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É principalmente pela Virgem Maria que conseguiremos participar das graças que nos mereceu Jesus Cristo pela Sua vida oculta em Nazaré. Ninguém melhor do que a humilde Virgem conhece a sua fecundidade, porque ninguém foi mais cumulado de graças do que ela. Aqueles anos devem ter sido para a Mãe de Jesus uma fonte inexaurível de graças inestimáveis. Não se pode pensar neles sem se ficar extasiado; é impossível exprimir as intuições que deles se podem ter.
Reflitamos um instante sobre o que devem ter sido para Maria aqueles trinta anos em que tantos gestos, tantas palavras, tantas ações de Jesus eram para ela revelações.
Sem dúvida, devia haver, mesmo para a Virgem, algo de incompreensível na vida de Jesus; não se pode viver em contato continuo com o Infinito, como era o caso dela, sem sentir e tocar por vezes o mistério. Mas que luz inundava então a alma da Virgem! Que incessante aumento de amor devia ter operado em seu coração imaculado aquela convivência inefável com um Deus que trabalhava debaixo do seu olhar e lhe obedecia!
Maria vivia com Jesus numa união que ultrapassa tudo quanto se possa dizer. Eram verdadeiramente um; o espírito, o coração, a alma, toda a existência da Virgem estava em absoluta concordância com o espírito, o coração, a alma e a vida de seu Filho. A sua existência era, se assim me posso exprimir, uma vibração pura e perfeita, tranquila e cheia de amor, da própria vida de Jesus.
E qual era, em Maria, a fonte dessa união e desse amor? - Era a fé. A fé é uma das virtudes mais características da Virgem.
Que admirável e cheia de abandono a fé na palavra do Anjo! O mensageiro celeste anuncia-lhe um mistério inaudito, que espanta e confunde a natureza: a conceição dum Deus num seio virginal. E que diz Maria? <
A fé de Maria na Divindade jamais vacilou; em seu filho Jesus verá sempre o Deus Infinito.
E, no entanto, a que provações não teve de ser submetida esta fé! Seu filho é Deus; o Anjo anunciou-lhe que Ele ocuparia o trono de David, que salvaria o mundo, que o Seu reino não teria fim. E eis que Simeão lhe prediz que Jesus será um sinal de contradição, que será causa de ruína e de salvação. Maria vai ter de fugir para o Egito a fim de furtar o Filho aos furores tirânicos de Herodes. Durante trinta anos, o seu filho, que é Deus e vem resgatar o gênero humano, viverá, numa pobre oficina, uma vida obscura de trabalho e de submissão. Mais tarde, verá seu Filho perseguido pelo ódio dos fariseus, vê-lo-á abandonado pelos discípulos, nas mãos dos inimigos, suspenso numa cruz, acabrunhado de sarcasmos, abismado no sofrimento; ouvir-lhe-á o grito de abandono por parte do Pai. A sua fé, porém, permanecerá inabalável. E é precisamente aos pés da cruz que ela brilha com todo o esplendor. Maria reconhecerá sempre o seu Filho como seu Deus; por isso, a Igreja a proclama a <
E é esta fé a fonte de todo o amor de Maria para com seu Filho; é esta fé que a faz permanecer unida a Jesus, mesmo nas dores da Paixão e da morte.
Peçamos à Virgem que nos obtenha esta fé firme e prática que se consuma no amor e no cumprimento da vontade divina: <
Esta fé ardente, que era para a Mãe de Deus uma fonte de amor, era igualmente um princípio de alegria. O próprio Espírito Santo no-lo ensina quando, pelos lábios de Isabel, proclama a Virgem «bem-aventurada por causa da sua fé»: Beata quae credidisti.
O mesmo acontecerá conosco. S. Lucas narra que, depois dum discurso de Jesus à multidão, uma mulher, levantando a voz, exclama: <
Mas Jesus quer ensinar-nos que, assim como a Virgem mereceu as alegrias da Maternidade divina pela sua fé e pelo seu amor, assim também nós podemos participar, não evidentemente da glória de haver dado à luz Jesus Cristo, mas da alegria de O fazer nascer em nossas almas. E como obteremos esta alegria? «Ouvindo e guardando a palavra de Deus». Ouvi-mo-la pela fé, e guarda-mo-la cumprindo com amor o que ela prescreve.
Tal é para nós, como para Maria, a fonte da verdadeira alegria da alma; tal é para nós o caminho da felicidade. Se, depois de havermos inclinado o nosso coração aos ensinamentos de Jesus, obedecermos à Sua vontade e Lhe permanecermos unidos, seremos por Ele tão estimados - é Jesus ainda quem o proclama - como se fôssemos para Ele «uma mãe, um irmão, uma irmã»: Quicumque enim fecerit voluntatem Patris mei qui in caelis est, ipse meus frater, et soror et mater est. Que união mais íntima e mais fecunda do que esta poderia constituir o objecto dos nossos desejos?
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