29 de janeiro de 2012

O Amor das Almas, S. Afonso de Ligório. CAPÍTULO VII.

Do amor de Jesus em sofrer tantos desprezos na sua Paixão.

1. Diz o Belarmino que maior pena dão aos espíritos nobres os desprezos que as dores do corpo: Nobiles animi pluris faciunt ignominiam, quam Dolores corporis [1]. Pois, se estas afligem a carne, aqueles afligem a alma, a qual, quanto mais nobre do que o corpo, tanto mais sente a pena. Mas quem mais teria podido imaginar que a personagem mais nobre do céu e da terra, o Filho de Deus, vindo ao mundo para fazer-se homem por amor dos homens, viesse a ser tratado por eles com tantos vitupérios e injúrias, como se fosse o último e o mais vil de todos os homens? Vidimus eum... despectum, et novissimum virorum (Is. LIII, 2, 3). Afirma S. Anselmo que Jesus Cristo quis sofrer tais e tantas desonras que não pôde ser mais humilhado do que foi na sua Paixão: Ipse tantum se humiliavit, ut ultra non posset [2].
Ó Senhor do mundo, vós sois o maior de todos os reis, mas quisestse ser desprezado mais do que todos os homens, para ensinar-me o amor aos desprezos. Já que, então, sacrificastes a vossa honra por meu amor, eu quero oferecer, por vosso amor, todas as afrontas que me sejam feitas.
2. E que sorte de afrontas não sofreu o Redentor na sua Paixão? Ele se viu afrontado pelos seus próprios discípulos. Um deles o traiu e o vendeu por trinta dinheiros. Outro o nega várias vezes, protestando publicamente que não o conhece, e atestando com isso que se envergonhava de tê-lo conhecido pelo passado. Os outros discípulos, depois, ao vê-lo preso e ligado, fugiram todos e o abandonaram: Tunc discipuli eius relinquentes eum, omnes fugerunt (Marc. XIV, 50).
Ó meu Jesus abandonado, e quem tomará a vossa defesa, se, ao princípio da vossa captura, os vossos mais caros partem e vos abandonam? Mas, ó Deus, esta desonra não terminou com a vossa Paixão. Quantas almas, depois de se dedicarem a seguir-vos, e depois de serem favorecidas por vós com tantas graças e sinais especiais de amor, constrangidas depois por qualquer paixão de vil interesse, ou de respeito humano, ou de sórdido prazer, ingratas, vos deixam? Quem se encontra no número destes ingratos, chore e diga [3]: Ah, meu caro Jesus, perdoai-me, que eu não quero mais deixar-vos; quero antes perder a vida e mil vidas, que perder a vossa graça, ó meu Deus, meu amor, meu tudo.
3. Eis como Judas, chegando ao horto junto com os soldados, avança, abraça o seu Mestre e o beija. Jesus permite que o beije; mas, conhecendo já o seu ânimo iníquo, não pode deixar de reclamar com ele daquela muito injusta traição, dizendo-lhe: Iuda, osculo Filium hominis tradis? (Luc. XXII, 48). Então ajuntam-se em torno de Jesus aqueles insolentes ministros, lançam as mãos sobre eles, e o ligam como um rebelde: Ministri Iudaeorum comprehenderunt Iesum, et ligaverunt eum (Io. XVIII, 12).
Ai, o que vejo! Um Deus amarrado! Por quem? Pelos homens! Por vermes criados por ele mesmo! Anjos do Paraíso, que dizeis disso? E vós, meu Jesus, como vos fazeis amarrar? Que têm a ver, diz S. Bernardo, os ligames dos escravos e dos réus convosco, que sois o Santo dos Santos, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores? O rex regum, dominus dominantium, quid tibi et vinculis? (De cur. vit. c. 4) [4].
Mas se os homens vos ligam, vós, porque não os soltais e vos livrais dos tormentos e da morte que estes vos preparam? Mas já entendo: não são já, ó meu Senhor, estas cordas que vos constringem; é só o amor que vos tem ligado e vos constringe a padecer e morrer por nós. O caritas, exclama S. Lourenço Justiniano, quam magnum est vinculum tuum, quo Deus ligari potuit (De lign. vit. c. 6) [5]. Ó amor divino, tu sozinho pudeste ligar um Deus, e conduzi-lo a morrer por amor dos homens!
4. Intuere, homo, diz S. Boaventura, carnes illos trahentes, et agnum quasi ad victimam mansuetum sine resistentia sequi. Unus apprehendit, alius ligat, alius impellit, alius percutit (Med. c. LXXVI) [6]. Portanto, já ligado o nosso doce Salvador, antes à casa de Anás, depois à de Caifás, onde Jesus, interrogado sobre os seus discípulos e a sua doutrina por aquele malvado, respondeu que ele não falara em secreto, mas em público, e que os mesmos que lhe estavam ao redor sabiam bem o que ensinara. Ego palam locutus sum...; ecce hi sciunt quae dixerim ego (Io. XVIII, 20, 21). Mas, a tal resposta, um daqueles ministros, tratando-o como temerário, deu-lhe um forte tapa: Unus assistens ministrorum dedit alapam Iesu, dicens: Sic respondes pontifici? (Ibid. 22). Aqui exclama S. Crisóstomo: Angeli, quomodo siletis? An quod attonitos vos tenet tanta patientia? (Hom. LXXXI, in Io.) [7]. - Ah meu Jesus, como uma resposta tão justa e tão modesta merecia uma afronta tão grande à presença de tanta gente?
O indigno pontífice, em vez de repreender a insolência daquele audaz, louva-o ou, ao menos, com os sinais, aprova-o. E vós, meu Senhor, tudo sofreis para pagar as afrontas que eu, mísero, fiz à divina majestade com os meus pecados. Meu Jesus, agradeço-vos. Eterno Pai, perdoai-me, pelos méritos de Jesus.
5. Então o iníquo pontífice perguntou-lhe se era deveras o Filho de Deus: Adjuro te per Deum vivum, ut dicas nobis, si tu es Christus Filius Dei (Matth. XXVI, 63). Jesus, por respeito ao nome de Deus, afirmou sê-lo de fato; e então Caifás rasgou as vestes, dizendo que blasfemara; e todos então gritaram que merecia a morte: At illi respondentes dixerunt: Reus est mortis (Matth. XXVI, 66). Sim, com razão, ó meu Jesus, eles vos chamaram réu de morte, enquanto vós quisestes encarregar-se de satisfazer por mim, que merecia a morte eterna. Mas, se com a vossa morte vós me comprastes a vida, é justo que a minha vida eu a gaste toda, e até, se preciso, a perca, por vós. Sim, meu Jesus, não quero mais viver para mim, mas só para vós e para o vosso amor. Socorrei-me vós com a vossa graça.
6. Tunc exspuerunt in faciem eius, et colaphis eum ceciderunt (Matth. XXVI, 67). Depois de tê-lo publicado réu de morte, como homem já condenado ao suplício e declarado infame, pôs-se aquela caterva a maltratá-lo por toda a noite com golpes, com bofetadas, com chutes, arrancando-lhe a barba, e até cuspindo-lhe na face, zombando dele como falso profeta, e dizendo-lhe: Prophetiza nobis, Christe, quis est qui te percussit? (Ibid., 68). Tudo predisse o nosso Redentor por Isaías: Corpus meum dedi percutientibus, et genas meãs vellendibus: faciem meam nona verti ab increpantibus, et conspuentibus (Is. L, 6). - Refere o devoto Taulero ser sentença de S. Girolamo, que todas as penas e injúrias que sofreu Jesus naquela noite, somente no dia do juízo final se farão conhecidas [8]. S. Agostinho, falando das ignomínias padecidas por Jesus Cristo, diz: Haec medicina si superbiam non curat, quid eam curet, nescio (Dom. II. quadrag. serm. 1) [9]. Ah, meu Jesus, como vós sois tão humilde, e eu tão soberbo? Senhor, dai-me luz, fazei-me conhecer quem sois vós e quem sou eu.
Tunc exspuerunt in faciem eius. - Exspuerunt! Ó Deus, e que maior afronta há que ser injuriado com os escarros? Ad extremam iniuriam pertinet sputamenta accipere, diz Orígenes [10]. Onde se costuma escarrar, senão no lugar mais sórdido? E vós, meu Jesus, sofreis que vos escarrem na face? Eis como estes iníquos vos maltratam com as bofetadas e com os chutes, injuriam-vos, cospem-vos na face, fazem de vós o que querem: e vós não os ameaçais, não os reprovais? Cum malediceretur, non maledicebat; cum pateretur, non comminabatur; tradebat autem iudicanti si iniuste (I Petr. II, 23). Não, mas como um cordeiro inocente, humilde e manso, tudo sofreu sem nem se lamentar, tudo oferecendo ao Pai, para obter-nos o perdão dos nossos pecados: Quasi agnus coram tondente se obmutescet, et non aperiet os suum (Is. LIII, 7). - Meditando um dia S. Gertrudes nas injúrias feitas a Jesus na sua Paixão, começou a louvá-lo e a bendizê-lo; e o Senhor comprazeu-se disso de tal forma, que amorosamente lhe agradeceu [11].
Ah, meu vituperado Senhor, vós sois o Rei do céu, o Filho do Altíssimo; não mereceis ser maltratado e vilipendiado, mas ser adorado e amado por todas as criaturas. Eu vos adoro, bendigo-vos, e agradeço-vos. Amo-vos com todo o meu coração. Arrependo-me de ter-vos ofendido. Ajudai-me vós, tende piedade de mim.
7. Amanhecendo, os judeus conduzem Jesus a Pilatos, para fazê-lo condenar à morte, mas Pilatos declara-o inocente: Nihil invenio in hoc homine (Luc. XXIII, 4). E, para livrar-se dos insultos dos judeus, que continuavam pedindo a morte do Salvador, mandou-o a Herodes. Herodes alegrou-se ao ver-se conduzido diante de Jesus Cristo, esperando que, em sua presença, para livrar-se da morte, ele faria algum prodígio daqueles tantos que ouvira narrar; por isso interrogou-o com mais perguntas. Mas Jesus, porque não queria ser livrado da morte, e porque aquele malvado não era digno de suas respostas, calou-se e não lhe respondeu. Então o rei soberbo fez-lhe muitos desprezos com a sua corte, e, fazendo-o cobrir com uma veste branca, declarando-o assim homem ignorante e estúpido, devolveu-o a Pilatos. Sprevit autem illum Herodes cum exercitu suo, et illusit indutum veste alba, et remisit ad Pilatum (Luc. XXIII, 11). Comenta o Cardeal Hugon: Illudens ei quasi fatuo, induit veste Alba [12]. E S. Boaventura: Sprevit illum tamquam impotentem, quia signum non fecit; tamquam ignorantem, quia verbum non respondit; tamquam stolidum, quia se non defendit [13].
Ó Sabedoria eterna, ó Verbo divino, esta outra ignomínia vos faltava, de ser tratado como louco, privado de juízo! Tanto então vos constrangeu a nossa salvação, que quisestes, por nosso amor, não só ser vituperado, mas saciado de vitupérios, como de vós já profetizou Jeremias: Dabit percutienti se maxillam, saturabitur opprobriis (Thren. III, 30). E como pudestes ter tanto amor pelos homens, dos quais não recebestes mais do que ingratidões e desprezos? Ai que, dentre estes, eu sou um que, pior do que Herodes, ultrajei-vos. Meu Jesus, não me castigueis como Herodes privando-me das vossas palavras. Herodes não vos reconhecia como sendo aquilo que sois [14], eu vos confesso meu Deus; Herodes não vos amava, eu vos amo mais do que a mim mesmo. Não me negueis as palavras; as vossas inspirações, como eu mereceria, pelas ofensas que vos fiz. Dizei o que quereis de mim, que eu, com a vossa graça tudo o quero fazer.
8. Reconduzido que foi Jesus a Pilatos, o governador o apresentou ao povo, para perguntar quem queriam libertar naquela Páscoa, Jesus ou Barrabás homicida. Mas o povo gritou: Non hunc sed Barabbam (Io. XVIII, 40). Então disse Pilatos: Quid igitur faciam de Iesu? (Matth. XXVII, 22). Responderam: Crucifigatur. Mas que mal fez este inocente? Pilatos replicou: Quid... Mali fecit? E eles responderam: Crucifigatur (Matth. XXVII, 23). Mas, ó Deus, que até o presente a maior parte dos homens seguem dizendo: Non hunc sed Barabbam, preferindo a Jesus Cristo um prazer do sentido, um ponto de honra, uma explosão de raiva.
Ah, meu Senhor, bem sabeis vós que um tempo vos fiz eu a mesma injúria, quanto vos pospus aos meus malditos gostos! Meu Jesus, perdoai-me, que eu me arrependo do passado, e de hoje em diante quero preferir-vos a todas as coisas. Eu vos estimo, eu vos amo mais do que todos os bens; e quero antes mil vezes morrer, que deixar-vos. Dai-me a santa perseverança, dai-me o vosso amor.
9. Abaixo se falará dos outros opróbrios que recebeu Jesus Cristo até morrer finalmente numa cruz: Sustinuit crucem, confusione contempta (Hebr. XII, 2). Mas, entretanto, consideremos que do nosso Redentor bem se cumpriu aquilo que dele predisse o Salmista, que ele, na sua Paixão, devia tornar-se o opróbrio dos homens e a abjeção da plebe: Ego autem sum vermis, et non homo; opprobrium hominum et abiectio plebis (Ps. XXI, 7). Até morrer envergonhado, julgado por mão de um carnífice em um patíbulo, como um malfeitor em meio a dois malfeitores: Et cum sceleratis reputatus est (Is. LII, 12).
Ó Senhor, o mais alto, exclama S. Bernardo, tornou-se o mais baixo entre os homens! Ó excelso tornado vil! Ó glória dos anjos tornado o opróbrio dos homens: O novissimum et altissimum! O humilem et sublimem! O opprobrium hominum et gloriam angelorum! [15]
10. Ó graça! Ó força do amor de um Deus, diz S. Bernardo. Assim, pois, o sumo Senhor de todos tornou-se o mais vilipendiado que todos! O gratiam! O amoris vim! Itane omnium imus factus est omnium? [16] E quem, ajunta o santo, operou tudo isso? Quis hoc fecit? Amor [17]. Tudo o fez o amor que Deus tem para com os homens, para demonstrar o quanto ele nos ama, e para ensinar-nos com o seu exemplo a sofrer com paz os desprezos e as injúrias. Christus passus est pro nobis, escreveu S. Pedro, vobis reliquens exemplum, ut sequamini vestigia eius (I Petr. II, 21). - S. Elzeário, perguntado pela sua esposa como fazia para suportar com tanta paz as tantas injúrias que se lhe faziam, respondeu: “Eu me volto a contemplar Jesus desprezado, e digo que as minhas afrontas não são nada diante daquelas que ele, sendo meu Deus, quis tolerar por mim” [18].
Ah, meu Jesus, e como eu, à vista de um Deus tão desonrado por meu amor, não sei sofrer um mínimo desprezo por vosso amor? Pecador e soberbo! E donde, meu Senhor, pode vir-me esta soberba? Pelos méritos dos vossos desprezos sofridos, dai-me a graça de sofrer com paciência e com alegria as afrontas e as injúrias. Proponho, de hoje em diante, com a vossa ajuda, não mais me ressentir, e receber com alegria todos os opróbrios que me serão feitos. Outros desprezos mereceria eu, que desprezei a vossa majestade divina, e mereci para mim os desprezos do inferno. E vós, meu amado Redentor, tornastes muito doces e amáveis as afrontas, tendo abraçado tantos desprezos por meu amor. Proponho, ainda, para dar-vos gosto, fazer todo o bem que eu puder a quem me despreza; ao menos falar bem e rezar por ele. E desde agora vos rogo que cumuleis de graça todos aqueles dos quais recebi alguma injúria. Amo-vos, bondade infinita, e quero sempre amar-vos quanto posso. Amém.


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Notas:

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[1]: “Octava poena nascebatur ex verbis contumeliosis et blasphemis quae in ipsum Pharisaei et Scribae et Sacerdotes iaciebant: haec enim poena hominibus ingenuis gravior esse solet quam poenae corporales, cum istae carnem, illae animum torqueant.” S. ROBERTUS BELLARMINUS, Cardinalis, De gemitu columbae, lib. 2, cap. 3.

[2]: “Ipse se tantum humiliavit, ut ultra non posset, propter quod et Deus tantum exaltavit illum, ut ultra non posset.” Ven. HERVEUS, Burgidolensis monachus, In Epistolam ad Philippenses, cap. 2, v. 9. ML 181-1293. - Estes Comentários sobre as Epístolas de S. Paulo, quando foram encontrados e impressos, foram, pelos primeiros editores, atribuídos a S. Anselmo.

[3]: Nas edições de 1751 (Pellecchia, Paci), de 1754 (Gessari), e na Romana (De' Rossi, 1755) em vez de “Quem se encontra etc.”, lê-se: “Misero me, che tra questi ingrati anche stato son io.”

[4]: Vitis mystica, seu Tractatus de Passione Domini, cap. 4, n. 12. Inter Opera S. Bernardi, ML 184-644. - “O Rex regum et Domine dominantium, quid tibi et vinculis?” S. BONAVENTURA, Vitis mystica.... Opera, VIII, ad Claras Aquas, 1898, pag. 165. - S. Alfonso, na nota: “De cur. vit. c. 4 ” isto é De cura vitis. Ora este cap. 4 foi intitulado “De vinculis nostrae Vitis ( Opera S. Bern.) ” ou “De ligatura vitis (S. Bonav.). ” Mas é o último dos capítulos que têm por assunto, como se diz no princípio do cap. 5, “quae viti ad culturam exterius ahibentur”. - Vide Apêndice, 2, 9°.

[5]: “Caritas ligat Deum et hominem, quia vinculum est. O caritas, quam magnum est vinculum tuum, quo Deus ligari potuit!” S. LAURENTIUS IUSTINIANUS, Lignum vitae, tractatus IV (vel VI), De caritate, cap. 6.

[6]: “Magis ac magis eorum (discipulorum) augebatur dolor, cum videbant et Dominum suum sic viliter trahi, et canes istos trahentes eum ad victimam, et illum quasi agnum mansuetissimum sine resistentia ipsos sequi.” Meditationes vitae Christi, cap. 75. Inter Opera S. Bonaventurae, VI, pag. 386, col. 1, Lugduni (post editiones Vaticanam et Germanicam), 1668. - “Alius ipsum dulcem et mitem et pium Iesum apprehendit, alius ligat, alius insurgit et alius exclamat, alius impellit, alius blasphemat, ... alius, dum ducitur, percutit.” Ibid., cap. 74, pag. 384, col. 2. - Vide Apêndice, 2, 7°.

[7]: “Unus autem ex adstantibus ministris dedit ei alapam, haec dicenti. Exhorresce, caelum, contremisce, terra, de Domini patientia et de servorum scelere.” S. Io. CHRYSOSTOMUS, In Ioannem, hom. 83 (al. 82), n. 3. MG 59-451. - Mansi, Bibliotheca moralis praedicabilis, tract. 61, discursus 2, n. 1 (dall' omilia, come dice, 81 del Grisostomo in Ioannem ): “O angeli, quomodo siletis? Quomodo manus continere potestis? An quod attonitos vos tenet tanta insolentia et tanta mansuetudo; tanta perversitas et tanta patientia?” Como se vê, a substância é do Crisóstomo, com um pouco de paráfrase do Mansi ou de outro.
Este episódio de zombaria ocorreu na casa de Anás: as cenas seguintes se desenvolveram na de Caifás (Io. XVIII, 20-22; Matth. XXVI, 59 et seq.).

[8]: “É sentença de S. Girolamo que as moléstias e penas dadas naquela noite ao Senhor não devem ser manifestadas antes do dia do juízo, de maneira que cada devoto, que deseja exercitar-se na Paixão do Senhor, deveria fazer qualquer coisa em honra daqueles tormentos ocultos de Deus, oferecendo-os ao Pai celeste, ao qual são todos conhecidos, pelos seus pecados ocultos e não conhecidos.” Jo. TAULERO, OP., Meditações (não genuínas) sobre a Vida e Paixão de Jesus Cristo, cap. 17.

[9]: “Erat unde extolleretur gens Iudaea, et per ipsam superbiam factum est ut Christo nollet humiliari, auctori humilitatis, repressori tumoris, medico Deo, qui propter hoc, cum Deus esset, homo factus est, ut se homo hominem cognosceret. Magna medicina. Haec medicina si superbiam non curet, quid eam curet nescio.” S. AUGUSTINUS, Sermo 77, cap. 7. n. 11. ML 38-488. (Opera S. Augustini, X, Parisiis, Chevallon, 1531, sermo 74 de Tempore, In Dom. II in Quadragesima sermo 1.)

[10]: “ Non enim est indecorum ei qui vult numerare in quantis se Christus humiliavit, ut dinumeret extra ea quae Paulus exposuit, dicens (i. e. et dicat): Humiliavit se factus obediens usque ad palmas, usque ad confusionem sputamentorum, et flagellorum, et mortis... Ad extremam iniuriam accipitur sputamentorum iniuria.” ORIGENIS in Matthaeum commentariorum series, n. 113 (in hunc locum). MG 13-1761.

[11]: “Dominica vero Iudica (de Passione), dum, in honorem Passionis Dominicae, quod specialius ipso die recolenda inchoatur, se totam cum anima et corpore Domino exhibuisset ad tolerandum et perficiendum tam corpore quam spiritu quodcumque suae divinae complaceret voluntati, pius Dominus talem ipsius voluntatem ineffabili gratitudine videbatur acceptare. Ipsa vero divinitus inspirata intimo cordis affectu salutare coepit singula membra Domini, pro salute nostra diversis poenis in Passione cruciata. Unde quandocumque aliquod membrum salutabat, statim ex illo membro Domini splendor quidam divinus procedens, animam ipsius irradiabat... Hinc inter Missam, dum legeretur in Evangelio: Daemonium habes, ista medullitus super contumelia Domini sui commota, nec sufferens dilectum animae suae tam indebite sibi obiecta advertere, ex intimo cordis affectu his verbis vice versa ipsi blandiebatur dicens: “Ave, vivificans gemma divinae nobilitatis. Ave, immarcescibilis flos humanae dignitatis, Iesu amantissime: tu mea vera summa et unica salus.” Cui benignus amator more solito vicem dignantissimam recompensans, manu sua benedicta mentum eius apprehendens, seque ad ipsam blande inclinans, auri animae eius haec verba suavissimo susurro instillavit dicens: “Ego Creator, Redemptor et amator tuus, per angustias mortis cum omni beatitudine mea acquisivi te.” Tum omnes Sancti quasi in admirationem provocati ex tam mira dignatione Dei, cum ingenti gaudio benedicebant Dominum pro tam dignantissima sui ad animam illam inclinatione. - Hinc Dominus ait: “Quicumque contra blasphemias et contumelias mihi in terris illatas me salutaverit illo affectu quo tu me modo salutasti, huic eo me in iudicio illo districto, quo in morte iudicandus accusationibus daemonum praegravatur, eadem blanditate exhibebo quo me modo exhibui tibi, et eisdem verbis ipsum consolabor dicens: Et ego Creator, Redemptor et amator tuus, etc. Unde si nunc ad illa verba Sancti in caelo sic sunt admirati, quanto magis putas obstupescent et territi fugient omnes adversarii animae illius, quae hoc donum consolationis in iudicio meretur acipere a pietate mea divina?” S. GERTRUDIS MAGNA, O. S. B., Legatus divinae pietatis, lib. 4, cap. 22 (editionis Solesmensis pag. 364, 365, 366).

[12]: “Domini taciturnitatem reputavit Herodes fatuitatem: ideo, illudens ei quasi fatuo, induit eum veste alba.” HUGO A SANCTO CHARO, O. P. Cardinalis primus, In Evangelium secundum Lucam, in Luc. XXIII, 1. Opera, VI, fol. 266, col 1, Venetiis, 1703.

[13]: “Sprevit, inquam, tamquam impotentem, quia signum non fecit; tamquam ignorantem, quia verbum non respondit; tamquam stolidum, quia contra accusantes se non defensavit.” S. BONAVENTURA, Commentarius in Evangelium S. Lucae, in Luc. XXIII, 11, cap. 23, n. 13. Opera, VII, p. 569, col. 1.: ad Claras Aquas, 1895.

[14]: “Herodes não vos conhecia, eu...” (Pellecchia e Paci, 1751; Gessari, 1754; De' Rossi, 1755).

[15]: S. BERNARDUS, In feria IV Hebdomadae Sanctae, Sermo de Passione Domini, n. 3. ML 183-264.

[16]: “O suavitatem! o gratiam! o amoris vim! Itane summus omnium unus factus est omnium?” S. BERNARDUS, In Cantica, sermo 64, n. 10. ML 183-1088. -
Desta passagem, na qual S. Bernardo se maravilha das suaves familiaridades usadas conosco por Jesus Cristo, o qual se fez como nosso igual, e diz “nós”, onde poderia, e, parece, deveria dizer “eu”, o compilador do tratado De caritate (inter Opera S. Bernardi, De caritate, cap. 8, n. 29, ML 184-599) tirou esta outra sentença: “O suavitatem! o gratiam! o amoris vim! Itane summus omnium imus factus est omnium?”. Do resto, nesta opereta, nos capítulos 5-9, no qual todas as palavras são tiradas de S. Bernardo, nos seus Sermões sobre os Cânticos.

[17]: De caritate (inter Opera S. Bernardi), cap. 8, n. 29. ML 184-599. - “Quis hoc fecit? Amor, dignitatis nescius, dignatione dives, affectu potens, suasu efficax. Quid violentius? Triumphat de Deo amor. Quid tamen tam non violentum? AMor est. Quae est ista vis, quaeso, tam violenta ad victoriam, tam victa ad violentiam? Denique semetipsum exinanivit (Philipp. II, 7), ut scias amoris fuisse quod plenitudo effusa est, quod altitudo adaequata est, quod singularitas associata est.” S. BERNARDUS, In Cantica, sermo 64, n. 10. ML 183-1088. - Vedi la nota precedente.

[18]: “Ecquid vero, Delphina, prodest irasci? Nihil profecto. Attamen explicabo tibi arcanum pectoris mei. Noveris me interdum sentire aliuqam in animo adversus infestantes me indignationem; sed illico me converto ad cogitandas iniurias Christo illatas, eumque imitari cupiens, dico mihi ipsi: Etiamsi famuli tui barbam tuam convellerent, et colaphos tibi infringerent, nihil esset ad Dominum tuum, qui maiore perpessus est. Certumque habeas, Delphina, me numquam cessare a commemorandis iniuriis Salvatoris mei, donec animus meus plane sit tranquillatus. Atque hanc fateor me a Domino habere peculiarem gratiam, ut eos qui mihi iniuriosi sunt, vel aeque ut ante, vel plus etiam amem, et pro eis specialiter orem, agnoscamque et confitear me maioribus et atrocioribus iniuriis dignum esse.” WADDINGUS, Annales Minorum, an. 1319, n. 5. -
Este santo conde de Ariano viveu no matrimônio em virgindade, com o consenso da santa esposa Delfina. O seu nome era Elzéar, em latim Elzearius; em italiano, do tradutor da Crônica de Marcos de Lisboa, é chamado, como por S. Afonso, Elezaro.

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