QUERO SALVAR A MINHA ALMA
Era no sexto século da era cristã. No monte das Oliveiras, perto de Jerusalém, um moço elegantemente vestido conservava os olhos fixos num quadro que tinha diante de si. Aquele quadro representava as penas do inferno, os tormentos dos condenados. Uma sensação de horror passava por todo o corpo daquele jovem nobre e molemente educado. Reunindo todas as forças, tentava voltar as costas aquela cena horrível, quando uma veneranda senhora — que o observava com atenção e lera em seu rosto a salutar impressão produzida pelo quadro — aproximou-se e descreveu-lhe ao Vivo as penas reservadas aos pecadores impenitentes.
— Depressa, filho, salva a tua alma!
— Sim, quero salvá-la — disse o jovem comovido; — mas que devo fazer?
— Se queres salvar a tua alma, vive na oração, no jejum, na continência!
E eis que aquele moço, mole e delicado, se viu de repente envolvido nos mais sérios pensamentos. Uma completa revolução se efetuara em seu coração e, dirigindo-se incontinente a um convento situado perto de Gaza, tremendo bateu à porta e pediu humildemente que o recebessem na comunidade. O abade, à vista daquele jovem, delicado e elegantemente vestido, teve lá suas dúvidas sobre a vocação do mesmo. Não se trataria de uma exaltação passageira? Julgou mais prudente diferir a admissão, mas confiou o moço ao monge Doroteu, o mais pio dos religiosos, para que o examinasse com cuidado. Doroteu fez ao jovem diversas perguntas, mas a resposta era invariavelmente:
— Quero salvar a minha alma; este é o meu único desejo.
Doroteu levou ao abade a resposta e aconselhou-o a não diferir por mais tempo a aceitação do postulante. Admitido entre os religiosos, aquele jovem serviu de edificado a todos por sua vida exemplaríssima. Cinco anos apenas foram suficientes para completar a sua carreira e ter a morte dos justos.
esse jovem, ao qual a consideração das penas do inferno levara a vida religiosa, é conhecido no catálogo dos santos com o nome de São Dositeu.
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