13 de agosto de 2017

Sermão para a Festa da Transfiguração 06.08.2017 – Padre Daniel Pinheiro, IBP


[Sermão] Necessidade da união com Cristo


Ave Maria…
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Três vezes a Igreja nos faz ler o Evangelho da Transfiguração durante o ano litúrgico. No sábado antes do 2º Domingo da Quaresma, no próprio 2º Domingo da Quaresma e hoje, dia 6 de agosto, Festa da Transfiguração. A Festa da Transfiguração foi tornada universal na Igreja para comemorar a vitória dos cristãos sobre os muçulmanos em Belgrado em 1456, impedindo que toda a Europa caísse nas mãos do flagelo islâmico após a queda de Constantinopla em 1453. A notícia da vitória chegou em Roma exatamente na data em que se comemorava a Transfiguração, 6 de agosto. Para comemorar essa vitória e em ação de graças, o Papa Calisto III estendeu a festa para toda a Igreja.
O gesto do Papa foi excelente, pois a Festa da Transfiguração é um resumo do Evangelho, da doutrina católica e é somente com fidelidade plena aos Evangelhos que se pode resistir aos inimigos de Cristo, da Igreja e do homem, sejam eles quias forem: ateus, muçulmanos, liberais, materialistas, conservadores eivados de erro, falsos profetas, falsos doutores e falsos filósofos.
Na transfiguração, temos a Santíssima Trindade claramente afirmada. No Monte Tabor, onde ocorreu a Transfiguração, vemos também que aparece uma nuvem e que uma voz fala. A nuvem significa Deus. No deserto, no êxodo do Egito, Deus guiava o seu povo com uma nuvem durante o dia e de noite com uma coluna de fogo. Essa nuvem luminosa que vemos aqui no Evangelho é o Espírito Santo, caros católicos. E a voz que sai da nuvem e se dirige a Jesus Cristo, chamando-o de Filho, é Deus Pai, que coloca todas as suas complacências nEle. Jesus Cristo é, portanto, Filho de Deus Pai, Deus como Deus Pai. Temos aqui a Santíssima Trindade, um só Deus em três pessoas: Pai, Filho, e Espírito Santo.
Na Transfiguração, podemos entrever a união das naturezas divina e humana em Cristo. Nosso Senhor tinha em sua alma, desde o primeiro instante de sua concepção, a visão beatífica. A consequência natural da visão beatífica é a glorificação do corpo. Nosso Senhor deveria ter tido um corpo glorioso desde o início por causa da visão beatífica e por causa da união com a natureza divina ao ponto de formar uma só pessoa com ela. Todavia, Cristo não quis ter o corpo glorioso, para poder sofrer, para poder expiar os nossos pecados, reparando-os com toda a justiça e também para poder mostrar, por meio de seus sofrimentos, o seu amor por nós.
Vemos ainda Moisés e o profeta Elias, significando que a lei mosaica e os profetas, isto é, todo o Antigo Testamento está centrado em Nosso Senhor e na sua obra de redenção. Do que falavam os dois com o Messias nesse momento, senão sobre a redenção do gênero humano, motivo da encarnação do Verbo?
Devemos, porém, considerar atentamente as palavras de Deus Pai: “este é o meu filho amado, em quem pus todas as minhas complacências. Ouvi-O”. Deus colocou todas as suas complacências em seu Filho, em Jesus Cristo. Nada pode agradar a Deus a não ser em Jesus Cristo. Nosso Senhor é o centro de tudo. Se queremos agradar a Deus e alcançar o céu, devemos estar unidos a Nosso Senhor Jesus Cristo. Se dEle estivermos separados pelo pecado mortal, seremos desagradáveis a Deus, seremos colocados à esquerda de Deus e jogados no fogo eterno do inferno. Devemos, então, estar unidos a Cristo. Não há outro caminho. Ele é o caminho, a verdade, a vida.
Deus Pai nos dá o primeiro princípio, para estarmos unidos a Cristo: ouvi-lO. Ter a fé, a fé católica, ensinada por Cristo e pregada fielmente pela Igreja. Ter a fé que faz que nossa inteligência dê sua adesão às verdades reveladas por Cristo. Sem essa verdadeira fé, como diz São Paulo, é impossível agradar a Deus. Para estar unido a Cristo é preciso ouvi-lO e colocar em prática tudo aquilo que nos ensinou. É preciso, evidentemente, rezar. E isso Nosso Senhor também nos ensina no Evangelho de hoje. Ele se afasta, sobe o monte, leva somente três apóstolos para poder rezar com tranquilidade, afastando-se da multidão. Para estar unido a Cristo, é preciso frequentar e bem os sacramentos da penitência e da comunhão. Para estar unido a Cristo é preciso banir o espírito mundano, que quer conciliar Cristo e Belial, Cristo e o demônio, esse espírito que quer ficar com um pé na barca de Pedro, a Igreja, e outro pé na barca do mundo. Acaba se desequilibrando e cai. Nós estamos no mundo, vivemos nele, mas não somos do mundo, como diz o Salvador. Precisamos vencê-lo, seguindo a exortação do Senhor: Não tenhais medo, Eu venci o mundo. Para estar unido a Cristo é preciso que eu ame Jesus com todo o meu coração, com toda a minha alma, com todo o meu entendimento, e com todas as minhas forças. Não de um amor ineficaz e inoperante, mas efetivo.
Só em Cristo Deus encontra agrado. Devemos, portanto, estar unidos a Cristo profundamente. Assim viveremos bem, assim morreremos bem, assim chegaremos à felicidade eterna.
Temos ainda a lição que nos é dada pela ação de Pedro. Diante da visão tão agradável de Nosso Senhor transfigurado, quer ele fazer ali três tendas, uma para o Senhor, outra para Moisés e outra para Elias. A proposta de São Pedro nem é respondida; ela não é aceita. Pois para chegar à felicidade plena, é preciso passar antes pela cruz. São Pedro queria já viver a plenitude do céu na terra, mas sem passar pela cruz. Nosso Senhor ainda tinha que padecer e morrer antes de sua ressurreição. São Pedro, antes de poder contemplar eternamente a Deus, também teria que carregar a sua própria cruz em união com Cristo. Portanto, devemos nos unir a Cristo, mas nos lembrando de que Cristo é Cristo crucificado, loucura para o mundo.
Mas aquele que vive unido a Cristo tem também o conforto de Cristo. E a transfiguração mostra isso. Nosso Senhor quis mostrar toda a sua glória, a sua filiação divina para esses três apóstolos para que não se escandalizassem diante da sua paixão, crucificação e morte. Para que eles pudessem também confirmar os outros na fé. Assim, as cruzes dos que estão unidos a Nosso Senhor são temperadas com suas graças e ajudas mais do que suficientes. Não existe vida apenas com cruzes nem vida apenas com consolações. Teremos as duas coisas. E devemos aproveitar ambas para nos unir ainda mais a Nosso Senhor Jesus Cristo. Tudo coopera para a santificação do justo, para a santificação daquele que deseja efetivamente servir a Deus.
Consideremos, na transfiguração, todas as coisas, com nossos olhos e nossos ouvidos. É um resumo de nossa santa religião.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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