20 de fevereiro de 2015

Confessai-vos Bem - Padre Luiz Chiavarino.

O funestíssimo “por quê”

D. — Diga-me, Padre; qual será o primeiro “por quê” de tantas confissões mal feitas?
M. — Os “por quês” podem ser diversos, mas o principal é sem dúvida “o medo”, ou
seja a maldita vergonha pela qual o demônio fecha a boca de muitos, fazendo-os calar ou
confessar mal certos pecados ou o número deles. Você sabe como é que o demônio age
quando quer induzir alguém ao pecado? Cerca o infeliz de mil maneiras, vai-lhe sugerindo:
“— Ora, cometa à vontade esse pecado... Afinal não é assim tão grave. Deus é
bom... Ele não o quer castigar... Depois, com uma confissão Ele o perdoa e esta tudo
acabado..." E assim, batendo hoje, batendo amanhã, e sempre na mesma tecla, o demônio
acaba triunfando, ou seja fazendo cometer e talvez até repetir os pecados. Depois, então,
quando o coitado, roído pelo remorso, resolve confessar-se, o demônio muda de tática.
Novamente trata de impedir que Deus tome conta dessa alma, dizendo: — “Como ousas
confessar esse pecado? O confessor ficará surpreendido, há de ralhar contigo, levá-lo-á a mal
e é provável que te negue a absolvição. Ora, vamos, não temas, confessar-te-ás depois... Há
tempo de sobra... Há sempre tempo para isso. — E assim o mais das vezes fecha a boca de
quem estaria quase resolvido a falar e induz os pobres infelizes a se calarem e a cometerem
sacrilégios.
“Como ousas confessar esse pecado?”
D. — É esta mesmo a tática do demônio?
M. — Certamente! Ele mesmo o confessou a Santo Antonino, arcebispo de Florença.
Um dia, tendo o santo visto o demônio junto do confessionário, perguntou-lhe:
— O quê fazes aí?
— Estou esperando para fazer a restituição.
— Qual restituição? Fala, ou ai de ti.
— Venho restituir aos pecadores a vergonha e o medo que lhes roubei quando os
fiz cometer os pecados. .
D. — Se não me engano, parece-me que li que D. Bosco também viu o demônio em
circunstâncias análogas.
M. — Justamente! E ouça como foi: Certa noite, estava o santo confessando no coro
da Igreja de São Francisco de Sales em Turim; era grande o número de jovens ali reunidos,
esperando que chegasse a sua vez. Pelo confessionário passam dez, passam vinte, e chega
finalmente um que, tendo já feito uma parte da confissão, pára de repente.
— Continue, diz-lhe D. Bosco, que por inspiração divina lia na consciência dos seus
filhos. — Continue! E o resto?
— Não há mais nada, Padre, mais nada!
Não temas, meu filho, continua o Santo, o Confessor não ralha, não castiga, perdoa
sempre, perdoa sempre, perdoa tudo em nome de Deus; tem coragem...confessa-te bem...
— Não há mais nada! Nada mais!...
— Mas por que, meu filho, queres, com uma confissão sacrílega, dar prazer ao
demônio... causar tristeza a Jesus, fazê-lo chorar?
— Garanto-lhe Padre, que não tenho mais nada a dizer!
D. Bosco que vê o perigo que o infeliz jovem corre, inspirado por Deus, abandona a
luta inútil e diz:
— Pois bem, olha quem está atrás de ti!
O rapaz vira-se de repente, solta um grito agudo e, agarrando-se ao pescoço de D.
Bosco exclama:
— Sim Padre, eu tenho mais este pecado...
E conta o pecado que não ousava confessar... Os companheiros que estavam na igreja
ouviram o grito; assim que saíram, cercaram o rapaz, e, curiosos, queriam saber o que tinha
acontecido. E ele sorrindo, apesar de estar ainda um tanto assustado:
Se vocês soubessem... Eu tinha cometido uma falta que não ousava confessar. D.
Bosco leu meu coração... e eu vi o demônio que, sob a figura de um gorila de olhos de fogo e
garras afiadas, estava pronto para me agarrar!
D. — D. Bosco era um Santo! Que sorte confessar com um Santo; não é, Padre?
M. — Todos os confessores representam Jesus Cristo e Jesus Cristo é sempre Santo;
Ele tudo sabe, Ele vê tudo, tem pena de todos, perdoa tudo!
D. — Mas mesmo assim o demônio procura enganar e trair nas confissões?
M. — Justamente; em todas as ocasiões. Assim como o lobo agarra as ovelhas pela
garganta para que não gritem, e as carrega e as devora, assim também faz o demônio com
certas almas; agarra-as pela garganta afim de que não confessem os pecados e as arrasta
miseravelmente para o inferno.
D. — Que espertalhão malvado! Mas haverá quem, depois de enganado uma vez, se
deixe levar por esse impostor?
M. — Há muitos, muitíssimos, infelizmente! Ai daquele que começa a seguir por
esse caminho! São geralmente os que cometem pecados contra a pureza que enveredam por
tal caminho! Geralmente não há dificuldade em confessar os pecados contra a fé, os pecados
de blasfêmias, os de profanação dos dias festivos, os de desobediência, de vingança e mesmo
os de furto; mas quando se trata de acusar pecados de impureza, ou ter que acrescentar certas
circunstancias que os acompanharam, ou ainda quando se trata de dizer o número bastante
considerável dessas faltas, então uma maldita vergonha surge e fecha sacrilegamente a boca
do penitente. De mais a mais, a confissão sacrílega geralmente não fica sozinha. Depois de
uma vem outras e assim essas almas infelizes continuam durante anos e anos, e além disso
acrescentam a essas confissões mal feitas outras tantas Comunhões sacrílegas. E não raro,
acontece que aqueles que, tendo começado a esconder pecados graves desde as primeiras
confissões, chegam a uma idade avançada sem nunca fazerem uma boa confissão e sem
nunca repararem a desordem de suas almas.
É inacreditável, nota o Padre da Bérgamo, é inacreditável como o medo e a vergonha
são comuns principalmente entre os moços. Daí vem o hábito de continuar a calar os pecados
para não sofrer a humilhação, o sacrifício de confessá-los. S. Leonardo afirma ter tido a seus
pés pessoas que, mesmo em perigo de morte não puderam vencer a vergonha que lhes
fechava a boca. S. Afonso recomenda aos padres que falem frequentemente nos seus sermões
com calor, com insistência, sobre esse perigo da vergonha que faz calar e insiste para que
façam ver ao povo como as confissões mal feitas arruínam as almas, porque essa praga das
confissões sacrílegas reina por toda a parte, principalmente nos lugarejos. E, como é comum
que fatos e exemplos impressionem o povo, sugere aos padres que contem muitos exemplos
de almas que se perderam por causa de pecados não confessados.
D. — Conte alguns, Padre!
M. — Com muito prazer!
Conta-se que uma menina de sete anos tinha tido a infelicidade de cometer certos
atos impuros. Envergonhada, não ousou confessá-los na ocasião e nem mais tarde. Tendo
adoecido gravemente, chamou o confessor, recebeu o Santo Viático, a Extrema-Unção e
morreu! Todos, mãe, irmãs, e amigas lamentaram a sua perda, mas era para elas um conforto
julgá-la salva e santa. Porém, três dias depois do enterro, quando o Sacerdote se aproximava
do altar para celebrar em sufrágio de sua alma, sentiu que o seguravam pelo braço, e uma voz
triste e comovente lhe dizia baixinho: — Padre, não reze por mim porque eu estou condenada!
Condenada por certos pecados que ocultei na confissão desde os sete anos.
Uma outra menina de 13 anos na ocasião da Páscoa tinha comungado junto com as
companheiras: mas eis que, logo depois de recebida a santa partícula tem um
estremecimento, contorce-se e cai por terra. Os presentes acodem assustados e a carregam
para uma casa vizinha. Acabada a função, o Vigário se apressa a correr à cabeceira da
menina que continua a delirar e debater-se; chama-a pelo nome e diz-lhe:
— Coragem, confia tudo a Jesus, àquele Jesus que recebeste na Comunhão!
Ouvindo essas palavras, ela arregala os olhos e, horrorizada exclama:
— A Jesus?!... a Jesus?! Ah não! Eu o recebi mal, eu cometi um sacrilégio
escondendo certos pecados na confissão. — E, continuando a debater-se, expira pouco
depois diante dos presentes comovidos e penalizados.
M. — O quê me diz desses exemplos?
D. — Digo que são terríveis e bastante para demonstrar como é grande o mal das
confissões mal feitas.
M. — Não estranhe, portanto a nossa insistência sobre a sinceridade requerida para
as confissões. Eu, que, desde os primeiros anos de Sacerdócio, por graça de Deus, tive a
sorte de começar a catequizar e a pregar para jovens e adultos e continuo ainda hoje a
exercitar-me nesta obra consoladora e frutuosíssima, nunca perdi o hábito de falar
frequentemente sobre a necessidade da confissão sincera e posso dizer que nunca me
arrependi.
Ah! quantos jovens e adultos eu consolei, reconduzi ao bom caminho; quantos eu
salvei nos Exercícios Espirituais, nas Missões e mesmo nas simples conferências e palestras!
D. — Tem razão, Padre; de fato, nenhum sermão é ouvido de tão boa vontade como
os que versam sobre a confissão. ________________________

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