7 de julho de 2015

História Eclesiástica - Sexta Época Capítulo 2

CAPÍTULO II

Queda de Napoleão - Seus últimos dias - Morte de Pio VII.

Queda de Napoleão - A história nos demonstra claramente que o favorecer a religião é o princípio da grandeza dos soberanos, e que ao contrário, persegui-la é causa de sua ruína. Napoleão não o queria crer, porém os fatos lhe provaram. Seu imenso poder fazia tremer a toda Europa e era seu nome temido em todo o mundo. Quando soube que Pio VII o queria excomungar por suas violências contra a Igreja e seus ministros, dizia em tom de mofa: "Pensa talvez o Papa que a excomunhão fará cair as armas das mãos de meus soldados?" Porém as censuras da Igreja, tarde ou cedo, produzem inexoravelmente seu efeito. A ambição levou de fato a Napoleão até as extremidades da Rússia, onde os quatrocentos mil homens, que compunham seu exército, morreram em sua maior parte pelo ferro, pela fome ou pelo frio. O general Ségur, um dos chefes daquele formidável exército, deixou escrito: "Os soldados mais valentes, gelados de frio, já não podiam segurar as armas e estas caíam lhes das mãos." Sublevou-se, entretanto, a Europa contra Napoleão como contra um inimigo comum. Os mesmos que, por meio da força, se tinham aliado a ele, o abandonam arrojam-no da Alemanha, da Espanha e da Suíça; perseguem-no seus inimigos e penetram, em sua perseguição, até o coração da França. Feito prisioneiro e conduzido a Fontainebleau, naquele mesmo palácio onde tinha guardado preso o Santo Padre, e naqueles mesmos lugares onde tinha acabrunhado de angústia e de dor ao Vigário de Jesus Cristo vê-se obrigado a subscrever a ata de sua abdicação.

Últimos dias de Napoleão - Ainda que Napoleão durante o tempo de sua prosperidade tivesse perseguido a Religião na pessoa de seu Chefe visível, contudo, quando se acalmou nele a ambição e pode refletir sobre a vaidade das grandezas humanas, parece que caiu em si e reconheceu seus erros. Pio VII depois de lhe ter perdoado sinceramente, se interpôs ante os Ingleses para mitigarem as penas de seu cativeiro; e para despertar sentimentos religiosos no coração daquele filho extraviado, enviou-lhe um eclesiástico para absolvê-lo das censuras e o guiasse no cumprimento de seus deveres religiosos. Reconheceu então Napoleão a mão do Senhor que o tinha humilhado e vendo próximo seu fim, exclamava: "Eu nasci na religião católica, desejo ardentemente cumprir os meus deveres e receber os socorros que ela oferece." Depois de ter recebido os últimos sacramentos, pronunciou estas palavras: "Estou satisfeito, eu precisava disto; eu não pratiquei a religião no trono porque o poder transtorna aos homens, porém sempre conservei a fé; eu queria que ficasse sempre escondida, mas isto era fraqueza; agora desejo por ela glorificar a Deus." Morreu aos 5 de maio do ano 1821. Atribuía Napoleão sua queda aos ultrajes feitos ao Chefe da Igreja: "O Papa, costumava dizer, não tem exércitos; porém é uma potência formidável. Tratai-o como se tivesse atrás de si duzentos mil homens, sob as armas." Outras vezes costumava acrescentar: "O catolicismo é a religião do poder e da sociedade. A religião católica é uma mãe de paz e de amor." (Memórias de Santa Helena).

Morte de Pio VII - Pio VII, de volta de seu cativeiro, empregou o resto de seus dias em reparar os danos que as lojas maçônicas e Napoleão tinham causado à Igreja. Entre outras coisas aprovou a obra da pregação da Fé, que tem por fim socorrer aqueles animosos sacerdotes, que abandonam sua pátria, riquezas, pais e amigos, e vão a missões estrangeiras, unicamente para ganhar almas a Jesus Cristo. Tinha oitenta e um anos de idade, quando por uma queda em seus próprios aposentos quebrou um fêmur. Fortalecido com todos os auxílios da religião e cheio de merecimentos entregou sua alma a Deus a 20 de agosto de 1823 no ano vigésimo quarto de seu pontificado. Vítima de uma longa série de injustiças, cansou a seu inimigo com sua paciência e honrou a religião com sua nobre firmeza. Contam-se deste pontífice muitos fatos prodigiosos; entre outros um que se refere a Pio IX, chamado então João Maria Mastai, dos condes de Ferretti. Como não pudesse este seguir a carreira eclesiástica por sofrer de epilepsia, recomendou-lhe o santo pontífice que fizesse uma novena à Santíssima Virgem, ao passo que ele também rezaria na santa missa por ele. Concluída a novena, voltou o jovem Mastai, e o pontífice pondo a mão sobre sua cabeça, disse-lhe: "Tranquilizai-vos, já não padecereis mal algum." Efetivamente ficou perfeitamente curado.

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