19 de dezembro de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 422

LA HARPE E A IMITAÇÃO DE CRISTO

Como tantos outros, também La Harpe, um dos mais brilhantes escritores da Revoluto Francesa, fora lacrado no cárcere e esperava o dia de ser guilhotinado. Na mesma prisão achava-se uma jovem marquesa, alma profundamente religiosa. O filósofo ficou encantado com o semblante modesto, doce e resignado da extraordinária prisioneira e perguntou-lhe como conseguira aquela serenidade, aquela quase alegria na véspera de subir ao patíbulo.
A nobre senhora tomou um livrinho, e, entregando-o ao poeta, disse-lhe: “Tomai e lede”. Era o livro, do qual se diz que é o mais belo de quantos tem sido escritos pelos homens e que vem logo depois do Evangelho; era o livro que nunca se abre, mesmo ao acaso, sem tirar dele algum proveito e conforto, e nunca se lê sem se tornar, melhor: era a “Imitação de Cristo”.
La Harpe, o filósofo, abriu o volumezinho mais por curiosidade do que por motivo religioso. A primeira coisa que leu foi: "Começai por estabelecer a paz em vós e, em seguida, podereis procurá-la aos outros. O homem pacífico presta maiores serviços do que aquele que faz sábio o homem. Quanto melhor se sabe sofrer, tanto mais se sabe gozar”.
Essas reflexões abalaram profundamente o ânimo do cético; começou a pensar e orar e pouco depois fazia sua confissão a um sacerdote, chorando e soluçando. Quando saiu do cárcere, levava consigo a paz do coração e, de inimigo que era da religião, tornou-se um apologista da mesma. Os últimos dias de sua vida foram purificados, abençoados e consolados com as verdadeiras alegrias do genuíno fervor religioso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.