ABRINDO CAMINHO
Se tais fossem as obras de Deus que facilmente coubessem nos conceitos do homem, por que então chamá-las de maravilhosas de inefáveis? (Imitação L. IV, cap. 18) .
Prezado leitor, ao tomares este livro, não te fies na profissão de romancista que a Autora vive, não esperes encontrar nele uma fantasia literária e subjetiva sobre o caso realmente encantador da pastorinha dos Pireneus bigortenses; na sua leitura não prelibarás uma história romanceada, exploração agradável de lenda sem base, na qual se forceja meramente por tirar da ilusão alguma tesezinha de filosofia humana.
Quem procurar isso, não vá além destas páginas preliminares. Se não admites haver uma ordem superior aos nossos sentidos e que avassala o curso natural de nossa existência terrena; se não reconheces que os conhecimentos humanos são limitados, não se te pode contar a história autêntica de Bernadette. Excluído o sobrenatural, aquela vida não tem interesse algum, nem sequer patológico; pois os achaques de que sofria a menina, isto é, a asma e a tuberculose, não explicam suas visões.
Cumpre, portanto, admitir o sobrenatural, se quisermos compreender o papel, naturalmente inexplicável, desempenhado por aquela camponesinha.
Não sei o que haja em nossas pastorinhas da França, nem que eco o Infinito depara em suas almas puras e sadias; mas se, como a Joana d'Arc, sua irmã na história e a ela muito parecida em sua fisionomia moral, também a Bernadette se sonegar o milagre a ambas concedido, esta escapará à compreensão.
Esse milagre é aquela comunicação sensível que uma e outra teve com o mundo, ao qual nós, com nossa impotência em defini-lo, chamamos de celestial.
Esta tradução feita por alguém que quer ficar anônimo, foi revista, analisada e anotada pelo P. E. F. S. I. (Nota dos Editores)
11 de novembro de 2021
A Humilde Santa Bernadette - Colette Yver
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