24 de abril de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 32

"Guerreiros que me escutais, prosseguia o eloqüente pontífice, vós que procurais sem cessar vãos pretextos de guerra, alegrai-vos pois eis aqui uma guerra legítima: chegou o momento de mostrar se estais animados por uma verdadeira coragem; chegou o momento de expiar tantas violências cometidas no seio da paz, tantas vitórias manchadas pela injustiça.
Vós que fostes tantas vezes o terror de vossos concidadãos e que vendíeis por um vil salário vossos braços ao furor de outrem, armados pela espada dos Macabeus, ide defender a casa de Israel, que é a vinha do Senhor dos exércitos. Não se trata mais de vingar as injúrias dos homens, mas as da Divindade; não se trata mais do ataque de uma cidade ou de um castelo, mas da conquista dos santos lugares. Se triunfardes, as bênçãos do céu e os reinos da Ásia serão vosso prêmio; se sucumbirdes, tereis a glória de morrer nos mesmos lugares onde Jesus Cristo morreu e Deus não se esquecerá de que vos viu em sua santa milícia. Que afeições fracas e covardes, sentimentos profanos não vos prendam em vossos lares; soldados do Deus vivo, escutai somente os gemidos de Sião; quebrai todos os liames da terra e lembrai-vos do que o Senhor disse: Aquele que ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim; todo aquele que deixar sua casa, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua esposa, ou seus filhos, ou sua propriedade, por meu nome, será recompensado com o cêntuplo e terá vida eterna."
Estas palavras de Urbano penetravam e abrasavam todos os corações e assemelhavam-se à chama ardente descida do céu. A assembleia dos fiéis, levados por um entusiasmo que jamais a eloqüência humana tinha inspirado, ergueu-se totalmente e fez ouvir estas palavras: Deus o quer! Esse brado unânime foi repetido várias vezes; ecoou ao longe na cidade de Clermont e até nas montanhas da vizinhança. Quando se restabeleceu a calma: "Vedes aqui, continuou o Pontífice, a realização da promessa divina: "Jesus Cristo declarou, que quando seus discípulos se reunissem em seu nome, Ele estaria no meio deles; sim, o Salvador do mundo está agora em nosso meio e é Ele mesmo que vos inspira os brados que acabo de ouvir. Que essas palavras: Deus o quer! sejam para o futuro vosso grito de guerra e anunciem por toda a parte a presença do Deus dos exércitos."Terminando de falar, Urbano mostrou à assembleia dos cristãos o sinal da redenção. "É o mesmo Jesus Cristo, disse-lhe, que sai de seu túmulo e que vos apresenta sua cruz; ela será o sinal, erguido entre as nações, que deve reunir os filhos dispersos de Israel; levai-a em vossos ombros ou sobre o vosso peito; que ela brilhe sobre as vossas armas e sobre os vossos estandartes; ela será para vós o penhor da vitória ou a palma do martírio; ela vos há de lembrar continuamente que Jesus Cristo morreu por vós e que deveis morrer por Ele."

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