30 de janeiro de 2012

O Amor das Almas, S. Afonso de Ligório. CAPÍTULO VIII.

Sobre a flagelação de Jesus Cristo.

1. Entremos no pretório de Pilatos, feito um dia horrendo teatro das ignomínias e das dores de Jesus; vejamos quanto foi injusto, ignominioso e cruel o suplício aí dado ao Salvador do mundo. - Vendo Pilatos que os judeus continuavam a tumultuar contra Jesus, ele, o injustíssimo juiz, condenou-o a ser flagelado: Tunc ergo apprehendit Pilatus Iesum et flagellavitI (Io. XIX, 1). Pensou o iníquo juiz que com este modo bárbaro ganhar-lhe-ia a compaixão dos inimigos, que assim o livrariam da morte: Corripiam ergo illum, disse, et dimittam (Luc. XXIII, 22). Era a flagelação castigo só dos escravos. Portanto, diz S. Bernardo, o nosso amoroso Redentor quis tomar a forma não somente de servo para sujeitar-se à vontade alheia, mas até de servo mau, para ser castigado com os flagelos, e assim pagar a pena merecida pelo homem, feito já servo do pecado: Non solum formam servi accepit ut subesset, sed etiam mali servi ut vapularet, et servi peccati ut poenam solveret [1].
Ó Filho de Deus, ó grande amante da minha alma, como vós, Senhor de infinita majestade, pudestes amar tanto um objeto assim tão vil e ingrato como eu, a ponto de submeter-vos a tantas penas para livrar-me da pena devida? Um Deus flagelado! É mais admirável um Deus sofrer um mínimo golpe, que se fossem destruídos todos os homens e todos os anjos. Ah meu Jesus, perdoai-me as ofensas que vos fiz, e depois castigai-me como vos agradar. Mas basta só que eu vos ame e vós me ameis, e então me contento de padecer todas as penas que quiserdes.
2. Chegado que foi ao pretório, o nosso amável Salvador, como foi revelado a S. Brígida (Rev. 1. IV, c. 70) [2], ao comando dos ministros, ele mesmo se despiu, abraçou a coluna, e então aplicou nela as mãos para ser ligado. Ó Deus, já se dá princípio ao cruel tormento! Ó anjos do céu, vinde assistir a este doloroso espetáculo; e se não vos é permitido livrar o vosso rei da bárbara tortura que lhe preparam os homens, ao menos vinde chorar de compaixão. - E tu, minha alma, imagina-te presente nesta horrenda carnificina do teu amado Redentor. Olha como está o teu aflito Jesus, com a cabeça abaixada, olhando a terra, e, todo tímido pelo rubor, espera aquele grande tormento. Eis que aqueles bárbaros, como tantos cães raivosos já se aventam com os flagelos sobre o inocente cordeiro. Vê lá quem bate no peito, quem golpeia as costas, quem fere os flancos e quem as pernas; também a sagrada cabeça e a sua bela face não ficam isentas dos golpes. Ai! Já escorre aquele sangue divino de todas as partes; já de sangue estão cheios os flagelos, e as mãos dos carnífices, a coluna e a terra. Laeditur, chora S. Pedro Damião, totoque flagris corpore laniatur; nunc scapulas, nunc crura cingunt: vulnera vulneribus, et plagas plagis recentibus addunt [3].
Ah, cruéis, que fazeis? Parai, parai: sabei que errastes. Este homem, que vós atormentais, é inocente, e santo: sou eu o réu; a mim, a mim, que pequei, tocam os flagelos e os tormentos. Mas vós não me ouvis. - Eterno Pai, e como podeis sofrer esta grande injustiça? Como podeis ver o vosso Filho dileto padecer assim e não o socorrer? Que crime ele cometeu que merecesse um castigo tão vergonhoso e atroz?
3. Propter scelus populi mei percussi eum (Is. LIII, 8). Eu bem sei, diz o Eterno Pai, que este meu Filho é inocente, mas porque ele se ofereceu para satisfazer a minha justiça por todos os pecados dos homens, convém que eu o abandone assim ao furor dos seus inimigos. Portanto, ó meu adorado Salvador, para pagar os nossos delitos, e especialmente os pecados de impureza - que é o pecado mais comum dos homens - quisestes que fossem laceradas as vossas puríssimas carnes? E quem não exclamará com S. Bernardo: O ineffabilem Filii Dei erga peccatores caritatem! [4]
Ah, meu Senhor flagelado, agradeço-vos tanto amor, e dói-me que eu também, com os meus pecados, tenha chegado a flagelar-vos. Odeio, meu Jesus, todos aqueles prazeres malvados que vos custaram tanta dor. Ó, já há quantos anos deveria eu queimar no inferno! Mas vós, porque me esperastes até agora com tanta paciência? Suportastes-me, afim de que eu, vencido finalmente por tantas finezas de amor, rendesse-me a amar-vos, deixando o pecado. Meu amado Redentor, não quero resistir mais ao vosso afeto; eu quero amar-vos quanto posso de agora em diante. Mas vós já conheceis a minha fraqueza, sabeis das traições que vos fiz. Desprendei-me de todas as afeições terrenas que me impedem de ser todo vosso. Recordai-me amiúde o amor que me tendes, e a obrigação que tenho de amar-vos. Em vós ponho todas as minhas esperanças, meu Deus, meu amor, meu tudo.
4. Chora S. Boaventura: Fluit regius sanguis, superadditur livor super livorem, fractura super fracturam [5]. Escorria já por tudo aquele sangue divino; aquele sagrado corpo se tornara todo uma chaga; mas aqueles cães com raiva não cessavam de adicionar ferida a ferida, como predisse o Profeta: Et super dolorem vulnerum meorum addiderunt (Ps. LXVIII, 27). De modo que os açoites não só chagavam todo o corpo, mas puxavam consigo até os pedaços pelos ares, e tanto foram abertas aquelas sagradas carnes, que se podiam contar os ossos: Concisa fuit caro, ut ossa dinumerari possent (Contens., loc. cit.) [6]. Diz Cornélio de Lápide (In c. XXVIII, Matth.) que, neste tormento, Jesus Cristo naturalmente devia morrer, mas ele, com a sua virtude divina, quis conservar-se em vida, a fim de sofrer penas maiores por nosso amor [7]. E antes disse S. Lourenço Justiniano: Debuit plane mori, se tamen reservavit ad vitam, volens graviora perferre [8].
Ah, meu Senhor amantíssimo! Vós sois digno de um amor infinito. Vós padecestes tanto, a fim de que eu vos amasse. Não permitais que eu, em vez de amar-vos, vos ofenda e desgoste mais. Que inferno à parte seria para mim, se eu, depois de ter conhecido o amor que me tivestes, miseravelmente me condenasse, desprezando um Deus vilipendiado, surrado e flagelado por mim! E que, além disso, depois que eu o ofendi tantas vezes, me perdoou com tanta piedade! Ah meu Jesus, não o permitais, não. Ó Deus, o amor e a paciência que tivestes comigo ser-me-ia, lá no inferno, um outro inferno, para mim mais tormentoso.
5. Cruel demais foi este tormento da flagelação ao nosso Redentor, pois, primeiro, muitos foram os ministros que o flagelaram: segundo a revelação feita a S. Maria Madalena de’ Pazzi foram não menos de sessenta (In vita P. VI) [9]. Ora, estes, instigados pelos demônios e mais ainda pelos sacerdotes, que temiam que Pilatos, depois daquele castigo, quisesse libertar o Senhor, como já anunciara dizendo: Corripiam ergo illum, et dimittam (Luc. XXIII, 22), puseram-se, com os flagelos, a privá-lo da vida. Convêm então os autores com S. Boaventura que eles escolheram, para este ofício, os instrumentos mais atrozes [10], de modo que cada golpe fez uma chaga, como afirma S. Anselmo [11], e que as batidas chegaram a vários milhares, flagelando, como escreveu o Pe. Crasset [12], não já segundo o costume dos hebreus, para os quais o Senhor proibiu que se passasse o número de quarenta golpes: Quadregenarium numerum non excedant, ne foede laceratus ante óculos tuos abeat frater tuus (Deut. XXV, 3); mas à maneira dos romanos, que não tinha medida.
Por isso refere José, o hebreu - que viveu pouco depois de nosso Senhor -, que Jesus foi lacerado de tal modo na flagelação, que chegavam a aparecerem-lhe descobertos os ossos das costelas [13]; como foi também revelado a S. Brígida pela SS. Virgem, que disse: Ego quae astabam, vidi corpus eius flagellatum usque ad costas, ita ut costae eius viderentur. Et quod amarius erat, quum retraherentur flagella, carnes ipsis flagellis sulcabantur (Lib. I, Rev. c. 10) [14]. A S. Teresa apareceu Jesus flagelado: por isso quis a santa que ele fosse pintado tal qual lhe aparecera, e disse ao pintor que, no cotovelo direito, havia um pedaço de carne pendurada; mas, perguntando então o pintor de que forma devia pintá-la, ele se voltou para o quadro, e encontrou o talho já formado (Cron. Disc. t. I, c. 14) [15]. Ah, meu Jesus amado e adorado, quanto padecestes por meu amor! Não sejam perdidos para mim tantas dores e tanto sangue!
6. Mas, só com as Escrituras bem se discute quanto foi desapiedada a flagelação de Jesus Cristo. E por que Pilatos, depois da flagelação, mostrou-o ao povo, dizento: Ecce homo, se não porque o nosso Salvador estava reduzido a uma figura tão digna de compaixão que Pilatos, fazendo-o apenas ver, creu que moveria a compaixão dos seus próprios inimigos, de modo que deixassem de pedir-lhe a morte? E por que, na viagem que então fez Jesus ao Calvário, as mulheres judias seguiam-no com lágrimas e lamentos? Sequebatur autem illum multa turba populi, et mulierum, quae plangebant, et lamentabantur eum (Luc. XXIII, 27). Acaso porque aquelas mulheres o amavam ou o consideravam inocente? Não, as mulheres, em sua maioria, seguem os sentimentos dos seus maridos, e por isso elas também o consideravam um réu; mas, porque Jesus, depois da flagelação, fazia uma vista tão horrenda e tão piedosa que movia a chorar até aqueles que o odiavam, por isso as mulheres choravam e suspiravam. Por que ainda nesta viagem os judeus tomaram-lhe a cruz de sobre as costas e deram-na a carregar ao Cireneu - segundo a opinião mais provável e como se deduz claramente de S. Mateus: Hunc angariaverunt, ut tolleret crucem eius (Matth., XXVII, 32) e de S. Lucas: Et imposuerunt illi crucem portare post Iesum (Luc. XXIII, 26) - talvez porque ele lhe tinham piedade e queriam aliviar-lhe a pena? Não, aqueles iníquos o odiavam e procuravam afligi-lo o máximo que podiam. Mas, como diz o B. Dionísio Cartusiano (In c. XXIII Luc.), timebant ne moreretur in via [16]. Vendo que o nosso Senhor, depois da flagelação, ficara exangue e tão privado de forças que quase não se podia sustentar em pé, e andava caindo pelo caminho sob a cruz, e ia caminhando, por assim dizer, expirando a alma a cada passo; por isso, a fim de levá-lo vivo até o Calvário, e vê-lo morto na cruz, como pretenderam, para que ficasse para sempre infame o seu nome: Eradamus eum, diziam eles, como predisse o profeta, de terra viventium, et nomen eius non memoretur amplius (Ier. XI, 19), por isso constrangeram o Cireneu a carregar a cruz.
Ah Senhor, grande é o meu contento em entender o quanto me haveis amado, e que agora conservais por mim o mesmo amor que me tínheis no tempo da vossa Paixão! Mas quão grande é a minha dor em pensar que ofendi um Deus tão bom! Pelo mérito da vossa flagelação, meu Jesus, peço-vos o perdão. Arrependo-me, sobre todos os males, de ter-vos ofendido, e proponho antes morrer que ofender-vos mais. Perdoai-me todos os erros que vos fiz, e dai-me a graça de amar-vos sempre de agora em diante.
7. O profeta Isaías representou mais claramente que todos o estado digno de compaixão, no qual previu reduzido o nosso Redentor. Disse ele que a sua santíssima carne na Paixão devia tornar-se não só chagada, mas toda quebrada e esmagada: Ipse autem vulneratus est propter iniquitates nostras, attritus est propter scelera nostra (Is. LIII, 5). Porque, segue dizendo o profeta, o seu Eterno Pai, para dar à sua justiça uma maior satisfação e para fazer compreender aos homens a deformidade do pecado, não se contentou até que não viu o Filho esmagado e consumido pelos flagelos: Et Dominus voluit conterere eum in infirmitate (Ibid., 10): de modo que o corpo bendito de Jesus deveu tornar-se como o corpo de um leproso, todo em chagas da cabeça aos pés: Et nos putavimus eum quase leprosum, et percussum a Deo (Ibid., 4).
Eis então, ó meu Senhor lacerado, a que estado vos reduziram as nossas iniquidades. O bone Iesu, nos peccavimus, et tu luis? (S. Bern.) [17]. Seja sempre bendita a vossa imensa caridade, e sede amado como mereceis por todos os pecadores, e especialmente por mim, que mais do que os outros vos desprezei.
8. Apareceu um dia Jesus flagelado à Irmã Vitória Angelini, e, mostrando-lhe o seu corpo todo ferido: “Estas chagas, disse-lhe, Vitória, todas te pedem amor” [18]. Amemus sponsum, diz o enamorado S. Agostinho, et quanto nobis deformior commendatur, tanto carior, et tanto dulcior factus est sponsae [19]. Sim, meu doce Salvador, vejo-vos todo cheio de chagas: vejo a vossa bela face, mas, ó Deus, que não aparece mais calma, mas horrenda e escurecida pelo sangue, pelas contusões e pelos escarros! Non est species ei, neque decor; et vidimus eum, et non erat aspectus (Is. LIII, 2). Mas, quanto mais deformado vos vejo, ó meu Senhor, tanto mais belo e amável me pareceis. E que são estes, senão sinais da ternura e do amor que me tendes?
Amo-vos, Jesus chagado e lacerado por mim. Queria ver-me também eu flagelado por vós, como tantos mártires que tiveram esta sorte. Mas, se não posso agora oferecer-vos feridas e sangue, ofereço-vos ao menos sofrer todas as penas que me ocorrerem. Ofereço-vos o meu coração, com esta vontade de amar-vos o mais ternamente que posso. E quem deve amar com mais ternura a minha alma, se não um Deus flagelado e dessangrado por mim? Amo-vos, ó Deus de amor; amo-vos, bondade infinita; amo-vos, meu amor, meu tudo; amo-vos e não quero nunca cessar de dizer nesta vida e na outra, eu vos amo, eu vos amo, eu vos amo. Amém.


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Notas:

[1]: “Filius erat, et factus est tamquam servus. Non solum formam servi accepit, ut subesset; sed etiam mali servi, ut vapularet; et servi peccati, ut poenam solveret, cum culpam non haberet.” S. BERNARDUS, In feria IV Hebdomadae Sanctae, Sermo de Passione Domini, n. 10. ML 183-268.

[2]: “Mater (Maria) loquitur: “... Deinde, iubente lictore, seipsum vestibus exuit, columnam sponte amplectens, recte ligatur...” Revelationes S. BIRGITTAE.... a Card. Turrecremata recognitae, lib. 4, cap. 70. Coloniae Agrippinae, 1628.

[3]: “Ligatur, caeditur, totoque flagris corpore dissipatur. Nunc scapulas, nunc ventrem, nunc brachia, nunc crura cingunt. Vulnera vulneribus, plagas plagis recentibus addunt.” S. LAURENTIUS IUSTINIANUS, (e não S. Pedro Damião). De triumphali Christi agone, cap. 14. Opera, Venetiis, 1721, pag. 260, col. 1.

[4] Muitas vezes (come tra altre, qui appresso si vedrà, cap. XI, note 1 e 2) S. Afonso atribui a S. Bernardo uma passagem de S. Anselmo (Orationes, Oratio 2, ML 158-861): “Quid commisisti.... ut sic tractareris? etc.” Do mesmo lugar parece tirada a exclamação aqui referida. Assim diz S. ANSELMO (I. c.): “Quae causa mortis, quae occasio tuae damnationis? Ego enim sum tui plaga doloris, tuae culpa occisionis.... O... ineffabilis mysterii dispositio! peccat iniquus, et punitur iustus... Quo, Nate Dei, quo tua descendit humilitas?... quo tuus attigit amor?... Te perfecta caritas ducit ad crucem.” - Cf. Apêndice, 3, B.

[5]: “Fluit undique regius sanguis de omnibus partibus corporis, superadditur, reiteratur, et spissatur livor super livorem, et fractura super fracturam, quousque tam tortoribus quam inspectoribus fatigatis, solvi iubetur.” Meditationes vitae Christi, cap. 76. Inter Opera S. Bonaventurae, VI, p. 387, col. 1. Lugduni (post Vaticanam et Germanicam editiones), 1668. - Vedi Appendice, 2, 7°.

[6]: “In flagellatione sic lacerata et concisa fuit caro, ut facile ossa dinumerari possent.” Vincentius CONTENSON, O. P., Theologia mentis et cordis, lib. 10, dissertatio 4, cap. 1, speculatio 1, Tertius excessus.

[7]: “Naturaliter ex tot verberibus mori saepius debuisset Christus; sed deitas carnem sustentabat, ut plura pati et tandem crucifigi posset.” CORNELIUS A LAPIDE, S. I., In Matthaeum XXVIII, 26.

[8]: “Debuit plane mori, tanto dolore transfixus; se tamen reservavit ad vitam, ut his etiam graviora perferret.” S. LAURENTIUS IUSTINIANUS, De Triumphali Christi agone, cap. 14. Opera, Venetiis, 1721, p. 260, col. 1. - Isto, porém, diz S. Lourenço Justiniano falando da coroação de espinhos.

[9]: “Neste mistério da flagelação, demonstrou ela (a Santa, em êxtase, enquanto nela se renovava toda a Paixão de Cristo) participar tão intensos afãs e tormentos, contorcendo-se às vezes na pessoa e fazendo atos de grande dor, que não se teria dito outra coisa senão que então ela fosse cruel e verdadeiramente flagelada no corpo. Neste tempo, disse apenas estas palavras: ‘Ó, se vós mudásseis, assim, convertendo-vos!’. Queria dizer que, se fossem mudados aqueles ministros que batiam em Jesus, convertendo-se, assim como se trocavam, quanto estavam cansados de flagelá-lo, bem-aventurados eles. Enquanto isso, percebeu, como ela disse depois, que trinta pares de ministros, isto é, sessenta homens, foram os que flagelaram Jesus na coluna.” PUCCINI Vita, Firenze, 1611, parte 6, cap. 2.

[10]: “Suscipit... flagella dura et dolorosa caro illa innocentissima et tenerrima.” Meditationes vitae Christi, cap. 76. Inter Opera S. Bonaventurae, VI, 387, col. 1. Lugduni (post editiones Vaticanam et Germanicam) 1668. - Vide Apêndice, 2, 7°.

[11]: “Nec pepercit (Pilatus) amarissimis verberibus virgineam carnem tuam divellere plagis, livores livoribus crudeliter infligens.” S. ANSELMUS, Meditationes, Meditatio 9, De humanitate Christi. ML 158-754.

[12]: CRASSET, S. I., Meditações doces e afetuosas para todos os dias da Quaresma sobre a Paixão e morte de N. S. Jesus Cristo, meidtação 28, consideração 3. (Entretiens doux et affectueux pour tous les jours du Carême sur la mort et la Passion de N. S. Jésus-Christ.) “Aquilo, enfim, que tornou o tormento da flagelação duro e sangrento ao Filho de Deus, é a multidão dos golpes que recebeu, porque não foi flagelado à maneira dos hebreus, que não podiam dar, segundo a Lei, mais do que quarenta golpes, temendo que o paciente expirasse pela violência da dor; mas foi flagelado segundo o costume dos romanos, cuja severidade não tinha termo nem medida. Não há certeza quanto ao número de golpes por ele recebidos... Mas o que é certo é que ficou de tal maneira flagelado que lhe ficaram descobertas as costelas, e se viam por meio das suas chagas. Tanto refere o autor Josefo Hebreu, que viveu pouco depois de Nosso Senhor, e fez o relato dos seus milagres e dos seus padecimentos.”

[13]: Assim o Crasset (op. c., I. c.: vide a nota precedente). Em FLAVIO GIUSEPPE, não se encontra outra coisa, quanto a Jesus Cristo, senão o célebre texto - sobre o qual ainda se discute se é interpolado - Antiquitatum Iudaicarum lib. 18, cap. 6 (Basileae, apud Ioannem Frobenium, 1524, pag. 518): “Fuit autem iisdem temporibus Iesus, sapiens vir, si tamen virum eum nominare fas est. Erat enim mirabilium operum effector, et doctor hominum eorum qui libenter quae vera sunt audiunt. Et multos quidem Iudaeorum, multos etiam ex gentibus sibi adiunxit. Christus hic erat. Hunc, accusatione primorum nostrae gentis virorum, cum Pilatus in crucem agendum esse decrevisset, non deseruerunt hi qui ab initio eum dilexerunt. Apparuit enim eis tertia die iterum vivus: secundum quod divinitus inspirati prophetae vel haec vel alia de eo innumera miracula futura esse praedixerant. Sed et in hodiernum. Christianorum, qui ab ipso nuncupati sunt, et nomen perseverat et genus.”

[14]: Revelationes S. BIRGITTAE...a Card. Turrecremata recognitae, lib. 1, cap. 10.

[15]: FRANCESCO DI SANTA MARIA, Reforma dos Descalços de Nossa Senhora do Carmo, lib. 1, cap. 14. - “Representòseme Cristo delante con mucho rigor... Vile con los ojos del alma màs claramente que le pudiera ver con los del cuerpo, y quedòme tan imprimido, che hà esto màs de ventiséis anos, y me parece lo tengo presente.” S. TERESA, Libro de la Vida, cap. 7. Obras, I, Burgos, 1915.

[16]: “Quia ex poenis iam valde lassatus fuit, timebant ne forte sub onere crucis deficiens, moreretur in via.” B. DIONYSIUS CARTUSIANUS, Enarratio in Evangelium secundum Lucam, art. 49, Expositio capituli XXIII, v. 26.

[17]: A mesma sentença é atribuída a S. Bernardo de Lohner, Bibliotheca concionatoria, v. Passio Domini, § 3, n. 1; da Contenson (Theologia mentis et cordis, lib. 10, dissert. 4, cap. 1, speculatio 2, Reflexio ) a S. Bernardo e a S. Anselmo. Na verdade é de S. ANSELMO, Oratio 2, ML. 158-861, quantunque in forma un poco differente e più diffusa. - Vide Apêndice, 3, A.

[18]: “Ela viu aproximar-se Cristo pendente da cruz todo chagado, e com as feridas gotejando tanto sangue que teria movido à compaixão a insensata dureza de um mármore... Nesta guisa, disse: ‘Vê a que sinal foram reduzidos os membros de um Deus, e nega, se podes, a sinceridade do meu amor... Este corpo chagado que te dou a ver, sabe que não menos constrange à obrigação todo o gênero humano junto, que a tua alma só, pela qual padeci de bom grado. Eu não peço outra recompensa senão o amor... Ama, pois, ó Marina, este teu Esposo, que espera, por meio do teu amor, levar consigo a recompensa dos seus favores.” PACICHELLI, Vita, parte I, pag. 147 e seg., Roma, 1670. - A Ven. Irmã Maria Vitória Angelini (1590-1659) Romana, Terciária da Ordem dos Servos, chamada antes Merinda, tomou o nome de Marina ao receber o sacramento da Crisma.

[19]: “Amemus sponsum. Quanto magis deformis nobis commendatur, tanto carior, tanto dulcior est factus sponsae.” S. AUGUSTINUS, Sermo 44, cap. 2, n. 4. ML 38-259.

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