16 de abril de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 28

O povo acorria em massa em seguimento de Pedro; o pregador da guerra santa era recebido por toda a parte como um enviado de Deus: todos se julgavam felizes por lhe tocar as vestes; o pelo que arrancavam da mula que ele montava era conservado como urna santa relíquia. À sua voz as questões se acomodavam nas famílias, os pobres eram socorridos, a devassidão envergonhava-se de seus excessos; só se falava das virtudes do eloquente cenobita; narravam-se suas austeridades e seus milagres; repetiam-se seus discursos, aos que não os haviam podido escutar e que não haviam podido edificar-se com sua presença.
Muitas vezes ele encontrava em suas excursões cristãos do Oriente, exilados de sua pátria, que percorriam a Europa pedindo esmola. O eremita Pedro os apresentava ao povo como testemunhas vivas da barbárie dos infiéis; e, mostrando os andrajos de que se cobriam, o santo orador atacava com violência os opressores e seus carrascos. A esse espetáculo, os fiéis experimentavam por sua vez as mais vivas emoções da piedade e o furor da vingança; todos deploravam em seu coração a desgraça e a vergonha de Jerusalém. O povo elevava sua voz para o céu para pedir a Deus que Ele se dignasse lançar um olhar sobre a cidade de sua predileção; uns ofereciam suas riquezas, outros, suas orações; todos prometiam dar sua vida para a libertação dos santos lugares.
No meio dessa agitação geral, Alexis Comeno, ameaçado pelos turcos, mandou embaixadores ao Papa para pedir o auxílio dos latinos. Algum tempo antes dessa embaixada, ele tinha mandado cartas aos Príncipes do Ocidente; nas quais lhes contava de maneira lamentável as conquistas dos turcos na Ásia Menor. "Essas hordas selvagens, que, na devassidão e na embriaguez da vitória, tinham ultrajado a natureza e a humanidade, estavam às portas de Bizâncio, e, sem o pronto auxílio de todos os povos cristãos, a cidade de Constantino ia cair sob a mais espantosa dominação. Alexis lembrava aos Príncipes da cristandade as santas relíquias guardadas em Constantinopla, e rogava-lhes que salvassem da profanação dos infiéis aquele sagrado depósito.
Depois de ter louvado o esplendor e as riquezas de sua capital, ele exortava os cavaleiros e os barões a vir defendê-los; oferecia-lhes seus tesouros como prêmio de sua coragem, elogiava a beleza das mulheres gregas, cujo amor devia pagar os empreendimentos de seus libertadores. "Assim, nada foi esquecido que pudesse aliciar as paixões e despertar o entusiasmo dos guerreiros do Ocidente. A invasão dos turcos era, aos olhos de Alexis, o maior de todos os flagelos que tinha a temer o chefe de um reino cristão, e, para afastar ·semelhante perigo, tudo lhe parecia justo e conveniente. Ele podia suportar a ideia de perder a coroa, não, porém, a vergonha de ver seus Estados sujeitos às leis de Maomé; se ele devia um dia perder o império, com isso já se, consolava, contanto que a Grécia escapasse ao jugo dos muçulmanos e se tornasse partilha dos latinos.

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