26 de fevereiro de 2015

Confessai-vos Bem - Padre Luiz Chiavarino

Segredo inviolável

D. — Padre, será que alguma vez não acontece que o confessor conte algum pecado
ouvido na confissão?
M. — Absolutamente nunca! Um tríplice segredo fecha-lhe a boca; nisto entra a
vontade de Deus que não permite que se cometam faltas no que diz respeito a este capítulo.
De fato, a confissão existe há mil e novecentos anos, e nunca aconteceu que um confessor,
por nenhum motivo, tenha divulgado um único pecado ouvido na confissão.
Martinho Lutero que era um frade zeloso, renegou a sua fé, fez se protestante,
tornou-se inimigo da igreja falou e escreveu contra a Igreja calúnias infâmias sem fim, mas
nunca, nem uma vez sequer, falou de coisas ouvidas na confissão.
Um dia, achava-se ele numa estalagem com alguns amigos, estes, vendo-o meio
embriagado, tiveram a idéia de interrogá-lo, justamente a esse respeito. Antes nunca o
tivessem feito! Lutero, de um momento para o outro, ficou furioso, e, agarrando uma garrafa,
teria quebrado a cabeça daqueles malvados se eles, mais do que depressa, não tivessem
fugido.
O segredo da confissão é inviolável, mesmo diante da morte.
D. — Até diante da morte?!
M. — Certamente! Eis aqui um dos mil fatos que eu poderia citar como prova:
Justamente durante a quaresma de 1873, um missionário famoso pregava com grande
sucesso numa das principais Igrejas de Paris. No meio da multidão enorme que acorria para
ouvi-lo, havia também alguns incrédulos, os quais, tendo-o ouvido falar sobre a inviolabilidade
da confissão, quiseram fazer uma experiência. Depois de terem combinado o
plano, um deles se finge de doente e outros dois procuram o sacerdote e o convidam para
acudir junto ao leito do enfermo. O missionário de Deus, concorda de pronto, e acompanha
os dois homens que, fazendo-o entrar num carro fechado, vendam-lhe os olhos; depois de
uma meia hora de corrida, fazem-no descer na frente de um palacete, e subindo por uma
escada o introduzem em um apartamento junto a cabeceira de um homem que se confessa
realmente. Acabada a confissão, voltam os dois companheiros e o fazem descer por escadas
até um subterrâneo, onde lhe tiram a venda e apontando-lhe duas pistolas carregadas o
intimam a referir o que ouvira na confissão .
Muito calmo o Missionário responde:
— Os senhores, talvez, não sabem que a confissão é um segredo?
"Um tríplice segredo fecha-lhe a boca”
— Deixe de desculpas! Aqui ninguém nos vê, ninguém nos ouve; fale ou morrerá.
— Se assim é, estou em suas mãos, disparem à vontade, e que Deus seja testemunha
do meu dever. Assim dizendo, ajoelha-se, desabotoa a batina, e apresenta o peito às balas.
Nesse ponto a cena se transforma, os dois homens erguem-no, pedem-lhe perdão pela
dura prova a que o submeteram e acrescentam: "Agora nós também acreditamos na confissão
e, dentro em pouco, estaremos de joelhos no confessionário".
Vendaram-lhe novamente os olhos e o reconduziram de carro até à casa, renovando
as desculpas e promessas, que depois foram mantidas.
D. — Padre, todo o sacerdote, num caso desses, seria obrigado a fazer o mesmo?
M. — Certamente! e Deus não deixaria de dar-lhe a graça e a força necessárias, não
faltam mártires do sigilo sacramental. Ouça:
São João Nepomucemo era confessor da rainha Joana, mulher de Venceslau, rei da
Boêmia. Este por causa de injustas suspeitas motivadas pelo ciúme, pretendia que João
referisse as culpas da rainha, ouvidas em confissão. Como o Santo se opôs com inabalável
resistência, o rei impiedoso mandou que o trancassem numa prisão, onde seria tratado com
barbaridade extrema. Finalmente, chamando-o à sua presença, depois de novas promessas e
ameaças ainda mais terríveis, ordenou que o costurassem num saco de couro, fechado por
uma corda, na extremidade da qual deviam amarrar uma pedra pesadíssima, e que o
jogassem ao rio Moldava. Queria que lá em baixo, no fundo do rio o padre morresse e
apodrecesse, escondido de todos.
Mas oh! prodígio!... Naquela mesma noite o saco flutuava levemente sobre as ondas,
escoltado por uma luz vivíssima e uma harmonia suave como vozes de anjos acompanhavam.
Depois de tirado das águas, enterraram-no com pompa e solenidade. E quando, em 1729,
quase quatrocentos anos mais tarde, foi proclamado santo, a sua língua estava intacta, e
fresquíssima, como se fosse um prêmio do seu silêncio.
Foi então que São João Nepomucemo foi chamado "o mártir do segredo da
confissão".
Não faz muito tempo que, pelos jornais da Rússia, se espalhava a notícia de um
vigário condenado aos trabalhos forçados, como assassino de um rendeiro do lugarejo. O seu
fuzil descarregado, encontrado na sacristia, atestava o crime. Passaram-se vinte anos: o
organista da paróquia está à morte; chama o juiz e confessa que ele mesmo matara o infeliz
rendeiro para casar com a viúva, o que de fato se dera. Tinha acusado o Vigário, e para
provar-lhe a culpabilidade tinha posto o fuzil na sacristia. Como meio seguro de impedir que
o Padre falasse, tinha-se confessado com ele, contando-lhe tudo o que fizera.
Diante disso, as autoridades telegrafaram sem demora a Petersburgo, ordenando que
o Vigário Kobjlowes fosse posto em liberdade imediatamente. Responderam que o Vigário
tinha morrido havia já alguns meses. O heróico padre tinha carregado à sepultura
o segredo da confissão, porque o Confessor pode ser um mártir, mas nunca será um traidor.
E agora, você está bem convencido do grande segredo da confissão?
D. — Estou convencidissimo! Mas esse segredo dura, porém até à morte do
penitente; depois, não há mais obrigação?
M. — O segredo perdura sempre, estando o penitente em vida e depois da sua morte;
é eterno, assim como Deus é eterno. Isto deve inspirar-nos coragem e confiança absolutas,
sem limites, de confessar sinceramente os nossos pecados, desde que podemos estar certos
de que eles ficarão sepultados num silêncio eterno. Se pelo contrário, nos deixarmos levar
por um pudor mal compreendido a escondê-los e a calá-los diante do confessor, serão um dia
manifestados diante de todo o mundo no juízo universal, contra a nossa vontade, para a nossa
vergonha e para a nossa ruína irreparável. Sinceridade, portanto, sinceridade!
D. — Então, Padre, procede mal quem diz: eu não ouso confessar os meus pecados,
porque tenho medo de que o Confessor os conte a terceiros?
M. — Quem fala assim, mente a si mesmo e lança contra os confessores a mais
infame das calúnias.
D. — Mais uma pergunta: não pode o confessor servir-se em seu próprio favor, das
coisas ouvidas na confissão?
M. — Não, não pode, não deve fazê-lo absolutamente, e jamais o fará. Pelo contrário,
se acontecer que o confessor venha a saber na confissão de uma culpa que já conhecia
anteriormente ou por tê-la visto ou porque lhe tenha sido referida, nunca mais fala, nela,
justamente para que não pensem que ele se serviu da confissão e que violou o segredo. Eis
até a que ponto chega o sigilo sacramental.

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