CAPÍTULO VI
Beatificação dos mártires do Japão - Concílio do Vaticano - Sessão quarta - Fato único na História da Igreja.
Beatificação dos mártires do Japão - Será sempre de grata memória para os fiéis o dia 8 de junho de 1862, em que 26 heróis da fé, martirizados no Japão há cerca de três séculos, foram elevados à honra dos altares. Falamos, a seu tempo, da sanguinolenta perseguição de Taicosama e do grande número de cristãos que foram coroados com o martírio. Aqui tão somente acrescentaremos que, depois de terem sofrido muitos trabalhos nas prisões e nas viagens; depois de terem passado fome; sofrimentos e golpes de toda espécie, chegaram finalmente à cidade de Nagasaki lugar preparado para seu suplício. Querendo ensaiar ainda uma prova para lhes infundir temor, mostrou-se-lhes um outeiro sobre o qual se achavam preparadas 26 cruzes. Ao recordar, em presença desse espetáculo, que a cruz tinha trazido a salvação ao gênero humano, e que dentro em pouco abriria-lhes as portas do céu, encheram-se de grande alegria. Um deles chamado Antonio, falou no lugar do suplício a seus pais, que lhe faziam grandes promessas para excitá-lo a renegar a Jesus Cristo: "Vós me prometeis bens terrenos, Jesus Cristo, bens celestiais aqueles duram breve tempo, estes são eternos”. Entregou-lhes em seguida a túnica que levava e correu a abraçar a cruz. Posto cada um deles em uma cruz foram transpassados por uma lança, conforme o costume japonês. Assistia ao suplício uma multidão de pagãos e de cristãos, aos quais os mártires ainda na cruz pregavam a Jesus Cristo. Para prova de sua santidade se deram, durante sua crucificação, vários sinais prodigiosos. Constando com argumentos irrefutáveis que aqueles heróis derramaram seu sangue pela fé, e se operaram sobre seus sepulcros, graças à sua intercessão, muitos milagres, Pio IX inscreveu-os no catálogo dos santos mártires.
Concílio Vaticano - Depois do Concilio Tridentino passaram-se mais de trezentos anos sem que houvesse necessidade de convocar nenhum concílio ecumênico. Todas as questões e erros surgidos nesse período foram examinados, julgados e condenados pelo Chefe supremo da Igreja, pois ele recebeu de Jesus Cristo plena e ilimitada autoridade sobre o que concerne ao bem espiritual e eterno dos cristãos. O Salvador disse a São Pedro: “Tudo o que atares na terra também será atado no Céu; e tudo o que desatares na terra também será desatado no Céu". Mas as doutrinas errôneas destes últimos tempos, que alguns insidiosamente tratam de inserir na religião, ainda mais, os chamados filósofos modernos, as diferentes formas de sociedades secretas, a maçonaria, o socialismo, os livre-pensadores, os espíritas e outras seitas semelhantes se apoderaram de tal sorte do coração e da mente dos homens, que o romano Pontífice Pio IX julgou necessária a convocação de um concilio ecumênico. Com este fim, seguindo o exemplo de seus antecessores, que nos mais graves momentos costumavam reunir em volta de si os bispos católicos postos pelo Espírito Santo para governar a Igreja de Deus, determinou a convocação de um concilio que deveria reunir-se na Basílica Vaticana, e por isso chamou-se Primeiro Concílio Vaticano. Foram inauguradas as sessões a 8 de dezembro de 1869, achando-se presentes cerca de 700 pessoas entre bispos, cardeais, abades, gerais de ordens religiosas e insígnes teólogos. Na primeira e segunda sessão fez-se a introdução e a profissão de fé. Mas na terceira sessão, depois de terem os Padres exposto a doutrina da Igreja acerca de Deus criador de todas as coisas, da necessidade de crer em todas as verdades reveladas por Deus, que se devem crer firmemente, ainda que não se possam compreender, condenaram vários erros. Entre outras definições fizeram a seguinte em confirmação da divindade dos livros sagrados: "Se alguém não receber por sagrados e canônicos todos os livros da sagrada escritura com todas as suas partes, como os enumerou o santo Concílio Tridentino, ou negar que são divinamente inspirados, seja excomungado".
Sessão Quarta - Sempre será memorável nos fatos da Igreja a quarta sessão do concilio Vaticano. Depois de se ter exposto a doutrina católica sobre a instituição do primado apostólico na pessoa do Bem-aventurado Pedro, e a perpetuidade dele mesmo nos Papas que lhe sucederem, cuja autoridade devia se estender a todos os tempos, a todos os países, a todas as coisas concernentes à religião, a todos os cristãos, (seculares, sacerdotes e bispos), da terra, passou-se enfim à grande questão do magistério infalível do romano Pontífice. O glorioso Pio IX, depois de aprovada pelos Padres, proclamou esta importante verdade com as seguintes palavras: mesmos Concílios Ecumênicos, sobretudo aqueles em que o Oriente convinha com o Ocidente na união da fé e da caridade, tem declarado que o poder supremo do magistério está compreendido na primazia apostólica, que o romano Pontífice possui sobre a Igreja universal em sua qualidade de sucessor do Pedro, Príncipe dos Apóstolos. Por isso os Padres do quarto Concílio de Constantinopla, seguindo as pegadas de seus predecessores, promulgaram esta solene profissão de fé: - A primeira condição para a salvação consiste em guardar a regra da verdadeira fé. E que a palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja", não pode falhar, o confirmam os fatos, pois sempre na Santa Sé se tem conservado imaculada a religião, e se tem ensinado a santa doutrina. Desejando, pois, não separarmo-nos em coisa alguma de sua fé e de sua doutrina, esperamos ser dignos de permanecer na única comunhão que prega a Sé Apostólica, na qual permanece a completa e verdadeira solidez da religião cristã. - Com aprovação do segundo Concilio de Lion, os gregos professavam: Que a santa Igreja romana tem soberania e primazia sobre a Igreja católica universal, principado que esta reconhece em verdade e humildade, como recebido, com a plenitude do poder, do Senhor mesmo na pessoa do Bem-aventurado Pedro, Príncipe e cabeça dos Apóstolos, de que é sucessor o Pontífice romano; e assim como ela esta obrigada, mais que qualquer outra, a defender a verdade da fé, assim também quando se suscitam questões relativas à fé, essas questões devem ser resolvidas por seu juízo. - Finalmente, o Concilio de Florença definiu: Que o Pontífice romano é o verdadeiro Vigário de Jesus Cristo, chefe de toda Igreja, Pai e Doutor de todos os cristãos, e que a ele, na pessoa do Bem-aventurado Pedro, foi dado por Nosso Senhor Jesus Cristo o pleno poder de reger e governar a Igreja universal. Para cumprir os deveres deste cargo pastoral, nossos predecessores tem trabalhado sempre ardentemente em propagar a salutar doutrina de Cristo entre todos os povos da terra, e tem velado com igual solicitude em conservá-la pura e sem alteração em todas as partes onde tem sido recebida. Por isso, os bispos de todo universo, ora dispersos, ora congregados em Sínodos, conforme o costume constante das igrejas e a forma da antiga regra, tiveram sempre cuidado de mostrar a esta Sé apostólica os perigos que se apresentavam, sobretudo em pontos de fé, afim de que os danos causados à fé, encontrassem seu soberano remédio, precisamente onde a fé não pode sofrer demérito. Os romanos Pontífices por sua vez, conforme aconselhava a condição dos tempos e das coisas, umas vezes convocando Concílios Ecumênicos, outras consultando a Igreja dispersa no universo, já por Sínodos particulares, já por outros meios que a Providência lhes ministrava, definiram que era necessário manter sempre o que, com o adjutório de Deus, tinham reconhecido ser conforme com as Sagradas Escrituras a com as tradições apostólicas. Com efeito, não foi prometido o Espírito aos sucessores de Pedro, para publicarem, segundo suas revelações, uma nova doutrina, mas sim para que, com sua assistência, guardassem santamente, e expusessem fielmente a revelação transmitida pelos Apóstolos, isto é, o depósito da fé. Todos os veneráveis Padres abraçaram e todos os santos Doutores ortodoxos tem respeitado e seguido sua doutrina apostólica, sabendo perfeitamente que esta Sé de Pedro permanece sempre isenta de todo o erro, segundo esta divina promessa feita pelo Senhor, Salvador nosso, ao príncipe de seus discípulos: “Eu tenho rogado por ti, para que tu não vaciles, e tu quando estiveres convertido, confirma a teus irmãos”. O dom da verdade e da fé que não vacila, foi, pois, divinamente concedido a Pedro e a seus sucessores nessa Cátedra, afim de que desempenhassem seu eminente cargo para a salvação de todos: afim de que toda a grei de Cristo, apartada por eles dos pastos venenosos do erro fosse nutrida da doutrina celestial, afim de que, deixada toda causa de cisma se conserve a Igreja toda inteira na unidade, e que firmada em seus fundamentos se mantenha indestrutível contra as portas do inferno. Na presente época, porém, quando existe mais do que nunca necessidade da salutar eficácia do cargo apostólico, e em que se acham tantos homens empenhados em rebaixar sua autoridade, Nós pensamos ser absolutamente necessário afirmar solenemente a prerrogativa que o Unigênito Filho de Deus dignou-se unir ao supremo ofício pastoral. Por isso, Nós unindo-nos fielmente à tradição que remonta ao princípio da fé cristã, para a glória de Deus, Salvador nosso, e exaltação dos povos cristãos, ensinamos e definimos, com aprovação do Sagrado Concílio, que é um dogma divinamente revelado: “Que o Romano Pontífice, quando fala ex-cathedra, isto é, desempenhando o cargo de Pastor e Doutor de todos os cristãos em virtude de sua suprema autoridade apostólica, define que uma doutrina sobre a fé ou sobre os costumes deve ser professada pela Igreja universal, goza plenamente pela divina assistência que está prometida na pessoa do Bem-aventurado Pedro, daquela infalibilidade da qual o divino Redentor quis que sua Igreja estivesse provida ao definir sua doutrina quanto à fé e aos costumes; e por conseguinte, que as definições do romano pontífice, são por si mesmas irreformáveis, e não em virtude do consentimento da Igreja. Se pois alguém, o que Deus não permita, tiver a temeridade de contradizer a esta definição, seja excomungado. Assim a 18 de julho de 1870, definia-se como artigo de fé, que o Pontífice romano é infalível, quando fala de coisas tocantes à fé e aos costumes. Fato único da história da Igreja - Entre as maravilhas que admirou o mundo em Pio IX, acha-se a de ter excedido a todos seus predecessores na duração do pontificado. São Pedro que tinha ido a Roma cerca de dez anos depois da morte do Redentor, ocupou aquela sede 25 anos, 2 meses e 7 dias. Nenhum pontífice alcançou depois dele tal espaço de tempo, de maneira que era geralmente recebida a tradição de que nenhum Papa alcançaria os anos de Pedro: “Non videbis dies Petri”. Antes muitos acreditam que se cantavam estas palavras a todos os pontífices em sua consagração; porém como não se encontram em nenhum cerimonial da coroação dos Papas, duvida-se do fato. Contudo não tendo nenhum Papa alcançado os anos de Pedro, era considerado por todos como verdade histórica. A glória excepcional de alcançar ou antes de exceder os anos de Pedro estava reservada a Pio IX*. A 16 de junho de 1871 completava-se o XXV aniversário de seu pontificado. Comoveu-se o mundo, e todas as partes se preparavam de mil diferentes modos para atestar ao pontífice sua alegria e sua veneração. Secundando o Papa a aspiração dos corações católicos, dirigiu uma encíclica a todos os Bispos, para que convidassem aos povos a dar graças a Deus por ter-lhe concedido tão longo pontificado; e abriu ao mesmo tempo os tesouros das santas indulgências. É impossível imaginar maior solenidade. Parecia que o espírito do Senhor tinha invadido todos os corações para impeli-las a festejar o Pai comum de todos os crentes. Desde a mais humilde aldeia até a mais ilustre cidade, os próprios protestantes, hereges e o grão Sultão, todos compartilharam daquele grande dia.
*(A data real do martírio de São Pedro, de acordo com um cruzamento de datas feito pela arqueóloga italiana Margherita Guarducci seria 13 de outubro de 64 d.C.. Como Jesus morreu com 33 anos e se considerarmos o nascimento da Igreja e inicio do pontificado de São Pedro, no dia de Pentecostes, no mesmo ano da morte de Jesus, podemos concluir que a duração do pontificado do Primeiro Papa foi de aproximadamente 31 anos, ou ainda se considerarmos o início de seu pontificado como sendo quando Jesus o escolheu como Apóstolo, no início de sua Vida Pública, e o renomeou de "Pedro". Então, teria tido um papado de aproximadamente 34 anos. Portanto o pontificado de Pio IX que durou 31 anos, 7 meses e 22 dias, pode ou não ter superado o de São Pedro.)
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