29 de julho de 2015

Sermão para o 7º Domingo depois de Pentecostes – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Cerimônias da Santa Missa – razões e valor


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Convém tratar hoje daquilo que é o cerne do nosso apostolado: a Santa Missa. Em particular, tratemos hoje do valor dos ritos que circundam a Consagração, das cerimônias da Missa. A Missa não se resume simplesmente à Consagração, embora seja ela a parte essencial da Missa, em que o pão e o vinho se transformam no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e em que o sacrifício de Cristo se renova sobre os altares. As orações, as cerimônias, enfim, o rito que circunda as palavras da consagração tem um valor importantíssimo para a nossa fé, para a nossa espiritualidade. O fruto que tiramos do Santo Sacrifício da Missa depende em grande parte do valor do Rito que circunda a parte essencial da Missa, isto é, das orações e cerimônias que circundam a parte essencial da Missa, que é a consagração.
É preciso compreender que, na Missa e nos outros sacramentos, a Igreja quis que a essência do sacramento fosse cercada por várias cerimônias. Evidentemente, tais cerimônias permanecem acidentais em relação à essência da Missa, que são as palavras da Consagração pronunciadas sobre o pão e o vinho. Todavia, acidental não quer dizer descartável ou sem importância. Que um homem tenha um braço ou não é acidental, pois com ou sem o braço ele continua sendo um ser humano. Que uma pessoa esteja com saúde ou não é acidental. Que uma pessoa tenha o uso da razão ou não é acidental, pois, independentemente disso, continua sendo um ser humano. Que uma pessoa tenha o uso da razão é acidental. A graça santificante é acidental. Os acidentes, permanecendo sempre acidentes, são importantes, segundo diversos graus. As cerimônias que orbitam em torno da essência do sacramento são também importantíssimas, mesmo se elas são acidentais.
Vejamos o que diz São Tomás sobre essas cerimônias em torno dos sacramentos. O Doutor Angélico (falando do Batismo na Suma Teológica, III, 66, 10) diz que essas cerimônias existem primeiramente para favorecer a devoção dos fiéis e a reverência ao sacramento. Assim, as cerimônias servem para mostrar a importância e a grandeza do que está sendo feito. Os sacramentos em geral e a Missa de modo particular não são uma ação ordinária, corriqueira, mas são ações maiores do que a criação do céu e da terra por Deus, pois a criação do céu e da terra está na ordem natural, enquanto os sacramentos estão na ordem sobrenatural. As cerimônias da Missa, portanto, nos indicam a grandeza do sacramento, a sua importância e nos dirige à devoção e ao respeito pelo sacramento. Em segundo lugar, São Tomás, diz que as cerimônias em torno dos sacramentos servem para a instrução dos fiéis: nós, seres humanos, temos uma inteligência que parte do sensível para o espiritual. Nós devemos, portanto, também na liturgia, ser instruídos por sinais sensíveis. Assim, o ofertório da Missa Tradicional, por exemplo, nos diz claramente que o que se oferece na Missa é o Corpo e o Sangue de Cristo ao tratar o pão e o vinho como se já fossem o Corpo e o Sangue de Cristo. Desse modo, pelas cerimônias e orações da Missa, os fiéis são instruídos ou levados a uma sã curiosidade para saber o que significa tudo aquilo em torno do sacramento.
A liturgia deve ser rica de cerimônias e orações na medida justa. A Missa Tradicional tem essa medida exata na quantidade e na qualidade. Foram cerimônias e orações formadas ao longo dos séculos da Igreja, e formadas perfeitamente segundo a doutrina católica e segundo a natureza humana. E ninguém conhece a natureza humana mais do que a Igreja. Quando ela forja uma liturgia ao longo dos séculos, como é o caso da liturgia tradicional, ela sabe exatamente o que fará bem aos homens, o que os conduzirá efetivamente a Deus. A Igreja é uma Mãe sábia, a mais perfeita das pedagogas. E como a natureza humana não muda ao longo dos séculos, permanecendo sempre a mesma, também a liturgia não pode ser drasticamente alterada. Se a liturgia é drasticamente alterada, haverá, certamente, prejuízo para as almas. E se a alteração da liturgia da Missa vai no sentido da desaparição de muitas das cerimônias e orações forjadas ao longo dos séculos, teremos fatalmente a diminuição da reverência e da devoção ao sacrifício de Cristo, à Eucaristia. Além disso, quando a liturgia é despojada de cerimônias, gestos e símbolos, ela torna-se muito abstrata, de difícil inteligência para as pessoas (sobretudo as mais simples), que devem partir sempre do sensível ao espiritual.
Vimos, então, que as cerimônias, gestos, símbolos e orações da Missa, que compõem o rito da Missa, são importantes para favorecer o respeito e a devoção e para instruir os fiéis. Mas, além disso, devemos acrescentar que tais cerimonias são meritórias e nos alcançam graças. E o mérito dessas cerimônias é imenso porque o sacerdote realiza o rito enquanto ministro da Igreja Católica, de tal forma que é a Igreja que profere as orações, que realiza os gestos. As palavras da consagração são ditas pelo Padre na pessoa de Cristo. As outras cerimônias são realizadas pelo padre na pessoa da Igreja. Como a Igreja é a esposa imaculada de Cristo, essas orações têm um mérito imenso.
Assim, na Missa, as cerimônias e orações que circundam a consagração têm um valor importante, que não depende da disposição subjetiva do padre ou dos fiéis, mas que depende unicamente da perfeição Igreja e, evidentemente, da qualidade dessas cerimônias. Assim, o valor da Missa não se reduz às palavras da consagração de um lado e ao fervor pessoal dos padres e dos fiéis de outro. Entre os dois, há algo importantíssimo: as cerimônias e orações da liturgia, que têm um valor objetivo.
O valor de um rito litúrgico se define, então, pelas cerimônias e orações e pela qualidade dessas cerimonias e orações. É inegável a quantidade de cerimônias e orações bem ordenadas na Missa Tradicional, que rendem um culto devido a Deus, como todos os sinais da cruz que o padre faz, as genuflexões, as inclinações, a elevação dos olhos, as diversas posições das mãos, os ósculos, a mudança do lado do altar, da Epístola para o Evangelho, etc… Mas é inegável também que a qualidade das cerimonias e das orações da Missa tradicional é excelente. Como São Tomas diz: o culto é também uma profissão de fé. Ora, a liturgia tradicional exprime, em suas cerimônias e orações, a fé católica sem ambiguidades e sem omissões. Ela exprime a presença real, ela exprime o caráter de sacrifício da Missa, sobretudo de sacrifício pelo perdão dos pecados. Ela exprime (sobretudo no ofertório) a diferença entre o sacerdócio dos fiéis e o do ministro ordenado. Suas orações exprimem com clareza aquilo que é a Missa e suas finalidades. Suas orações e cerimônias são harmônicas entre si e perfeitamente ordenadas. Elas estão voltadas, sobretudo, para Deus e para a salvação da nossa alma. As referências às verdades e aos mistérios sobrenaturais são onipresentes: Santíssima Trindade, Encarnação, pecado, virtude, céu, inferno, etc… A integridade, a harmonia ou ordem e a manifestação desses atributos dão à Missa Tradicional a sua beleza incomparável, fundada no dogma e na sã espiritualidade. Ora, a beleza é definida justamente como aquilo que agrada a uma faculdade que pode conhecer: à visão, à audição e, sobretudo, à inteligência. A Missa Tradicional, sendo belíssima, porque perfeitamente íntegra e ordenada, é, então, agradabilíssima a Deus. A Igreja sempre considerou o Rito Romano Tradicional como o mais o belo, de uma beleza objetiva, fundada no dogma e na espiritualidade. Assim, o Padre Fortescue, renomado liturgista podia dizer no início do século XX: “Não há na Cristandade um Rito tão venerável quanto o nosso.” E O Padre Faber dizia desse rito: “é a coisa mais bela deste lado do céu.”
O valor do rito da Missa Tradicional é imensurável e é de suma importância, porque nos alcança graças e mais graças além das graças do sacramento. O rito tradicional, por todas suas qualidades, nos alcança graças imensas para uma melhor preparação para receber a Eucaristia, favorecendo a devoção, nos instruindo e permitindo assim que conheçamos melhor o mistério e que o amemos mais profundamente e nos disponhamos mais perfeitamente para a graça do sacramento. Dispondo-nos melhor para receber o sacramento pela devoção, pela instrução e pelas graças das cerimônias e orações do rito, poderemos receber com grande fruto o Santíssimo Sacramento e poderemos avançar com maior firmeza no caminho da santidade, para restaurar tudo em Cristo.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.


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