IV. NA SANTA MISSA, JESUS CRISTO RENOVA
SUA ENCARNAÇÃO
No capítulo precedente, tratamos
sucintamente dos mistérios da santa Missa. Meditemo-los agora, uns após outros,
começando pela encarnação.
Foi um inestimável benefício da divina
Misericórdia, que, para nossa salvação, o Verbo descesse do céu e, pela
operação do Espírito Santo, se fizesse carne no seio imaculado de Maria
Santíssima. Este mistério incompreensível, o sacerdote adora-o de joelhos nas
palavras do Credo: "Et incarnatus est".
Ora, Jesus Cristo não se contentou com
fazer-se homem somente uma vez, antes inventou, em sua infinita sabedoria, o
meio de renovar, incessantemente, a satisfação oferecida ao Pai e ao Espírito
Santo pela sua primeira encarnação: instituiu a santa Missa.
A encarnação na Missa é mística, porém
real. A santa Igreja dá este testemunho nas orações da Missa da 9ª dominga
depois de Pentecostes dizendo por que todas as vezes que se oferece este
sacrifício comemorativo, renova-se a obra de nossa redenção.
Considerando estas maravilhas, Santo
Agostinho exclama: "Oh! sublime dignidade do sacerdote, em cujas mãos
Jesus Cristo se encarna de novo. Oh! celeste mistério operado, tão
maravilhosamente, pelo Padre, pelo Filho e pelo Espírito Santo, por intermédio
do sacerdote!" (Homil. 2. in Os. 37).
Oh! dignidade dos fiéis, acrescentamos,
pela salvação dos quais Jesus Cristo se faz carne, de maneira mística,
diariamente! Que consolação, para nós, homens miseráveis, de sermos amados tão
ternamente pelo nosso Deus!
"A Imitação de Cisto" diz:
"Quando celebrares ou assistires à santa Missa, este mistério deve
parecer-te tão grande, tão novo como se, nesse dia, Jesus, descendo pela
primeira vez ao seio da Virgem, se fizesse homem" (Livro 4, cap. 2).
Vejamos agora como e por quantos milagres,
Jesus Cristo renova sua encarnação sobre o altar.
É de fé que o sacerdote, antes da
consagração, tem somente entre as mãos o pão, ao passo que, no momento de
pronunciar a última palavra da consagração, esse pão, pela onipotência divina,
torna-se o verdadeiro Corpo de Jesus Cristo. A esse Corpo está unido, por
concomitância, o precioso Sangue, pois um corpo vivo não pode estar privado de
sangue.
Não é o maior dos milagres esta
transubstanciação do pão e do vinho? Não é a maravilha das maravilhas que não
haja mais nem pão nem vinho, apesar de ficarem as aparências, visto que a santa
Hóstia e o precioso sangue conservam a forma, a cor, o gosto, que tinham antes
da transubstanciação? Não é o prodígio dos prodígios que as espécies subsistem
sem aderir a cousa alguma e são conservadas sobrenaturalmente?
Santa Gertrudes aprofundava-se nestes
prodígios. Um dia, enquanto se pronunciavam as palavras da consagração, disse a
Deus: "Senhor, o mistério que operais agora é tão grande e tão espantoso,
que, neste grau de baixeza em que estou, não ousarei levantar os olhos;
abater-me-ei e colocar-me-ei na mais profunda humildade, esperando que me
cedais uma parte do Sacrifício que dá a vida a todos os eleitos".
Jesus Cristo replicou-lhe: "Se
dispuseres tua vontade a sofrer, voluntariamente, toda a sorte de trabalhos e
penas, para que este Sacrifício, que é salutar a todos os cristãos, vivos e
mortos, se cumpra plenamente e em toda excelência, terás contribuído segundo
tuas forças, para o fim de minha obra" (Der heiligen Jungfrau Gertrudis
Leben und Offenbarungen, t. 1, p. 174).
A exemplo de Santa Gertrudes, considera,
durante a elevação, o grande milagre que Deus opera sobre o altar. Excita em ti
o ardente desejo de que este Sacrifício contribua para a maior glória de Deus e
a salvação de teus irmãos. Nesta intenção, repete com Santa Gertrudes:
"Dulcíssimo Jesus, a obra que ides efetuar agora, é tão excelente que, em
minha humilhação, não ouso contemplá-la; por isso, abismando-me em meu nada,
espero também, para mim, alguma parte, visto que esta imolação será proveitosa a
todos os eleitos. Oh! meu Jesus, se eu pudesse cooperar para ela, empregaria
todas as minhas forças, não me espantariam as maiores penas, a fim de que este
Sacrifício pudesse totalmente aproveitar aos vivos e aos mortos. Suplico-vos,
bom Jesus, que concedais ao celebrante e aos assistentes todas as graças
necessárias para este fim".
Consideremos a imensidade do poder
consagrador que Jesus Cristo concedeu aos seus sacerdotes. O bem-aventurado
Alano fala dele deste modo: "A onipotência de Deus Padre é tão grande que
criou do nada o céu e a terra; mas o poder do sacerdote é tal que produz o
Filho de Deus na Eucaristia e no santo Sacrifício" (Alanus de Rupe, part.
4, c. 37). Deus provou que "amou tanto ao mundo, que lhe deu o Filho
unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna", primeiramente, quando enviou seu Filho à terra, e torna a
prová-lo, cada dia, fazendo de novo descer o Verbo para renovar sua encarnação
na santa Missa. Pela encarnação no seio de Nossa Senhora, Jesus Cristo adquiriu
imensos tesouros de graças; pela santa Missa, distribui esses tesouros a todos
os que celebram, ou assistem ao santo Sacrifício.
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