9 de janeiro de 2018

O Inferno Existe - Parte 12

CAPÍTULO XII

O inferno é invenção dos padres
Nada mais falso. O inferno já existia antes que existissem os padres e mesmo antes do primeiro homem, tendo sido criado pela eterna justiça para os anjos rebeldes. Os sacerdotes outra coisa não fazem senão pregar uma verdade terrível, ensinada por Deus na Sagrada Escritura e que se acha em todas as religiões dos vários povos que passaram pela terra.
Precustrai o mundo, do álgido polo ao ardente equador, do oceano Atlântico ao Pacífico; entrai nas florestas dos selvagens, interrogai as tribos bárbaras e haveis de ver que todos admitem depois da morte um lugar de castigo. Não estão de acordo sobre a natureza dos sofrimentos; mas todos concordam em acreditar na existência do inferno.
Os gregos tinham o seu tártaro, no qual punham penas horríveis para os maus. Os romanos chamavam inferno ou arco e Virgílio na Eneida descreve com cores bem vivas os tormentos dos condenados, dizendo-os eternos. Os egípcios criam firmemente na vida futura e no prêmio ou castigo eterno, e dos mortos faziam um julgamento para ver se eram dignos da sepultura e das honras fúnebres. Os hidús chamam o lugar dos réprobos Palatán e nos livros sagrados dos Vedas se encontra uma longa descrição dos atrozes tormentos a que serão submetidos os condenados. Os escandinavos e outros povos setentrionais leem no Edda a existência do cárcere infernal. Os hebreus o denominavam sheol ou geena, e o santo profeta Daniel, tomado de espanto ao meditar naquelas chamas terríveis, rogava a Deus que o livrasse do profundo abismo e não permitisse fechar-se sobre sua cabeça aquele poço de fogo.
Os Missionários Salesianos encontraram esta crença nas pampas da Patagônia e nas florestas da Terra do Fogo; e aqueles selvagens falavam com pavor do castigo que receberão os maus. Maomé, o mais solene impostor da História, gastou muitas laudas do Corão para descrever o lugar dos tormentos acumulando todas as penas que uma fantasia oriental pode imaginar. Zoroastro imprimiu também nos persas uma ideia terrível da punição além tumba.
Deixo de citar outros povos, porque, do contrário, não acabaria mais.
Os padres, portanto, não inventaram esta crença, mas acharam-na bem impressa em todos os povos e a encontraram ainda agora esculpida no fundo da consciência humana, a qual brada que o pecado não passará sem castigo, como a virtude não ficará sem prêmio.
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Outra extravagância que os “espíritos fortes” vão assoalhando é esta: “o inferno é coisa da Idade Média”.
Só mesmo quem perdeu o juízo fala desse modo. O que era verdade na Idade Média o é também hoje e o será sempre, porque o tempo não pode destruir a verdade. Os séculos não conseguem apagar aquelas chamas vorazes, alimentadas, pela divina justiça e nas portas tenebrosas daquele cárcere continuarão as terríveis palavras: sempre, nunca.
Deus tratará os homens do século XIX como os da Idade Média, premiando os bons com o paraíso e castigando os maus com o fogo. A justiça eterna é invariável e incorruptível e não muda com o correr dos tempos e das opiniões do mundo.
Ouvindo falar a certas pessoas, parece que hoje em dia foram abolidos os mandamentos de Deus e da Igreja, foram suprimidos os deveres religiosos, soltou-se o freio às paixões e ao homem foi dada plena liberdade de viver segundo os seus caprichos. Ilusões estultas, que se pagam depois com uma eternidade infeliz! As leis de Deus e da Igreja estão sempre em vigor, e todo cristão é obrigado a observá-las se quiser ter uma sentença favorável no grande dia do juízo.
Os heróis dos bares e clubes, quando se veem apertados de toda a parte por argumentos fortes e não podem mais negar a existência do inferno, saem-se com um dislate sem igual: “O acostuma com tudo. Eu me acostumarei no inferno.”
Falam assim para não se darem por vencidos e não abandonar a vida dissoluta. Propriamente não têm dificuldade em admitir o cárcere eterno, porque a razão prega a existência dele; o difícil e o repugnante para eles é corrigirem os costumes, praticarem o bem, abandonarem os maus hábitos e viverem como bons cristãos. E em vez de fazerem violência sobre si mesmos, preferem perder-se para sempre.
De resto, se não são capazes de habituar-se a vencer as próprias paixões, como se acostumarão com aquelas penas cruciantes? Quem, jamais, pode acostumar-se com a dor que é contrária à natureza? Fomos feitos para a felicidade e o coração foge sempre da desventura e é impossível que se dê bem nos sofrimentos. E os santos respondem que os tormentos se sucedem aos tormentos; e do mesmo modo que os bem-aventurados compreensores experimentarão sempre novos gáudios, os infelizes condenados sentirão sempre novos e mais terríveis tormentos.
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Divulgou-se o provérbio que “o demo não é tão feito como o pintam”, e costumam citá-lo para demonstrar que a fama e a opinião popular muitas vezes são superiores à realidade das coisas, porque a fantasia sois exagerar as dificuldades e as penas.
Mas, se aplicamos ao inferno esse adágio andamos em errados. Por mais que procuremos calcar as cores e as tintas pintando as penas do demônio e dos réprobos, estaremos sempre aquém da realidade e não chegaremos nunca a exagerar. Um cadáver em decomposição não nos dá nem ideia de como Satanás é sórdido, é horrível; e uma santa informou que, se ele saísse da sua prisão tal mal é, faria morrer pela sua hediondes todos os homens e animais.
No opúsculo citado da possessa de Briga lê-se que muitas vezes quando invadida pelo demônio tinha o aspecto tão medonho que punha toda a povoação em polvorosa. Dado o sinal de alarme, todos corriam para a igreja para implorar misericórdia de Nosso Senhor.
Eis as palavras textuais. “A filha tornou-se furiosa e ameaçadora. Horrível à vista, cabeleira desgrenhada e hirta como um penacho, olhos de fogo, assobios nunca ouvidos e incessantes, hálito quentíssimo, contrações de nervos, engrossamento muscular de fazer medo, sem um membro que ficasse calmo. Nenhuma força era capaz de a dominar. Os mais robustos são juncos flexíveis. Acorrem outros e o quarto fica cheio de homens fortes e corajosos. Sete deles seguram-na ao mesmo tempo nos pés, no pescoço, nos braços e na cintura; mas não resistem, porque à guisa de turbilhão impetuoso vence a todos e os põe em fuga”.
Então o povo corre ao pároco para que a exorcize.
“Não há palavras suficientes para dar uma ideia do que viu e o medo que teve entrando naquela casa. Todavia, confiando em Nosso Senhor, a quem sempre tinha eficazmente invocado, entra e ordena: – „Olá! satanás, para em nome de Deus‟. A essas palavras, Teresa como fulminada cai no leito”.
Na manhã de 11 de maio 1849, desapareceu improvisadamente de casa e durante todo o dia ouviram-se pelos ares lamentos, gritos, rumores misteriosos. O povo pensando que aquilo fosse o fim do mundo se recolheu na igreja para rezar.
À tarde, durante a Bênção do Santíssimo Sacramento, ouviu-se, sob um céu sereno e estrelado, estrépito medonho como de um furacão que se aproximava. A povoação se alarma; ecoam gritos prolongados e suspiros dolorosos; e finalmente distinguem-se a voz da moça possessa no teto de uma casa. À meia-noite pede auxílio para descer; e um destemido sobe uma escada e a desce, sem a menor dificuldade, como se fosse um feixe de palha. Estava fria petrificada, descalça, e tinha um bastãozinho na mão. Homens fortes experimentaram tirar-lhe o bastão, mas não o conseguiram, como se fosse de ferro os seus braços.
“Se, além disso, observas o seu rosto, és obrigado a desviar o teu olhar; é o mesmo que ver um espectro, isto é, o demônio em forma humana. De qualquer lado que se a observes ficas horrorizado: parece mesmo satanás, horrível, ameaçador, feral. O olho, principalmente, sanguíneo e irrequieto, sob imóvel e entreaberta pupila fere de modo cruel. O inferno nela se esconde”.
Deitada no chão, ninguém mais ousava aproximar-se-lhe, quando, após incessantes pedidos dos parentes, quatro homens mais fortes a suspendem e a levam, como um tronco, para casa, onde o pároco exorcizando-a, fá-la voltar a si e largar o bastão não sem grande resistência e agitações do demônio.
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Todos esses fatos que narramos confirmam o dogma terrível revelado por Deus da existência do inferno; e eu faço os melhores votos para que os meus leitores o evitem e mereçam o Paraíso, para o qual o Senhor nos criou. A. M. D. G.
Imprimatur Por comissão especial do Exmo. e Revmo. Snr. Bispo de Niterói D. José Pereira Alves. Niterói, 1.º de janeiro de 1945. Pe. Francisco X. Lanna, SS.

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