8 de abril de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 24

Enquanto o Império do Oriente tocava assim o seu declínio, e parecia minado pelo tempo e pela corrupção, o Ocidente estava na infância das sociedades; nada mais restava do Império e das leis de Carlos Magno. Os povos já quase não tinham relações entre si e só se aproximavam com o ferro e a espada na mão; a Igreja, a realeza, as nações, os reinos, tudo estava misturado e confundido; nenhum poder era bastante forte para deter o progresso da anarquia e os abusos do feudalismo. Embora a Europa estivesse cheia de soldados e coberta de castelos fortes, as nações ficavam o mais das vezes sem apoio contra os inimigos e não tinham exércitos para sua própria defesa. No meio da confusão geral, não havia segurança a não ser nos campos e nas fortalezas, alternativamente, a salvaguarda e o terror das aldeias e do campos. As maiores cidades não ofereciam asilo algum para a liberdade; a vida dos homens era tida em tão pouco que se podia com algumas moedas comprar a impunidade do assassino.
Era de espada na mão que se invocava a justiça, era pela espada que se fazia a reparação dos erros e das injúrias. A língua dos barões e dos senhores não tinha palavras para exprimir o direito das gentes; a guerra era toda sua ciência, era toda a política dos príncipes e dos Estados.
No entretanto, essa barbárie dos povos do Ocidente não se assemelhava à dos turcos, cuja religião e costumes repelia toda espécie de civilização e de luz; nem à dos gregos, que era apenas um povo corrompido. Enquanto uns tinham todos os vícios de um Estado quase selvagem e os outros, toda a corrupção de um Estado em decadência, misturava-se aos costumes bárbaros dos francos algo de heróico e de generoso que parecia ter paixões da juventude. A barbárie grosseira dos turcos fazia desprezar tudo o que era nobre e grande; os gregos tinham uma barbárie sábia e polida, que os enchia de desdém pelo heroísmo e pelas virtudes militares.
Os francos eram tão corajosos como os turcos e davam mais valor à glória que os outros povos. O sentimento de honra que criou na Europa a cavalaria dirigia sua bravura e por vezes ocupava-lhes o lugar da justiça e da vitude.

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