[Sermão] A glória de Deus no Natal
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Hoje sabereis que o Senhor virá e nos salvará e cedo na manhã vereis a sua glória. Será revelada a glória do Senhor e toda a carne, isto é, todo o homem verá a salvação do nosso Deus.”
Qual é essa glória de Deus de que nos fala o introito e a antífona da comunhão e que vemos no momento do nascimento do Senhor? É a glória de um Deus que tanto amou o mundo ao ponto de entregar Seu próprio Filho. É a glória de um Deus que Se fez homem para nos salvar. Devemos, caros católicos, parar e pensar seriamente. Aquele que era desejado desde Adão e Eva, o desejado por patriarcas e profetas, O desejado pelos judeus e mesmo pelos pagãos, nasceu no dia de amanhã.
E Deus com a Sua divina Providência ordenou todas as coisas de tal forma que Nosso Senhor Jesus Cristo fosse o centro de tudo, de toda a história, de toda a humanidade, de toda a vida humana. Vemos claramente no Natal, como Deus efetivamente age na história, como Ele governa todas as coisas de modo perfeito, de modo suave e forte. Tomemos o evangelho de hoje como exemplo. José se dá conta que Nossa Senhora concebeu. Não passou pela cabeça de São José que Nossa Senhora tivesse cometido algum pecado. Se São José achasse isso, sua obrigação como justo, declarado pela própria Sagrada Escritura, seria, segundo a lei mosaica, denunciar Maria. São José sabe, porém, que Nossa Senhora é casta. E diante desse mistério, São José, entrevendo que ela é a Virgem que deve conceber, se pensa indigno. Queria, então, dispensá-la secretamente. Mas a Providência queria que o santo patriarca recebesse Maria como sua esposa. Envia, então, um anjo a São José para que possa proceder desse modo. E Deus quis assim para que Nossa Senhora não fosse considerada como adúltera. Quis também que fosse assim, que São José a recebesse como esposa, para esconder do demônio que era ela a Virgem que deveria conceber o Messias. E queria assim a Providência para que ela tivesse apoio na fuga para o Egito. Eis então a Providência que age de modo claro e ao mesmo tempo sutil na história, para o bem das nossas almas e para que Nosso Senhor pudesse, nos trinta e três anos de Sua vida, operar a nossa salvação. E, assim, desse mesmo modo, a Providência age em nossas vidas e ela quer que recebamos alegremente a Cristo, agora, como nosso redentor, para que confiadamente possamos recebê-lO como juiz na nossa morte e no fim do mundo, como diz a oração da coleta. Devemos agora receber o menino Deus alegremente como nosso redentor, convertendo-nos a Ele.
Olhemos, caros católicos, para o estábulo e vejamos a salvação de Deus. Toda a carne, isto é, todo o homem pode ver a salvação de Deus. Todo homem recebe as graças para se voltar a Nosso Senhor Jesus Cristo e abandonar o pecado, o mundo e o demônio.
Vejamos, então, essa glória de Deus, que já citamos, em particular na solução que Deus encontrou para o pecado. De fato, caros católicos, não havia solução estritamente perfeita. O pecado é uma ofensa infinita feita a Deus. Diante do pecado original e de nossos pecados pessoais, nós não tínhamos como reparar pelas ofensas feitas. Teríamos que oferecer a Deus algo que fosse mais agradável a Ele do que o pecado Lhe desagradou. Mas o pecado Lhe desagradou infinitamente. Teríamos então que agradar a Deus infinitamente. Como fazer isso? Nós abandonados a nós mesmos somos incapazes, pois somos finitos, somos limitados. Se juntássemos todos os homens com todas as suas boas obras do início da humanidade até o fim do mundo, também seria algo limitado, finito. Não seria infinitamente agradável a Deus.
Diante disso, Deus poderia ter feito duas coisas e que nós compreenderíamos com nossa inteligência humana. Deus poderia ter nos abandonado aos nossos pecados sem nenhuma injustiça de Sua parte. Ou, então, Deus poderia ter perdoado nosso pecado sem exigir uma reparação em estrita justiça. Todavia, essas seriam soluções demasiadamente humanas, caros católicos. Deus encontra então, a Sua solução, que evidentemente já conhecia desde toda a eternidade. A solução divina é a encarnação do Verbo, Seu nascimento no estábulo de Belém no dia vinte e cinco de dezembro. Solução divina porque repara em estrita justiça a glória de Deus ofendida pelos nossos pecados. Nosso Senhor é homem e Deus. Como homem é um de nós, é o chefe do gênero humano na ordem sobrenatural. E como Deus, qualquer de Suas ações tem um valor infinito, infinitamente bom. Por outro lado, além de reparar estritamente a justiça divina, a encarnação do Verbo, Seu nascimento no estábulo de Belém, toda a Sua vida, paixão e morte são obra da misericórdia divina. Vendo tudo o que Deus fez pela nossa salvação, não temos outra opção a não ser amá-lO em troca, com amor efetivo, cumprindo os Seus mandamentos. Deus quis encarnar-se, fazer-se homem, nascer nessa madrugada do dia vinte e cinco, no frio, abandonado num estábulo de animais para assim nos mover a amá-lO. E, desse modo, Santo Afonso diz que Deus foi mais amado em pouquíssimo tempo depois da encarnação do Verbo do que durante todos os séculos que precederam a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. Isso porque mais manifesto ficou o amor de Deus por nós, então, mais facilmente podemos amá-lO também. Na encarnação e no Natal, caros católicos, nós temos a união perfeita da justiça e da misericórdia. Coisa que parece tão difícil de conciliar. Mas Deus, na Sua solução divina, concilia perfeitamente a justiça e a misericórdia.
Festejemos, então, esse Natal com verdadeira alegria cristã. Convertendo-nos ao Menino Deus, vendo a salvação de Deus que se encontra no Menino, no estábulo, na manjedoura em Belém.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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