18 de abril de 2021

Histórias das Cruzadas - Livro Primeiro - Origem e Progresso do Espírito das Cruzadas 29

Para responder aos pedidos de Alexis e aos votos dos fiéis, o soberano Pontífice convocou em Plaisance um concílio, a fim de expor os perigos da Igreja grega e da Igreja latina do Oriente. As pregações de Pedro tinham de tal modo preparado os espíritos, que mais de duzentos bispos e arcebispos, quatro mil eclesiásticos e trinta mil leigos obedeceram ao convite da Santa Sé. O concílio foi tão numeroso que tiveram de se reunir numa planície perto da cidade.
Nessa assembleia de fiéis, todos os olhares se voltaram para os embaixadores de Alexis; sua presença no meio de um concílio latino dava bem a entender os desastres do Oriente. Depois que eles exortaram os príncipes e os guerreiros a salvar Constantinopla e Jerusalém, Urbano apoiou seus discursos e seus pedidos com todas as razões que lhe podiam fornecer os interesses da cristandade e a causa da religião. No entretanto, o Concílio de Plaisance não tomou resolução alguma sobre a guerra contra os infiéis. Ele não tinha somente por objeto a libertação da Terra Santa: as declarações da Imperatriz Adelaide, que veio revelar sua própria vergonha e a de seu esposo, os anátemas contra o Imperador da Alernanha e contra o antipapa Guiberto, ocuparam por vários dias a atenção de Urbano e dos Padres do concílio.
Outras razões explicariam o pouco efeito que produziu a pregação de Urbano no concílio de Plaisance. Os povos da Itália, aos quais o soberano Pontífice se dirigia, estavam entregues ao espírito de comércio e as preocupações mercantis não vão de acordo com o entusiasmo religioso; além disso, a Itália estava fortemente dominada por um espírito de liberdade, que produzia perturbações e levava a negligência aos interesses da religião. Podemos ainda acrescentar que o poder pontifical, por vezes reduzido a duros extremos, tinha perdido algo de seu prestígio, algo de sua influência, para os povos de além dos Alpes. Enquanto o mundo cristão homenageava em Urbano o formidável sucessor de Gregório, os italianos, dos quais às vezes ele havia implorado a caridade, só conheciam suas desgraças e infelicidades; sua presença não lhes inflamava o zelo, e suas decisões nem sempre eram leis para os que o tinham visto, do seio da miséria e do exílio, forjar os raios lançados sobre os tronos do Ocidente.
O prudente Urbano não quis despertar o ardor dos italianos; ele pensou, além disso, que seu exemplo não era próprio para incitar as outras nações.
Para tomar um partido decisivo sobre a guerra santa e para interessar todos os povos ao seu feliz êxito, ele resolveu reunir um segundo sínodo, numa nação belicosa e, desde aqueles tempos remotos, acostumada a dar impulso à Europa. O novo concílio reunido em Clermont, no Auvergne, não foi nem  menos numeroso nem menos respeitável que o de Plaisance; os santos e os doutores mais célebres vieram honrá-lo com sua presença e ilustrá-lo com seus conselhos. A cidade de Clermont pode com dificuldade receber em seu recinto todos os príncipes, os embaixadores e os prelados que haviam ido ao
concílio: "de sorte que, diz uma antiga crônica, pela metade do mês de novembro, as cidades e as aldeias dos arredores, ficaram cheias de povo, e vários foram obrigados a mandar erguer tendas e pavilhões no meio do campo e dos prados, embora a estação e o país estivessem sob o domínio de um intenso frio."
Antes de se ocupar da guerra santa, o concílio, por primeiro dirigiu sua atenção para a reforma do clero e a disciplina eclesiástica, ocupou-se depois, de por um freio à licença e às guerras entre particulares. Naqueles tempos bárbaros, os simples cavaleiros vingavam suas injúrias, por meio das armas. Pelo motivo mais leve, viam-se às vezes famílias empreenderem uma guerra que durava várias gerações; a Europa estava cheia de perturbações e agitações causadas por essas hostilidades. Na impotência das leis e dos governos, a Igreja empregou muitas vezes sua útil influência para restabelecer a tranqüilidade: vários concílios tinham proibido as guerras entre particulares, durante quatro dias na semana e seus decretos tinham invocado as vinganças do céu, contra os perturbadores da tranquilidade pública.

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