VII. NA SANTA MISSA, JESUS CRISTO RENOVA A
SUA ORAÇÃO
"Temos, por advogado, junto ao Pai,
Jesus Cristo, que é justo e santo; porque é a vítima de propalação por nossos
pecados" (I Jo., 2, 1).
De certo é consoladora garantia de nossa
Salvação, termos por advogado o próprio Filho de Deus, o Juiz dos vivos e dos
mortos! Mas onde e quando Jesus Cristo desempenhou este ofício?
A Igreja ensina ser Ele nosso advogado não
somente no céu, mas também na terra.
Eis a doutrina de Suarez: "Cada vez
que o santo Sacrifício da Missa é oferecido, Jesus Cristo intercede por quem o
oferece e também pelas pessoas em cuja intenção é oferecido" (Tom. 3,
disp. 79, sect. 21).
S. Lourenço Justiniano descreve assim a
maneira de orar de Nosso Senhor: "Enquanto o Cristo é imolado sobre o
altar, clama a seu Pai e mostra-lhe suas chagas para preservar os homens da
condenação eterna".
Este zelo do Sagrado Coração pela nossa
salvação foi indicado por Lucas: "Jesus subiu ao monte para fazer oração,
onde passou a noite, orando a Deus".
E noutro lugar: "De dia, ensinava no
templo, e de noite, retirava-se à montanha, chamada das Oliveiras". Ou
então: "Foi segundo seu costume, ao monte das Oliveiras, para nele
orar".
Isto diz, claramente, que Jesus tinha o
costume de passar a noite em oração. Durante sua peregrinação, cada um de seus
atos era acompanhado da oração; no término desta santa vida, o adeus aos
discípulos foi a oração suprema do Sumo Sacerdote por excelência; suspenso na
Cruz, orava por seus inimigos e, quando chegou o momento de voltar ao Pai
celeste, levantou a mão sobre os discípulos, em uma última bênção, e subiu ao
céu, onde seu Coração continua a interceder pelo gênero humano.
Ora, na santa Missa, Jesus dirige a seu
Pai todas estas orações reunidas; mostra-Lhe as lágrimas, os gemidos que as
acompanharam; enumera as noites passadas em jejum e oração; oferece todos esses
méritos pela salvação do mundo, particularmente por cada um dos que assistem à
Missa. Ó Deus, que eficaz oração! Como o perfume do incenso, eleva-se para o
Pai celeste, para o trono da Santíssima Trindade! Jesus Cristo não ora somente,
imola-se também pela salvação do mundo.
Santa Gertrudes explica este mistério do
seguinte modo: "Vi, na elevação, Nosso Senhor erguer, com as próprias mãos
e sob a forma de um cálice, o dulcíssimo Coração que apresentou a seu Pai.
Imolou-se então em favor de sua Igreja, de maneira incompreensível à
criatura". Jesus isto confirmou, quando disse a Santa Matilde: "Eu
somente sei e compreendo, perfeitamente, como me ofereço cada dia a meu Pai
pela salvação dos fiéis; nem os Querubins nem os Serafins nem as Potestades
podem concebe-lo inteiramente".
Notai que Nosso Senhor não se oferece na
santa Missa com a majestade que tem no céu, porém em uma incomparável
humilhação. Do abismo de sua humildade, a voz eleva-se-lhe tão poderosa para o
céu que traspassa as nuvens e atinge o trono da misericórdia.
Quando o rei de Nínive teve conhecimento
dos castigos que ameaçavam a cidade no prazo de quarenta dias, levantou-se do
trono, despiu as vestes reais, cobriu-se de roupas de luto, deitou cinza sobre
a cabeça e pediu a todo o povo que implorasse a misericórdia divina.
Por esta humildade e esta penitência, o
rei pagão obteve perdão para si e para a cidade culpada.
Que não obterá Jesus Cristo, que se
humilha muito mais na santa Missa, em que, deixando o trono de sua glória,
reveste as pobres aparências do pão e do vinho e clama ao Deus de misericórdia:
"Graça e perdão para meu povo! Meu Pai, considera minha abjeção; eis-me
aqui diante de Vós, não como um homem, mas semelhante a um verme da terra. Os
pecadores levantam-se contra Vós cheios de orgulho. Eu me humilho em Vossa
presença. Eles Vos irritam, eu, por meu aniquilamento, quero aplacar-Vos. Eles
clamam sobre si Vossa justa vingança, eu quero desvia-La por minhas instantes
súplicas. Tende piedade deles por amor de mim, meu Pai, e não os castigueis à
medida de suas iniqüidades. Não os entregueis a Satanás, porque são meus,
resgatei-os com o preço de meu Sangue. E, Pai Santíssimo, imploro, sobretudo, a
Vossa misericórdia em favor dos pecadores aqui presentes, pelos quais renovo,
durante esta Missa, minha vida e minha morte. Dignai-Vos, em virtude de meu
Sangue e de minha morte, preservá-los da morte eterna".
Oh Jesus, até onde vos arrasta o amor para
conosco e por que meio poderíamos melhor corresponde-lo senão assistindo,
cheios de piedade, à santa Missa?
Quando o divino Salvador se achou suspenso
na Cruz, recomendou a seu Pai os fiéis que estavam no pé da árvore da Salvação
e lhes aplicou, mui especialmente, os preciosos frutos. Do mesmo modo, ora
pelos assistentes, principalmente pelos que recorrem à sua mediação. Ora por
eles tão ardentemente, como o fez no momento de sua morte, pelos seus inimigos.
Oh poderosa oração! Quanto não fortifica a
esperança da vida eterna, vermos o mesmo Filho de Deus tomar nas mãos os
interesses de nossa salvação!
Se a Santíssima Virgem te aparecesse e
dissesse: "Não temas, meu filho, prometo-te encarregar-me de teus
interesses; pedirei, instantemente, a meu Filho, Jesus Cristo, e não cessarei
de pedir até que Ele me assegure tua felicidade eterna", a tua alma não
ficaria transportada de júbilo e não exclamaria: "Agora estou consolado,
não tenho que duvidar, minha salvação está segura"?
Se temos, pois, uma tão grande confiança
na intercessão de Maria Santíssima, por quê esta confiança não será absoluta,
quando se trata da intercessão de seu divino Filho, que não promete somente o
socorro, mas ora por nós em cada Missa que ouvimos, e faz, por assim dizer, violência
à Justiça de Deus, para nos poupar o castigo merecido?
E não era somente. Com ele intercedem,
como outras tantas vozes, suas lágrimas, suas chagas, seu sangue, todos os seus
suspiros de amor. Quem poderá medir o efeito dessas súplicas sobre o coração do
Pai celeste?
Muitas vezes te lastimas da falta de
fervor em tuas orações. Na santa Missa, Jesus Cristo orará contigo e suprirá a
imperfeição de tua oração. Escuta como convida a todos afetuosamente:
"Vinde a mim vós que sofreis e vos
achais em tribulações" (Mt. 11, 28); isto é: vós todos que não podeis orar
com ardor, vinde a mim e orarei por vós. Por quê, alma aflita e atribulada, não
te rendes a este tão terno convite? Por que não corres à santa Missa?
Em tuas tribulações recorres a amigos para
pedir-lhes uma oração. Que é, todavia, a oração dos homens comparada com a
oração e intercessão de Jesus Cristo? Tua miséria é extrema, o perigo de tua
condenação, iminente. Dize, pois, a Jesus: "Senhor, quem poderá
salvar-se?" e Ele responder-te-á: "O que é impossível aos homens é
fácil a Deus".
Recorre, pois, a este Deus Salvador que
quer te assegurar uma morada na casa de seu Pai.
"Como?, talvez digas, um pobre
indigente como eu, pode reclamar as orações do Filho de Deus? Sou indigno
disso, e não o ousarei". - oh, não fales deste modo! Convence-te que um só
de teus suspiros te dá todo o poder sobre seu Coração. São Paulo o afirma:
"O pontífice que temos, não é tal que não possa compadecer-se de nossas
fraquezas, porque todo o pontífice é tomado dentre os homens e é estabelecido
para os homens no que diz respeito ao culto de Deus, para que ofereça dons e
sacrifícios pelos pecados".
Jesus Cristo é pontífice, exerce o
sacerdócio na santa Missa, sua missão é, portanto, orar pelo povo e oferecer o
sacrifício por ele; e não se desobriga desta missão por todos em geral, mas por
cada um em particular; assim como sofreu por todos e por cada um, assim se
interessa por cada alma de tal sorte, como se fosse a única a salvar.
Eis o zelo, o poder da oração de Jesus no
santo altar. Juntemos-lhe nossas pobres súplicas e elas se tornarão excelentes.
"As orações feitas em união com o Santo Sacrifício da Missa, disse o bispo
Fornero de Hebron, são mais poderosas que todas as outras, mesmo do que as que
duram longas horas, e até as orações extáticas, por causa da paixão e morte do
Senhor que lhe manifestam a eficácia na santa Missa, por uma admirável efusão
de graças. Porque, como a cabeça ultrapassa, em dignidade, todas as outras
partes do corpo, assim a oração de Jesus Cristo, que é nossa cabeça, ultrapassa
as orações de todos os cristãos, que são os membros de seu corpo místico.
Uma moeda de cobre torna-se preciosa, se é
lançada no ouro em fusão; a pobre oração do homem, unida à de seu Salvador,
adquire um caráter de alta nobreza e pode ser ofertada como um dom agradável à
divina Majestade. Deste modo, uma oração menos fervorosa, oferecida na Missa,
vale mais que uma oração fervorosa feita em casa.
Muitos se prejudicam os que, podendo
assistir à santa Missa e, durante esta, ocupar-se com os exercícios de piedade
que costumam fazer em casa, se afastam do santo Sacrifício. Porque, se fizessem
as orações durante a santa Missa com a intenção de assisti-la e somente durante
os momentos da consagração interrompessem as orações, a fim de adorar o Corpo e
o Sangue de Nosso Senhor, ganhariam graças e méritos muito maiores do que se
rezam em seu oratório particular.
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