31 de janeiro de 2017

Sermão para o 3º Domingo depois da Epifania – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Evangelho da cura do servo do centurião


 Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Consideremos, caros católicos, a segunda parte do Evangelho de hoje: a cura do servo do centurião. Entrando Jesus em Cafarnaum, o centurião foi até ele, por si mesmo ou por emissários, fazendo uma súplica e dizendo: “Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico e sofre.” São João Crisóstomo destaca aqui a caridade fraterna do centurião. Reconhecendo a diferença hierárquica entre si mesmo e seu servo, reconhece também a igualdade de natureza e suplica a Jesus Cristo para que cure o seu servo.
A esse primeiro pedido do centurião, Jesus Cristo responde dizendo que irá e fará a cura. Em outras ocasiões, como no caso da cura do régulo de Caná não vai, embora realize a cura. Por que essa disparidade na ação de Nosso Senhor? Para melhor manifestar a fé das pessoas envolvidas ou para melhor favorecer a fé dessas pessoas. Não indo à casa do régulo de Caná, curando-o de longe, Nosso Senhor fortalece a fé do régulo e dos outros presentes, que tinham pedido ao Senhor para que fosse até o local realizar a cura. Ao dirigir-se à casa do centurião, Nosso Senhor dá ocasião para que o centurião manifeste a sua humildade e a sua fé profundas, ao insistir que o Senhor poderia curá-lo simplesmente por uma palavra.
Assim, quando Jesus diz que se dirigirá até lá e que vai curar o servo do centurião, esse pronuncia uma das mais belas orações do evangelho, junto com uma profissão de fé. Senhor, não sou digno de que entreis na minha casa, porém, dizei uma só palavra e meu servo será curado. Essa oração começa com um ato de respeito e mesmo de adoração: Senhor. Em seguida, vem um ato de humildade: não sou digno de que entreis em minha morada. O centurião, reconhecendo-se miserável diante de Cristo, sabe que nada merece, mas que tudo vem da bondade de Nosso Senhor. E, afirmando a onipotência de Cristo, pede novamente a cura de seu servo. Afirma a onipotência ao dizer que basta uma palavra de Cristo para curar o seu servo. E conclui a sua oração dando o seu próprio exemplo: se ele, que tem soldados sob suas ordens pode dizer vem, e o soldado vem, e vai, e o soldado vai, quanto mais Nosso Senhor Jesus Cristo que tem sob seu poder todas as coisas, sendo Ele o criador e o Senhor de todas elas. Tão sublime é a oração do centurião, tão verdadeira a sua humildade e tão firme a sua fé que a Igreja utiliza cotidianamente as palavras do centurião na Santa Missa, pouco antes da comunhão, para que nos disponhamos com humildade e fé para a sagrada comunhão.
É uma oração boa porque a humildade e a fé são os dois fundamentos da vida espiritual. Para construir um edifício é necessário, primeiramente, limpar o terreno dos obstáculos e, em seguida, lançar as fundações, sobre as quais todo o edifício se apoiará. A humildade remove os obstáculos, remove o orgulho, a presunção, a autossuficiência. Deus se revela aos humildes e resiste aos soberbos, aos orgulhosos. A fé lança as fundações sobre as quais todo o edifício da vida espiritual se ergue. Sem fé, não pode haver esperança. Não pode esperar em Deus quem não acredita nEle. Sem fé, não pode haver caridade. Não pode amar a Deus quem não acredita nEle. Sem fé, não pode haver caridade para com o próximo, pois a caridade para com o próximo se baseia no amor a Deus. Sem fé, não pode haver nenhuma virtude sobrenatural. É indispensável, então, que procuremos ser humildes e que tenhamos uma fé firme e que evitemos os perigos para a nossa fé. Quanto se arriscam, por exemplo, aqueles que leem autores cheios de erros dizendo que levam em consideração somente o que é bom. Mas nem critério têm para saber o que é bom. Certamente cairão, perderão a fé católica, se ainda realmente a tiverem.
Está dito no Evangelho que Nosso Senhor se admirou ao ouvir as palavras do centurião. Claro, Nosso Senhor, que conhece todas as coisas, mesmo os segredos dos corações, já conhecia a fé e a humildade do centurião. A sua admiração, então, não é por surpresa, mas é para que os outros compreendam o valor das palavras do centurião e procurem seguir o exemplo desse militar na humildade e na fé. E esse centurião nem judeu era. Era um pagão que já havia se convertido a Jesus Cristo, pois, bem disposto, compreendeu os seus milagres e aderiu inteiramente aos seus ensinamentos. E Nosso Senhor aproveita a fé desse homem para afirmar a futura conversão de numerosos pagãos à fé católica, enquanto muitos judeus preferirão permanecer cegos, sem reconhecer o Messias, que é Nosso Senhor Jesus Cristo. Finalmente, Nosso Senhor opera o milagre: vai e seja-te feito, conforme creste. E naquela mesma hora ficou curado. Que possamos, antes da comunhão, dizer as palavras do centurião com toda a sinceridade e repitamos essas palavras no nosso cotidiano. Com humildade, com fé. E o Senhor nos ajudará.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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