Depois que Urbano acabou de falar, a agitação foi grande; só se ouviam estes brados: Deus o quer! Deus o quer!, que era como a voz de todo o povo cristão. O cardeal Gregório, que depois subiu ao trono de S. Pedro, com o nome de lnocêncio, pronunciou em voz alta uma fórmula de confissão geral; todos prostraram-se de joelhos, batendo no peito e recebendo o perdão de seus pecados.
Ademar de Monteuil, Bispo de Puy, pediu por primeiro para ingressar no caminho de Deus e tomou a cruz das mãos do Papa. Vários Bispos seguiram-lhe o exemplo. Raimundo, conde de Tolosa, desculpou-se por meio de seus embaixadores por não ter podido assistir ao concílio de Clermont; ele já tinha combatido contra os sarracenos na Espanha. Prometia ir combatê-los também na Ásia, seguido por seus guerreiros mais fiéis. Os barões e os cavaleiros que tinham ouvido as exortações de Urbano fizeram o juramento de vingar a causa de Jesus Cristo; esqueceram-se de suas próprias questões e juraram combater juntos os inimigos da fé cristã. Todos os fiéis prometeram respeitar às decisões do concílio e ornaram suas vestes com uma cruz vermelha de pano ou de seda. Tornaram desde então o nome de cruzados e foi dada à guerra o nome de Cruzada, isto é à expedição que se ia empreender contra os sarracenos.
Os fiéis pediram a Urbano que se pusesse à sua frente, mas o Pontífice, que ainda não tinha triunfado sobre o antipapa Guiberto, e que perseguia com seus anátemas o rei da França e o imperador da Alemanha, não podia deixar a Europa sem comprometer o poder e a política da Santa Sé. Recusou então a chefia da Cruzada, mas nomeou o Bispo de Puy, seu legado apostólico, junto do exército dos cristãos. Prometeu a todos os cruzados a remissão de seus pecados. Suas pessoas, suas famílias, seus bens, foram postos sob a proteção da Igreja e dos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo. O concílio declarou que toda violência feita contra os soldados de Jesus Cristo seria castigada com o anátema e entregou seus decretos, em favor dos cruzados à vigilância dos Padres e dos Bispos. Regulou a disciplina, fixou a época da partida dos que se tinham inscrito na sagrada milicia e de medo que a reflexão retivesse a alguns em seus lares, ameaçou de excomunhão aos que não cumprissem os juramentos.
As notícias divulgaram-se e espalharam por toda a parte a guerra que se havia declarado contra os infiéis. Urbano percorreu ele mesmo várias províncias da França, para terminar sua obra tão felizmente
começada. Nas cidades de Ruão, Angers, Nimes, reuniu concílios, onde a nobreza, o clero e o povo acorrerim para ouvir o pai dos fiéis e chorar com ele as desgraças de Sião. Em todas as dioceses, em todas as paróquias, os Bispos e os simples pastores, não paravam de benzer cruzes para os fiéis que pro.
metiam armar-se para a libertação da terra santa.
A Igreja conservou em seus anais as fórmulas de orações rezadas nessa cerimônia. O padre, depois de ter invocado o auxílio de Deus, que fez o céu e a terra, rogava ao Senhor que abençoasse, em sua bondade paterna, a cruz dos peregrinos, como tinha outrora abençoado a vara de Aarão; rogava à misericórdia divina que não abandonasse nos perigos os que iam combater por Jesus Cristo e que lhes enviasse o anjo Gabriel que outrora tinha sido o fiel companheiro de Tobias. Dirigindo-se depois a cada peregrino prostrado diante dele, o padre lhe dizia, depois de lhe ter prendido a cruz ao peito: "Recebe este sinal, imagem da Paixão e da Morte do Salvador do mundo, a fim de que em tua viagem nem a infelicidade nem o pecado te possam ferir e voltes mais feliz e sobretudo, melhor, para junto dos teus." Os presentes respondiam: Amém. O santo entusiasmo que esta cerimônia inspirava, difundia-se entre os
demais e abrasava todos os corações.
26 de abril de 2021
Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 33
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