Urbano falou depois de Pedro, o Eremita, fê-lo nestes termos: "Acabais de ouvir o enviado dos cristãos do Oriente. Ele vos disse da sorte lamentável de Jerusalém e do povo de Deus; ele vos disse de como a cidade do rei dos reis, que transmite aos outros os preceitos de uma fé pura, foi obrigada a servir às superstições dos pagãos; de como o túmulo milagroso, onde a morte não pode conservar sua presa, esse túmulo, fonte da vida futura, sobre o qual surgiu o sol da ressurreição, foi manchado por aqueles que não devem ressuscitar, senão para servir de palha ao fogo eterno. A impiedade vitoriosa espalhou suas trevas nas mais ricas regiões da Ásia: Antioquia, Éfeso, Nicéia, tornaram-se cidades muçulmanas; as hordas bárbaras dos turcos chantaram seus estandartes nas margens do Helesponto, de onde ameaçam todos os países cristãos. Se Deus mesmo, armando contra elas seus filhos, não as detiver em sua marcha triunfante, que nação, que reino, poderá fechar-lhes as portas do Ocidente ?"
O soberano Pontífice dirigia-se a todas as nações cristãs; ele dirigia-se principalmente aos franceses; na sua coragem a Igreja punha a sua esperança; porque conhecia sua bravura e sua piedade, o Papa havia atravessado os Alpes e lhes trazia a palavra de Deus. À medida que o Pontífice pronunciava seu discurso, os ouvintes penetravam-se dos sentimentos de que ele estava animado; ele procurava ora excitar no coração dos cavaleiros e dos barões que o escutavam, o amor da glória, a ambição das conquistas, o entusiasmo religioso e principalmente a compaixão por seus irmãos, os cristãos. "O povo, digno de elogios, dizia-lhes ele, esse povo que o Senhor, nosso Deus, abençoou, geme e sucumbe sob o peso dos ultrajes e das exacções mais vergonhosas.
A raça dos eleitos sofre indignas perseguições; a raiva Ímpia dos sarracenos não respeitou nem as virgens do Senhor, nem o colégio real dos sacerdotes. Eles carregaram de ferros as mãos aos enfermos e dos velhos; crianças arrancadas aos braços maternos esquecem agora entre os bárbaros o nome do verdadeiro Deus; os asilos que esperavam os viajantes pobres na estrada dos santos lugares receberam sob seu teto profanado uma nação perversa; o templo do Senhor foi tratado como um homem infame e os ornamentos do santuário foram arrebatados como escravos. Que vos direi mais?
No meio de tantos males, quem poderia reter em suas casas desoladas, os habitantes de Jerusalém, os guardas do Calvário, os servidores e os concidadãos do Homem Deus, se não se tivesse imposto a eles a lei de receber e de socorrer os peregrinos, se eles não tivessem receio de deixar sem sacerdotes, sem altares, sem cerimônias religiosas uma terra toda coberta ainda pelo sangue de Jesus Cristo ?
"Ai! de nós, meus filhos e meus irmãos, que vivemos nestes dias de calamidades! Viemos então a este século reprovado pelo céu para ver a desolação da cidade santa e para vivermos em paz, quando ela está entregue nas mãos de seus inimigos? Não é preferível morrer na guerra do que suportar por mais tempo esse horrível espetáculo? Choremos todos juntos nossas faltas que armaram a cólera divina; choremos, mas que nossas lágrimas não sejam como a semente lançada sobre a areia e a guerra santa se acenda ao fogo de nosso arrependimento; e o amor de nossos irmãos nos anime ao combate e seja mais forte que a mesma morte, contra os inimigos do povo cristão.
23 de abril de 2021
Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 31
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