26 de junho de 2025

UM MENINO MÁRTIR


Ano 257, Roma

A Igreja Católica experimentou, em seu próprio berço, perseguições tão terríveis por parte de seus inimigos, que teria sido extirpada da face da terra se o sangue de inumeráveis mártires cristãos, que regou as ruas, praças e o anfiteatro romano, não tivesse sido uma semente fecunda que aumentava, dia após dia, o número dos fiéis.

A força de ânimo demonstrada por esses valentes atletas da fé, nas provas sangrentas a que eram submetidos, devia-se ao fervor com que procuravam todos os dias receber o Pão dos fortes. E, quando carregados de cadeias, encontravam-se como que sepultados nos mais fétidos e obscuros calabouços, não tinham outro consolo e alívio senão aquele que encontravam nas delícias da Sagrada Eucaristia. Contudo, proporcionar-lhes essa graça era tarefa árdua e perigosa, especialmente para os sacerdotes, que eram procurados com ódio infernal pelos encarniçados inimigos do Cristianismo.

No ano de 257, alguns cristãos presos no cárcere Mamertino de Roma estavam prestes a sofrer o martírio e desejavam, antes, participar do augusto Sacramento. Mas a vigilância dos guardas e lictores era tão intensa, que era quase impossível socorrê-los com esse auxílio divino.

Entretanto, nas Catacumbas, o Pão consagrado já repousava sobre o Santo Altar, e o sacerdote, voltando-se para a numerosa assembleia de fiéis, procurava com o olhar alguém a quem confiar missão tão difícil quanto gloriosa para Deus. Eis que Tarcísio, um menino de apenas dez anos, se adianta, dobra os joelhos diante dos degraus do altar e estende os braços em sinal de que queria receber a divina Hóstia.

Ali estava... belo como um anjo, sem abrir os lábios, com os olhos fixos no ministro de Deus, como se dissesse:
"Aqui estou, Padre, confie-me essa missão tão arriscada, confie em mim... por favor..."

— "Meu filho", diz-lhe o sacerdote profundamente comovido, "você é pequeno demais."
Mas ele não se move; permanece ajoelhado, esperando com perseverança a graça tão desejada.

O ministro do Senhor insiste:
— "Você não vê que é só um menino? E quer que eu confie a você o Tesouro do Céu?"

— "Oh, sim, meu padre! Justamente por ser tão pequeno, ninguém desconfiará de mim, e poderei chegar com segurança até os mártires. Pelo amor de Deus, padre, não me negue essa graça!"

Ao dizer isso, seu rosto inflamava-se, e doces lágrimas deslizavam por suas faces.
Tarcísio renova com tanto fervor seus pedidos, que o sacerdote, vencido por fim, não resiste mais aos seus rogos.

Tomando então o Santíssimo Sacramento, o envolve com suma reverência em um pano branco, o coloca em uma bolsa e a entrega a Tarcísio, dizendo:

— "Meu filho, não te esqueças de que coloco em tuas mãos o Tesouro dos Céus. Evita, portanto, lugares públicos e muito tumultuados, e lembra-te de que as coisas santas não devem ser entregues aos cães, nem as preciosas pérolas a animais impuros."

Transbordando de alegria celestial, Tarcísio esconde o sagrado Tesouro em seu peito, cobre-o com sua túnica, e cruzando os braços sobre ele, exclama:
"Morrerei mil mortes antes de deixá-lo ser arrebatado de mim."

Parte imediatamente das catacumbas com seu amado Jesus.

Para chegar à prisão Mamertina, faltava-lhe apenas atravessar uma praça, e pensava em como faria isso sem chamar a atenção, quando um grupo de meninos o avistou e, aproximando-se, disse:
— "Olá, Tarcísio! Você por aqui? Venha completar o grupo e jogar conosco!"

Um deles agarrou seu braço e o puxava para o grupo.

— "Não posso, Petílio", gritava o menino, "não posso porque estou correndo para cumprir uma missão urgente!"

Tarcísio tentava escapar, mas vendo que o seguravam com força, suplicou-lhes com voz aflita que o soltassem. Não conseguindo se libertar, chorava apertando cada vez mais os braços contra o peito.

Então, outro menino disse:
— "Quer queira, quer não, hoje você vai jogar com a gente. Mas antes, vamos ver o que está escondendo no peito com tanto cuidado."

E, estendendo a mão, tentou arrancar-lhe o sagrado Mistério.

— "Oh, não! Isso não! Jamais! Jamais!", exclamava o menino, fixando os olhos no céu em busca de socorro.

— "Queremos ver! — gritavam todos ao mesmo tempo — Queremos saber que segredo é esse que você está escondendo!"

E, lançando-se sobre ele, tentaram afastar seus braços à força. Tarcísio, porém, resistia com firmeza, e durante a luta, reuniu-se ao redor um grande número de curiosos.

Entre os espectadores havia um cruel inimigo dos cristãos que, reconhecendo Tarcísio, gritou com raiva diabólica:
— "Esse menino é cristão e leva os Mistérios aos mártires!"

Ao ouvir essas palavras, todos começaram a gritar:
— "Queremos ver os Mistérios! Queremos ver os Mistérios!"

Logo começaram a chover sobre o pobre Tarcísio socos, golpes, pedras... Mas ele não cedia à violência de tão rudes ataques. Sangue abundante saía-lhe da boca, todos os seus membros estavam feridos, até que, exausto, caiu meio morto no chão, conservando apertado contra o peito o inestimável Tesouro.

Acreditavam já ter vencido, quando apareceu de repente um cristão militar de forças hercúleas chamado Quadrato, que investiu contra os agressores, dispersando-os a todos. Ficou sozinho com o invicto menino e, ajoelhando-se com profunda emoção ao lado da inocente vítima, disse-lhe:
— "O que aconteceu, Tarcísio? Você está sofrendo muito? Tenha ânimo!"

Então, o menino abriu os olhos agonizantes, sorriu como um anjo e disse, com voz quase imperceptível:
— "Oh, Quadrato, aqui estou... não... não conseguiram me tirar os santos Mistérios... carrego-os no peito... salve-os!"

O oficial levantou o pequeno mártir nos braços, como quem carrega não apenas um mártir, mas o próprio Rei dos mártires. O menino repousava a cabeça sobre os ombros robustos do soldado e ainda apertava com as mãos o Tesouro que lhe havia sido confiado.

O caminho de volta às catacumbas era longo, mas o guerreiro apressava o passo e, em pouco tempo, chegou ao pé do altar.

Todos os fiéis ali reunidos cercaram o moribundo herói da Eucaristia. O sacerdote não pôde conter as lágrimas ao encontrar intacto, no seio de Tarcísio, o depósito sagrado que lhe havia confiado. E, enquanto com dificuldade separava os braços rígidos do santo menino, este lhe dirigiu um doce olhar de satisfação... e expirou.

A Igreja recorda seu glorioso trânsito no dia 15 de agosto.
Seus restos foram sepultados no cemitério de São Calisto e, mais tarde, trasladados para Paris, para a Casa de Órfãos de São Vicente de Paulo.

Atos dos Mártires

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