Na tarde silenciosa da Sexta-feira Santa, quando o céu se obscureceu e a terra tremeu, o Corpo Santíssimo de Nosso Senhor Jesus Cristo permaneceu suspenso no madeiro da Cruz, consumado o Sacrifício Redentor.
Ali, diante dos olhos da Virgem Dolorosa, de São João e das
santas mulheres, encontrava-se o Filho de Deus, morto — verdadeira vítima
imolada pela salvação do mundo. Mas o mistério não termina ali. A liturgia e a
piedade católica nos conduzem agora a contemplar outro gesto profundo: a
retirada do Corpo de Jesus da Cruz.
Nicodemos e José de Arimateia, homens justos e discretos,
movidos por uma fé silenciosa e corajosa, pedem a Pilatos o Corpo do Senhor.
José, discípulo oculto por temor dos judeus, agora se revela: quando os
apóstolos fogem, ele se aproxima da Cruz. Que lição para todos nós! Quando tudo
parece perdido, quando o escândalo da Cruz silencia até os mais fortes, é hora
de permanecer de pé — como a Virgem Maria — e de se aproximar com reverência,
como José.
A cena é pungente. O Corpo do Salvador, desfigurado, coberto
de chagas, é descido lentamente. Cada movimento é envolto em silêncio, em
lágrimas, em amor profundo. Não há palavras. Apenas o toque reverente das mãos
puras de Maria, o pranto contido de João, a veneração muda dos discípulos
fiéis.
A Tradição nos ensina que Maria recebeu o Corpo de seu Filho
nos braços. É o momento da Pietá, não apenas uma imagem comovente, mas
realidade mística. Aquela que O gerou em seu seio virginal, agora O acolhe
morto em seus braços. Que dor! Que silêncio! Que união perfeita com a Vontade
do Pai!
Nesta cena, vemos a Igreja nascente, representada por Maria,
João, Nicodemos e José. O Corpo de Cristo é confiado à Igreja. É ela quem deve
guardá-Lo, velá-Lo, preparar o sepultamento — não com pressa, mas com piedade.
A retirada do Senhor da Cruz é também imagem do cuidado que devemos ter com a
Sagrada Liturgia, com os Sacramentos, com o Santíssimo Corpo de Cristo presente
na Eucaristia.
Neste momento da Paixão, aprendemos a humildade, a
reverência, a adoração silenciosa. Contemplamos Aquele que se humilhou até a
morte e morte de Cruz. E com Ele morremos para o pecado, para viver desde já na
esperança da Ressurreição.
Ao encerrarmos esta meditação, guardemos no coração a imagem
de Maria segurando o Corpo de seu Filho. Que ela nos ensine a amar, a sofrer e
a esperar com fé. Que ela nos forme no silêncio da dor e da confiança, até o
raiar do Domingo da Ressurreição.
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