estigmas sangrentos dos açoites que recebemos.

- Talvez vos deu ouro, para atrair as multidões ávidas e fazer viver na abundância aqueles que vos seguem? Entregou-vos também armas para defender-vos?

- Não, nada disso: nem armas, nem dinheiro, nem provisões; Ele nos disse: Não vos inquieteis... do mesmo modo que eu alimento aos pássaros do céu, assim eu vos alimentarei; e nós vamos vivendo, dia por dia. Ele nos disse ainda: Ide como ovelhas no meio dos lobos, e nós vamos indo sem nos preocupar do porvir.

- Mas, então, é preciso que o vosso Mestre tenha se fiado em vosso saber, em vossos talentos, em vossa eloquência!...

Não; Ele nos escolheu, porque éramos o que havia de mais insensato, de mais fraco e de mais desprezível, e nos recomendou que evitássemos toda intriga e toda duplicidade.

- Mas então, sois uns loucos!

E o Apóstolo, abençoando aquele que humanamente tinha razão, retirou-se feliz de ter sofrido um pouco de ignomínia.

E eis que pouco a pouco, os potentes do século humilhem-se, os filósofos racionalistas abjuram a sua ciência e submetem a sua razão, os ricos soberbos fazem-se pobres... e o mundo se torna Cristão. Em verdade, é incrível mas é um fato... logo... é divino.

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 194 - 200)

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