9 de julho de 2018

Sermão para o 3º Domingo depois de Pentecostes – Padre Daniel Pereira Pinheiro, IBP

[Sermão] Educar filhos convictos



Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…

O Evangelho de hoje nos fala da ovelha perdida e da dracma perdida. E Nosso Senhor mostra na parábola como Ele age em busca da salvação das almas. Gostaria, caros católicos, hoje de fazer algumas considerações para que evitemos, de nossa parte, que alguém se perca. Falo sobretudo aos pais com relação aos filhos. É importante considerarmos isso porque ocorre em muitos lugares do mundo vermos jovens que têm pouca convicção católica e pouca coerência na prática da religião católica, apesar de terem pais católicos sérios.
Antes de tudo, devemos compreender que a educação é obra, em primeiro lugar, dos pais. A educação ocorre principalmente na família. Sem a família, será quase impossível educar catolicamente alguém. Não bastariam uma excelente escola católica e uma excelente paróquia católica. Tudo isso, sem a família, adiantaria muito pouco na maioria esmagadora dos casos. Com a família, porém, é possível educar catolicamente, ainda que outros fatores não sejam tão favoráveis ou ainda que sejam mesmo contrários, como a falta de uma escola católica ou a falta de uma paróquia católica mais séria. Claro que o ideal deve ser buscado, e esse ideal é que haja a cooperação desses três fatores: família, Igreja e escola.
O que acontece é que vemos muitas vezes que há um problema de transmissão da fé para os filhos. Os filhos não apresentam convicção católica profunda. Isso apesar dos pais viverem uma vida católica correta e séria. Isso apesar dos pais levarem os filhos à catequese e a outras atividades. Os filhos vão assim seguindo, em linha geral as atitudes dos pais, mas não sabem explicar com profundidade o porquê das coisas. Sem essa convicção, não vão perseverar durante muito tempo. Aqui, caros católicos, em nossa Capela, no apostolado em Brasília estamos ainda no começo de nosso apostolado, que não chegou aos seus seis anos. Portanto, ainda podemos evitar esse mal quase universal, ou podemos lutar para evitar essa mal quase universal que é o problema da transmissão da fé e dessa convicção profunda na fé dos pais para os filhos.
As causas dessa falta de convicção dos filhos podem ser variadas. A primeira e mais óbvia pode ser uma falta de convicção mais profunda dos próprios pais. Às vezes, os próprios pais vão seguindo superficialmente, sem saber exatamente o que estão fazendo ou o porquê de estarem fazendo. Mas vão fazendo porque os conhecidos estão fazendo ou porque se sentem bem ou diferentes, ou porque se apegaram a alguma coisa de menor importância.
Essa falta de convicção dos filhos pode existir também em pais que têm uma convicção profunda, que se interessam mais seriamente pela doutrina da Igreja, que procuram praticá-la generosamente e que procuram entender as razões para isso. Como explicar então, a falta de convicção nos filhos em uma situação assim, em que os pais têm uma convicção mais profunda? Muitas vezes os pais não se dão conta que a convicção que eles têm não é ainda a convicção dos filhos. Não se dão conta que as lutas que enfrentaram são as suas lutas e não as dos filhos. Os pais têm convicção porque foram estudar, se interessaram, combateram para melhor servir a Deus, se opondo aos inimigos da alma. Então, os pais não se dão conta que essa convicção deles não é (ainda) a dos filhos.  Em alguns outros casos, os pais simplesmente se acomodam, dizendo: o ambiente familiar é bom, a Igreja que frequentamos é boa. E assim eles veem os filhos fazendo mais ou menos o que devem fazer e se contentam com isso. E esse comodismo tende a se agravar ainda mais quando há uma boa escola. Os pais tendem, então, a relaxar muito. Às vezes, vemos que as crianças fazem a primeira comunhão e a Crisma e depois praticamente não estudam mais nada da doutrina católica em casa e vão esquecendo aquele pouco que aprenderam. E pouco adiantaria acrescentarmos mais e mais anos de catequese, se os filhos não recebem esse estímulo em casa. Se não lêem o catecismo, se não lêem a vida dos santos e se não se interessam pelo que ensina a Igreja. Como se o catecismo preparatório para os sacramentos bastasse. De fato, não basta.  E assim os pais pensam que o filho já tem ou está formando uma convicção profunda. A tendência normal dos pais é sempre achar que seus filhos são diferentes e que com o próprio filho certas coisas não acontecem ou não acontecerão. Os filhos de cada um são exatamente iguais aos filhos de todo mundo. Não deve haver ilusão. Claro, tampouco deve haver pessimismo. Os pais muitas vezes acham que o filho está caminhando muito bem quando, na verdade, o filho segue, em linhas gerais, o que os pais estão fazendo porque não tem muita opção. Às vezes, os filhos não perguntam, não tiram dúvidas porque têm medo da reação dos pais. Às vezes, fazem coisas escondidas dos pais, sobretudo usando meios eletrônicos, e os pais nem imaginam. Às vezes, os filhos ainda não foram confrontados muito com o mundo e, portanto, ainda não tiveram como ceder ao mundo. E os pais acham que tudo está perfeito e, assim, não se dão ao trabalho de explicar as razões profundas das coisas aos filhos. E depois se espantam quando os filhos se entregam ao mundo quando são confrontados com ele, sobretudo quando saem de um ambiente mais controlado, indo, por exemplo, para a faculdade.
Caros católicos, se os pais não viverem profundamente a fé, se não explicarem as razões das coisas aos filhos, eles não serão bem educados e abandonarão logo a religião. A educação é dar os bons princípios, formar uma alma católica profundamente convicta para que a pessoa possa viver bem a sua liberdade, para que ela possa escolher viver bem como católica. Infelizmente, percebemos muitas vezes que isso não está acontecendo como deveria. Quando se pergunta a jovens de doze, treze anos, ou pouco mais ou pouco menos o que ele está fazendo aqui e a resposta não é muito clara ou é simplesmente um grande silêncio, nós temos um problema. E isso, de fato, tem acontecido. É preciso tomar tempo e explicar as coisas, ainda que os filhos não questionem. Mas os filhos são seres dotados de inteligência que precisam entender as razões das coisas. É preciso, então, explicá-las. Nós vamos à Missa Tridentina por causa disso e daquilo. Nosso pensamento com relação a tal coisa é esse por causa disso. Tais coisas são boas por esse motivo e outras aqui são ruins na vida por tal motivo. Nós nos vestimos assim por uma dada razão. Nós não nos divertimos com essas coisas aqui por causa disso e disso. Em tal situação, se ela ocorrer, você tem que se comportar de tal modo em função de tal princípio. Isso aqui devemos fazer por tal razão. Sem ir explicando cada vez mais as coisas conforme os filhos vão crescendo, eles nunca poderão se convencer verdadeiramente da verdade e vão abandoná-la.
Essas explicações, evidentemente, não precisam ser feitas em formato de aula. Deve-se aproveitar as situações da vida, deve-se também aproveitar as reuniões de família para isso. Inclusive, já falei isso em algumas outras ocasiões e gostaria de reiterar aqui mais claramente essa necessidade de que a família se reúna e que converse sobre assuntos sérios conjuntamente. É preciso que a família converse unida – pai, mãe e filhos – e que conversem sobre coisas relevantes. Separando mesmo, para isso, ao menos um momento na semana. Para falar de coisas importantes, para que sejam explicadas essas coisas para os filhos. Para que os pais falem de como foi a semana, para que possam mostrar aos filhos como lidar com as diversas situações. Para dar a eles um bom exemplo. Para ver também como foi a semana dos filhos, se querem falar sobre algo, se querem tirar alguma dúvida. Para ensiná-los a dominar as paixões e para ensiná-los a agir sempre com a razão iluminada pela fé. Para contar a eles, de modo adequado, a história da própria vida, como se formou a própria convicção católica, para que os filhos entendam os bons combates dos pais até que chegassem à vida católica.
Conheci uma família que mantinha uma reunião assim, de meia-hora, quarenta e cinco minutos no domingo. E nem era propriamente um contexto católico. Mas essa conversa ajudava a dar maturidade aos filhos, ajudava a mostrar o que era importante, ajudava a criar convicção, ajudava a mostrar o que os pais estavam fazendo pelos filhos, e tantas outras coisas. Essa reunião, essa conversa – pai, mãe e filhos – é uma coisa que se deve fazer, caros católicos. E que é plenamente possível. Não é uma coisa utópica. Se isso for impossível, será impossível viver catolicamente em família. Separem um tempo para isso. “Padre, eu faço isso, mas picado ao longo do dia e da semana.” Claro que se deve conversar em outros momentos e aproveitar ocasiões que surgem. E claro que será preciso conversar individualmente com cada filho também para tratar de suas situações mais particulares. Mas é muito bom separar esse período de conversa com a família inteira. Isso une a família e permite a transmissão da fé católica, para formar uma convicção profunda, para formar futuros homens e mulheres de caráter. Caros pais e mães, não se acomodem para criar a convicção católica nos filhos de vocês.
Essa é a parte dos pais. Claro que, em última instância, a decisão será do próprio filho, quando ele chegar em idade adulta. Cada um tem o seu livre arbítrio. Mas aos pais cabe dar os meios para que os filhos possam escolher bem, para que possam escolher Deus. E ainda que num primeiro momento o filho não escolha o que é bom, pode ser que toda a educação dada com todo o sacrifício dê frutos no momento oportuno. Mais adiante na vida, o filho pode parar e pensar: “de fato, meus pais tinham razão.”
Às vezes, o que falta também é os pais transmitirem aos filhos a grandeza de ser católico, a grandeza de combater o pecado, a grandeza e a heroicidade de lutar contra o mundo, entendido como aquilo que nos leva ao pecado. Falta transmitir aos filhos a grandeza que é servir a Nosso Senhor Jesus Cristo e a Nossa Senhora. A grandeza de sermos filhos fiéis da Igreja Católica Apostólica Romana. Falta transmitir a grandeza do que é a missão do católico: restaurar todas as coisas em Cristo, na sua escala, claro. E isso é grandioso. Muitas vezes, os pais não transmitem isso porque eles mesmos não se dão conta da grandeza do papel que desempenham. Imersos nas atividades do dia-a-dia, já não conseguem se dar conta da grandeza que tem a vida de um católico. Da grandeza que tem em formar uma família católica, fazendo todos os esforços para isso, sem fugir da Cruz. Caros pais e mães tenham sempre presente a grandeza de uma alma católica, a grandeza de uma família católica e mostrem isso para os filhos.
Quanto aos jovens que não chegaram aqui por conta própria, por convicção própria, mas que vêm trazidos pela família, evidentemente, isso é algo bom. Mas vocês precisam ser dóceis aos ensinamentos da Igreja e dos pais. Vocês precisam ter grande amor à verdade. Vocês precisam se interessar pela doutrina da Igreja Católica. Jovens, não se acomodem ou serão devorados pelo mundo, pelo pecado. É evidente que a juventude – a adolescência – é uma fase de combates internos: o querer ser independente, o querer se afirmar diante de colegas que vivem no mundo e para o mundo, o querer ser como todos os outros, as emoções que tendem a se tornar mais intensas, o próprio amadurecimento do corpo. Tudo isso vai gerar combates. O jovem precisa saber que a boa independência virá na medida em que ele deixar formar-se bem. Que a afirmação diante do mundo – ele deve compreender – não é se conformar ao mundo, mas lutar contra ele. Deve compreender que o amadurecimento do corpo tem por objetivo a geração dos filhos dentro do matrimônio. Deve compreender que as emoções devem ser ordenadas ao bem. Agindo assim, esse jovem amadurecerá e terá mais rapidamente uma boa independência, para servir melhor a Deus, para formar a sua própria família ou então para se consagrar ao serviço divino.
Aos jovens que chegaram aqui sozinhos e por convicção própria, alimentem essa convicção. Façam isso pela vida de oração, pela frequência aos sacramentos, pelo estudo ordenado da doutrina católica, pelas boas leituras. Não fiquem na superficialidade. Alimentem a alma e amadureçam também cada vez mais.
O objetivo principal desse sermão é evitar, na medida em que nos cabe, que a segunda geração – os filhos – vá se perdendo pouco a pouco no mundo. Que não se torne uma ovelha perdida. Isso acontecerá, se não for formada nos filhos essa convicção católica profunda. O objetivo principal é fazer que os filhos daqueles que chegaram aqui por conta própria tenham consciência do que estão fazendo e se entreguem, por convicção própria, profundamente a Deus. Ao, menos devemos dar a essas crianças e aos jovens, os meios para escolher bem. Procurar criar essa convicção é o dever principal de todos os pais.

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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