28 de julho de 2015

Sermão para o 5º Domingo depois de Pentecostes – Pe Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Afastar-se do mal e fazer o bem: adquirir as virtudes

 Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Declina a malo et fac bonum. Afasta-te do mal e faz o bem.
São Pedro nos diz que aquele que quer ver dias felizes, isto é, que aquele que quer chegar ao céu deve afastar-se do mal e fazer o bem. O primeiro Papa nos dá vários conselhos específicos: não retribuir o mal com o mal, nem a maldição com a maldição, mas bendizendo; refrear a língua do mal e que os nossos lábios não profiram mentiras. E ele nos dá também esse mandamento geral: afastar-se do mal e fazer o bem. Esse mandamento geral é exatamente o oposto do pecado. E por isso ele é tão importante.
O pecado pode ser definido como afastar-se do bem e fazer o mal. Ou seja, como dizia tão bem Santo Agostinho, o pecado é aversio a Deo et conversio ad creaturas. O pecado é afastar-se de Deus – o bem – para converter-se, de forma desordenada, às criaturas – conversão desordenada às criaturas que é o mal. No pecado mortal, por um lado, nos afastamos de tal forma de Deus – o bem – que nos separamos dEle. Com o pecado mortal, nos tornamos inimigos de Deus e réus da condenação eterna. Por outro lado, no pecado mortal, nos voltamos de tal modo a algo criado que o colocamos no lugar de Deus, dando as costas a Ele. No pecado venial, nos afastamos de Deus, mas sem nos separar dEle. Arrefecemos a nossa amizade com Ele, sem, porém, nos tornamos inimigos dEle, embora nos tornemos réus de castigos temporais aqui nesse mundo ou no purgatório. No pecado venial, nos voltamos de forma desordenada para as criaturas, mas sem voltar as costas para Deus. Está claro que o pecado venial não combatido nos levará para o pecado mortal. O pecado mortal é o maior mal que existe. O pecado venial é o segundo maior mal que existe, caros católicos. O pecado é, então, afastar-se do bem e fazer o mal.
São Pedro, na epístola de hoje, nos diz o contrário: afasta-te do mal e faz o bem. Afasta-te do pecado e faz aquilo que te aproxima de Deus, que te leva à vida eterna. Devemos notar, caros católicos, que muitas vezes tendemos a ficar somente na primeira parte do que nos diz São Pedro: “afasta-te do mal”. E muitas vezes somos negligentes na busca da segunda parte. Ficamos apenas no combate ao pecado e nos esquecemos de avançar solidamente na virtude. Claro, a primeira etapa de nossa conversão deve ser o combate sem trégua e determinado, mas ao mesmo tempo sereno, ao pecado mortal. Em seguida e também paralelamente, devemos lutar contra nossos pecados veniais e defeitos. Não basta, porém, simplesmente evitar o pecado se queremos perseverar na graça. Evitar o pecado é o primeiro passo em uma vida cristã genuína. É preciso, para perseverarmos, que nos exerçamos no bem. É preciso adquirir as virtudes, é preciso fazer que o bem seja algo quase natural para nós. Isso se faz adquirindo as virtudes.
A virtude nada mais é do que uma disposição bem enraizada na nossa alma que nos inclina a fazer o bem. Se consideramos as quatro virtudes cardeais, dizemos que a primeira delas, a virtude da prudência, nos inclina a escolher os melhores meios para alcançarmos um fim legítimo. A prudência pode ser para o indivíduo somente, a fim de que ele considere, em última instância, os melhores meios de alcançar o céu. Ela pode ser também a prudência familiar, para que o chefe da família a conduza à sua finalidade da melhor maneira, ou pode ser a prudência política, para que o governante conduza bem a sociedade como um todo ao seu fim devido.
A segunda virtude cardeal é a da justiça. Ela nos inclina a dar a cada um o que lhe é devido. Entre as virtudes derivadas da justiça poderíamos citar: a virtude de religião, que é dar a Deus o que lhe é devido; a virtude da piedade, que é dar aos pais o que lhes é devido; a virtude da veracidade, que nos leva a dizer sempre a verdade.
A terceira virtude cardeal é a da temperança. A virtude da temperança nos inclina à moderação nos prazeres sensíveis. Entre as derivadas da temperança, podemos citar a sobriedade, a castidade, a mansidão, a humildade, a modéstia nos trajes e nos comportamentos.
A quarta virtude cardeal é a da fortaleza. Ela nos inclina a não desistir de buscar um bem árduo quando necessário ou nos faz resistir aos males, quando necessário. Entre as derivadas da fortaleza, podemos citar a paciência, a longanimidade, a perseverança, a constância, a magnanimidade, a magnificência.
Quantas virtudes e quão necessárias todas elas…
Para adquirir a virtude, que é essa disposição bem enraizada na nossa alma para fazer o bem, é preciso, em primeiro lugar, pedi-la a Deus, que é o autor de todo o bem. Em seguida, é preciso repetir os atos próprios da virtude. Assim, alguém que é intemperante no comer, adquirirá a virtude da temperança pela graça de Deus e pela repetição de atos de temperança. Alguém que é dominado pela impaciência, adquirirá a virtude da paciência somente pela graça de Deus e pela repetição de atos de paciência, sabendo suportar as contrariedades. Então, para avançarmos e nos fixarmos no bem, precisamos da graça de Deus e, com a graça dEle, dos nossos próprios esforços.
O verdadeiramente virtuoso é aquele que se alegra em fazer o bem. Ele se alegra porque reconhece o bem que está fazendo e porque ele se inclina ao bem que faz, realmente. E quando fazemos aquilo a que nos inclinamos, nos alegramos. Para o virtuoso, a lei de Cristo é verdadeiramente um jugo suave. Aquele que ainda não é virtuoso, quando faz uma boa obra, ele reconhece o bem que faz, mas ainda não se alegra tanto, pois ainda sente o peso de suas más inclinações, e o jugo ainda parece um pouco pesado.
Devemos buscar, caros católicos, não só a necessária fuga do pecado, mas fazer o bem. Adquirir as virtudes pela repetição das boas obras.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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