14 de abril de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 27

"Sim, sem dúvida, replicou o Patriarca; quando nossa aflição chegar ao auge, quando Deus se comover, ante as nossas misérias, Ele moverá o coração dos Príncipes do Ocidente e os mandará em auxilio da cidade santa." A estas palavras, Pedro e Simeão abriram suas almas à esperança e abraçaram, se derramando lágrimas de alegria. O Patriarca resolveu implorar por meio de cartas o socorro do Papa e dos Príncipes da Europa. O Eremita jurou ser o intérprete dos cristãos do Oriente e armar o Ocidente para sua libertação.
Depois dessa entrevista, o entusiasmo de Pedro não teve mais limites ; ele ficou ·persuadido de que o céu mesmo o havia encarregado de vingar sua causa. Um dia quando ele estava prostrado diante do santo sepulcro, pareceu.-lhe ouvir a voz de jesus Cristo que lhe dizia : "Pedro, levanta.-te, corre anunciar as tribulações de meu povo ; é tempo de que meus servidores sejam socorridos e os lugares santos, libertados. " Cheio do espírito dessas palavras que lhe ecoavam continuamente ao ouvido, com cartas do Patriarca, ele deixa a Palestina, atravessa os mares, desembarca nas costas da Itália e vem lançar se aos pés do Papa. A cátedra de S. Pedro era então ocupada por Urbano II, que tinha sido discípulo e confidente de Gregório e de Vítor Urbano abraçou com ardor um projeto de que seus predecessores haviam tido o primeiro pensamento; recebeu Pedro como um profeta, aplaudiu seus intentos e o encarregou de anunciar a próxima libertação de Jerusalém.
O Eremita atravessou a Itália, passou os Alpes, percorreu a França e a maior parte da Europa, abrasando todos os corações com o zelo que o devorava.
Viajava montado sobre uma mula, com um crucifixo na mão, descalço, e de cabeça descoberta, cingido
por uma corda grosseira, usando um hábito rude e ordinário e uma capa também ordinária e grosseira.
A singularidade de suas vestes era um espetáculo para o povo: a austeridade de seus costumes, sua caridade, a moral que ele pregava, faziam-no venerar como um santo.
O Eremita ia de cidade em cidade, de província em província, implorando a coragem de uns, a piedade de outros, às vezes aparecia no púlpito das igrejas, ora pregava nos caminhos, nas praças públicas. Sua eloqüência era viva e arrebatada cheia de veementes apóstrofes que arrastavam a multidão.
Ele lembrava a profanação dos santos lugares e o sangue dos cristãos derramado em rios pelas ruas de Jerusalém: invocava o céu, os santos, os anjos, que ele tomava como testemunhas das suas afirmações e da veracidade de tudo o que dizia; dirigia-se ao monte Sião, à rocha do Calvário, ao monte das Oliveiras que ele fazia reboar de soluços e de gemidos. Quando não encontrava mais palavras para pintar a desgraça dos fiéis, mostrava aos presentes o crucifixo que trazia consigo; batia no peito e feria-se a si mesmo ou derramava uma torrente de lágrimas.

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