19 de fevereiro de 2015

Confessai-vos Bem - Padre Luiz Chiavarino.

O principal motivo da perdição

Discípulo — Padre, poderia explicar-me a razão deste livro?
Mestre — Chamei-o assim por causa do fato seguinte:
Conta-se certa moça, tendo caído por desgraça num desses pecados que tanto
envergonham na confissão, vivia triste e desconsolada. Passaram-se assim muitos meses,
sem que nenhuma das companheiras da coitada descobrisse a causa de tanta aflição. Nesse
ínterim, aconteceu que a sua melhor amiga, muito virtuosa e devota, morreu santamente.
Uma noite, a chamam pelo nome, quando está no melhor do sono; reconhece perfeitamente a
voz da amiguinha morta que vai repetindo:
Confesse-se bem... se você soubesse o quanto Jesus e bom!
A moça tomou aquela voz por uma revelação do céu, criou coragem e, decidida,
confessou o pecado que era a causa de tanta vergonha e de tantas lágrimas. Naquela ocasião,
tamanha foi a sua comoção, tão grande o seu alívio que depois disso, contava o fato a todo o
mundo, e repetia por sua vez: "Experimentem e vejam o quanto Jesus é bom".
D. — Muito bem! — acredito nisso plenamente, porque, já fiz mais de cem vezes a
experiência de tal verdade.
M. — Pois então agradeça a Deus de todo o coração e continue a fazer boas
confissões. Ai daquele que envereda, pelo caminho do sacrilégio! É essa a maior desgraça
que nos pode acontecer, porque dela não teremos mais a força de nos afastar, e assim
prosseguiremos, talvez até à morte, precipitando-nos no abismo da perdição eterna.
D. — É assim tão nefanda uma confissão mal feita?
M. — É o principal motivo, a causa capital da perdição!
D. — Deveras?
M. — Assim é, infelizmente! São as confissões mal feitas o motivo pelo qual tantas
pessoas perdem suas almas e vão para o inferno.
D. — Mas não há exagero nisso?
M. — Exagero nenhum, e nem sou eu quem o diz: afirmam-nos os Santos que
melhor conhecem as almas e viu-o Santa Teresa em uma visão.
Estava a Santa rezando, quando, de repente abrem-se diante dos seus olhos uma
voragem profunda, cheia de fogo e de chamas; e nesse abismo precipitam-se com
abundância, como neve no inverno, as pobres almas perdidas.
... são as confissões mal feitas o motivo pelo qual tantas pessoas perdem suas almas e
vão para o inferno!...
Assustada, a Santa levanta os olhos ao céu e:
— Meu Deus, exclama, meu Deus! O que é que eu estou vendo? Quem são elas,
quem são todas essas almas que se perdem? Com certeza devem ser as almas dos pobres
infiéis.
— Não, Teresa, não! Responde o Senhor. As almas que neste momento vês
precipitarem-se no inferno com o meu consentimento, são, todas elas, almas de cristãos
como tu.
— Mas então devem ser almas de pessoas que não acreditavam, que não praticavam
a Religião, que não freqüentavam os Sacramentos!
— Não, Teresa, não! Fica sabendo que essas almas pertencem todas a cristãos
batizados como tu, e, que, como tu, eram crentes e praticantes...
— Mas se assim é, naturalmente essa gente nunca se confessou, nem mesmo na hora
da morte...
— No entanto, são almas que se confessavam, e confessaram-se também antes de
morrer...
— Por qual motivo então, ó meu Deus, são elas condenadas?
— São condenadas porque se confessaram mal...
Vai Teresa, conta a todos esta visão e recomenda aos Bispos e Sacerdotes que nunca
se cansem de pregar sobre a importância da confissão e contra as confissões mal feitas, afim
de que os meus amados cristãos não transformem “o remédio em veneno; afim de que não se
sirvam mal desse sacramento, que é o sacramento da misericórdia e do perdão.”
D. — Pobre Jesus!... São assim tão numerosas as confissões mal feitas?
M. — S. Afonso, S. Felipe Néri, S. Leonardo de Porto Maurício, afirmam
unanimemente que, infelizmente, o número das confissões mal feitas é incalculável. Eles,
que passaram à vida no confessionário e à cabeceira dos moribundos, sabem dizer a pura verdade.
E nós que erramos, de terra em terra, pregando exercícios e missões, somos obrigados
a afirmar a mesma coisa. O célebre Padre Sarnelli, na sua obra “O mundo santificado”
exclama: “Infelizmente são incalculáveis as almas que fazem confissões sacrílegas: sabem
disso, em parte, os Missionários de longa experiência, e cada um de nós virá sabê-lo, com
grande pasmo, no vale de Josafá. Não só nas grandes capitais, mas nas cidades menores, nas
comunidades, no meio daqueles que passam por piedosos e devotos encontram-se em grande
número os sacrílegos...”
O Padre Tranquillini, da Companhia de Jesus, tendo sido chamado à cabeceira duma
senhora gravemente enferma, acode com solicitude e a confessa: mas, chegada à hora da
absolvição, ele sente qualquer coisa que, como se fosse uma mão de ferro, o impede de
prosseguir.
— Minha senhora, diz ele, talvez se tenha esquecido de alguma coisa...
— Impossível, Padre, estou me preparando há oito dias...!
Depois de algumas preces, tenta uma segunda vez; mas, a mesma mão o impede de
novo.
— Desculpe, minha senhora, replica o Padre, talvez a senhora não ouse confessar
algum pecado...
— O quê diz, Padre? Isso me ofende. Como pode supor que eu queira cometer um
sacrilégio?
Torna a tentar pela terceira vez a absolvição e ainda uma vez aquela força invisível o
impede de agir. Não podendo compreender qual o mistério que se escondia num fato tão
extraordinário, cai de joelhos, e, chorando, suplica àquela senhora, que não se traia, que não
seja a causa da própria perdição.
— Padre, exclama ela então, Padre, há quinze anos que eu me confesso mal!
Veja, portanto, como é fácil achar-se quem se confessa mal!
D. — Chega, Padre, isto me faz estremecer.
M. — Antes tremer aqui do que queimar no inferno: e, falando disso, lembro-me de
outro exemplo. São João Bosco, numa obra sobre a confissão diz textualmente: "Eu vos
afirmo que enquanto escrevo, minha mão treme, porque eu penso no número de cristãos que
vão para a perdição eterna, somente por terem escondido, ou por não terem exposto
sinceramente os seus pecados na confissão"!
D. — O senhor disse também: por não terem exposto sinceramente os seus pecados?
M. — Certamente! Aquele que, por exemplo, confessa só os maus pensamentos,
quando além disso cometeu ações ou atos impuros; aquele que confessa ter cometido tais
atos sozinho, quando os cometeu com outros; aquele que esconde o número conhecido de
suas faltas; aquele que, interrogado pelo confessor não diz a verdade; todos esses fazem más
confissões.
D. — O quê é que pensam os que assim procedem?
M. — Pensam que no futuro poderão remediar, isto é, confessam-se para viver como
diz São Felipe Néri, quando toda e qualquer confissão devia ser feita como se fosse a última,
como se nos preparássemos para a morte.
Um dia uma mulher do povo confessou-se com um célebre Missionário: de volta do
confessionário, ela passou casualmente por cima de uma laje que cobria uma sepultura. A
laje, gasta pelo tempo, cedeu, e a mulher caiu lá em baixo, no meio dos ossos e dos
esqueletos. Imagine o susto de todas as pessoas que acudiram; mas isso não foi nada,
comparado ao terror o aos berros da coitada! Logo depois que, com muito esforço e trabalho
conseguiram tirar a mulher dali, ela, que escapou ilesa, voou para o confessionário e:
— Padre, padre, até hoje eu só me tinha confessado para viver, mas agora que eu vi a
morte diante do mim quero confessar-me como se eu fosse morrer – e tornou a fazer,
tremendo, aquela confissão que, momentos antes, tinha feito mal.
D. — Ah! o pensamento da morte é terrível.
M. — É terrível sim, mas muitíssimo salutar e é pior isso que, cada vez que nos
confessamos, devíamos tê-lo na mente.
Dentre os inúmeros fatos maravilhosos que se contam na história de D. Bosco
destaca-se este: No Salesiano de Turim faziam-se os santos exercícios espirituais, e, todos os
presentes, alunos e internos com a máxima seriedade, muito piedosos, rezavam com fervor e
colhiam os frutos de suas preces para o bem de suas almas. Enquanto esses cumpriam o seu
piedoso dever, um jovem, refratário a toda e qualquer suplica e aos mais afetuosos cuidados
de D. Bosco e dos demais superiores, teimou em não se querer confessar nem mesmo
naquela circunstância. Os bons Padres tinham feito todo o possível para convencê-lo, mas
inutilmente. Ele repetia sempre: “Em qualquer outra ocasião, sim, mas agora não! Vou
pensar nisso depois... Agora não sei tomar uma resolução”!
Com essa desculpa, chegou ao ultimo dia das cerimônias; D. Bosco, então recorreu a
um estratagema. Escreveu numa folha de papel estas palavras: "... e se você morresse durante
a noite?!..." e escondeu-a entre o lençol e o travesseiro do rapaz. Cai à noite: todos se vão
deitar, e o nosso jovem, despreocupado, também se despe, mas eis que quando vai entrar na
cama encontra a tal folha. Um oh! de espanto que ele não pode conter lhe sai dos lábios; pega
no papel olha-o, vira-o e revira-o e, por fim, descobrindo que há nele qualquer coisa escrita,
arregala os olhos e lê: “... e se você morresse durante a noite”... D. Bosco.
D. Bosco! Exclama ele; mas D. Bosco é um santo... Ele conhece o futuro... Talvez
aconteça isso mesmo! E se eu morresse durante a noite? ' Mas eu não quero morrer, não:
quero viver, quero viver e... Enquanto isso, para que os companheiros não reparem, ele se
deita, cobre-se e cheio de coragem, tenta pegar no sono. Qual nada! Adormecer naquele
estado? Com aquelas palavras que o atormentavam como se fossem espinhos agudos? É
impossível! Ele vira e revira na cama, fecha os olhos com força, mas... tudo inútil; ouve sem
cessar, cada vez mais vivo, cada vez mais forte, o som daquelas palavras; ele imagina, como
se visse o inferno aberto e Jesus que o condena, e diz: "Pobre de mim! E se eu morresse
mesmo?..." Um arrepio gelado corre-lhe pela espinha, ele sua frio...
— Ah, não — exclama, — eu não quero ir para o inferno, eu quero me confessar...
Invoca a proteção de Maria Auxiliadora, do seu Anjo da Guarda e depois, decidido,
veste-se, sai devagarzinho, desce a escada, atravessa corredores, sobe para o quarto de D.
Bosco e bate na porta.
D. Bosco, que, como bom padre o esperava, abre a porta e:
— Quem é você?... A estas horas?... O que é que você quer?
— Oh! D. Bosco, eu quero confessar-me!
— À vontade! se você soubesse com que ansiedade eu o esperei!
Introduzido na antecâmara, o rapaz cai de joelhos e, depois de feita a confissão, com
o perdão de Jesus volta feliz e tranqüilo para a cama. E já não tem medo! O pensamento da
morte já não o assusta e ele diz:
“Como estou contente! Mesmo que eu tenha que morrer que importa se eu recuperei
a graça, se eu tornei a ser amigo de Jesus”!
Adormece serenamente e sonha... vê o céu aberto, os Anjos jubilosos que voam
levíssimos, entoando os cânticos mais lindos, os mais belos hinos!
Que rapaz de sorte!
M. -- De sorte são todos aqueles que acreditam - no grande bem da confissão e se
servem dela, impedindo assim a própria perdição; enquanto que é bem diferente o caso da
infeliz de quem lhe vou falar. São Leonardo de Porto Maurício, acode à cabeceira de uma
moribunda, acompanhado por um frade leigo. Depois de confessada a doente, o padre sai
sossegado, e, reunindo-se ao companheiro que o esperava no quarto vizinho, apronta-se para
sair, quando este, muito triste e assustado lhe diz:
— "Padre Leonardo, o quê significa aquilo que eu vi?"
— O que é que você viu?
-- Eu vi uma mão horrendamente negra que vagava pela antecâmara; e, assim que o
senhor saiu ela entrou, rápida como um raio, no quarto da doente.
Diante de tal história São Leonardo volta para trás, torna a entrar no quarto e oh! que
cena terrível. Aquela mão negra estrangulava aquela desgraçada que, com olhos fora das
órbitas, e a língua caída, morria gritando: “Malditos sejam os sacrilégios... Malditos sejam os
sacrilégios...”
D. — Oh, Padre, então é mesmo verdade que as confissões mal feitas são a causa
principal da perdição!
M. — Por conseguinte, guerra à mentira e sinceridade absoluta na confissão.

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