31 de agosto de 2017

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

Nossa Senhora Noiva 


 Parte 3/8

Maria e José eram descendentes de David e pertenciam à mesma tribo; mas ainda eram da mesma família.
Maria, a órfãzinha, era filha única e herdeira dos bens paternos.
Ora bem, na lei mosaica existia uma cláusula, segundo a qual as jovens nessas condições deviam casar-se com um jovem da sua tribo e da sua família, para que os bens familiares não se dispersassem.
E o homem indicado para casar-se com Maria, era o seu parente José.
Sobre este fundo histórico e real, devemos colocar a figura da Virgem noiva. Maria é uma jovenzinha de quinze anos. Recordai que no Oriente o desenvolvimento faz-se mais cedo do que nas nossas regiões. É uma jovenzinha que vive só para Deus. Até os amores mais santos deste mundo, os de seus pais, havia perdido.
É uma jovenzinha com um pensar de mulher, que sabe muito de sofrimentos. Consagrou a Deus sua virgindade e para sempre. Por isso vive afastada do mundo, e as pessoas que a rodeiam encontram nela alguma coisa de extraordinário que não conseguem compreender.
Não a atraem as diversões que enlouquecem as jovens da sua idade. Não a seduz a companhia dos rapazes. E contudo atrai os olhares de todos, que a admiram e respeitam e se consideram indignos de tratar com ela.
É tão formosa e tão sensata, e tão recolhida e tão ativa, e tão carinhosa e afável! Mas infunde respeito. Vêem nela uma grande superioridade e ninguém se considera digno de a ter por esposa. Nem ela mostra interesse em se casar, caso único entre as jovens de Israel.
Tem na alma o grande segredo que ninguém conhece: ser toda de Deus, ser sempre de Deus.
No entanto, os seus tutores julgam um dever reunirem-se para deliberarem sobre o futuro de Maria.
É jovem, porém tem a sensatez e o juízo de outras jovens de mais idade. Está só no mundo. É preciso encontrar-lhe um companheiro, que seja o seu amparo nas contingências da vida.
Pode aspirar a muito. As suas qualidades são excepcionais. Ainda que a sua família tenha baixado, contudo é de origem muito nobre. Pertence à casa de David e descende dos reis de Judá.
É da família mais nobre de Israel. O seu patrimônio não é grande, porém é filha única, e todos os bens de seus pais lhe pertencem.
Quem será o jovem afortunado que a leva por esposa? Os tutores reunidos deliberam.
Antes de tudo devem respeitar a lei mosaica; segundo essa lei, o esposo de Maria deve ser seu parente. O campo de eleição já fica limitado. Entre os parentes de Maria, sai o nome de José.
José tem um ofício humilde, é carpinteiro em Nazaré; não tem mais haveres que o trabalho de suas mãos. Porém é muito semelhante a Maria. É piedoso como ela. Trabalhador como ela. Até um tanto concentrado e amigo da solidão, como ela. É um pouco mais velho que Maria; porém a diferença não é tanta que o casamento se torne ridículo na apreciação do povo.
O parecer é unânime. O matrimônio fica combinado. José, o carpinteiro, será o esposo de Maria. Vede a providência ordinária e extraordinária de Deus, dirigindo todos os passos para realizar esse matrimônio virginal. É preciso comunicá-lo aos interessados.
Um dia, um dos tutores chama Maria para dizer-lhe o que haviam deliberado. " Maria, tens já a idade em que contraem matrimônio as jovens hebreias. Não tens pais, e não é conveniente que vivas tão só.
É desejo de todos os tutores que penses já no matrimônio; e o companheiro que te buscamos é teu parente José. A lei mosaica também te indica isto mesmo".
Maria, que se perturbara depois com a embaixada do anjo, perturba-se mais ainda ante esta decisão. O rubor que lhe vêem as faces, acha-o muito natural o seu interlocutor, tratando-se de uma jovem tão recolhida e tão cheia de pudor como Maria; porém está muito longe de suspeitar a tormenta que se desencadeou naquele coração.
Que faz Maria? Ao anjo descobrirá o segredo da sua alma: consagrei a Deus a minha virgindade para sempre. Ao seu tutor não acha conveniente dizer nada. Um anjo compreenderia a sua decisão; um homem vulgar, no ambiente israelítico, acharia absurda e inexplicável.
Maria, a Virgem prudente, reflete em seu coração. Foi Deus quem lhe inspirou o voto de virgindade perpétua. Não tem dúvida disso. E é Deus também quem lhe propõe o matrimônio. Também não tem dúvida disso. Os seus tutores representam Deus. A lei mosaica, que orientou a eleição, é divina também.
As disposições de Deus parecem contraditórias; porém Deus não pode contradizer-se. Haverá algum mistério que  ela desconhece. Portanto não deve duvidar. Entregar-se-á às cegas nas mãos paternais de Deus. E pronuncia o "Fiat" que repetirá no momento da encarnação: Faça-se como o haveis disposto.
Maria é a prometida de José; diga-mo-lo sem receio, é a noiva de José. Mas o conflito de consciência que se lhe apresenta é angustioso.

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