27 de junho de 2025

A Retirada do Senhor da Cruz – Meditação da Sexta-feira Santa

Na tarde silenciosa da Sexta-feira Santa, quando o céu se obscureceu e a terra tremeu, o Corpo Santíssimo de Nosso Senhor Jesus Cristo permaneceu suspenso no madeiro da Cruz, consumado o Sacrifício Redentor.

Ali, diante dos olhos da Virgem Dolorosa, de São João e das santas mulheres, encontrava-se o Filho de Deus, morto — verdadeira vítima imolada pela salvação do mundo. Mas o mistério não termina ali. A liturgia e a piedade católica nos conduzem agora a contemplar outro gesto profundo: a retirada do Corpo de Jesus da Cruz.

Nicodemos e José de Arimateia, homens justos e discretos, movidos por uma fé silenciosa e corajosa, pedem a Pilatos o Corpo do Senhor. José, discípulo oculto por temor dos judeus, agora se revela: quando os apóstolos fogem, ele se aproxima da Cruz. Que lição para todos nós! Quando tudo parece perdido, quando o escândalo da Cruz silencia até os mais fortes, é hora de permanecer de pé — como a Virgem Maria — e de se aproximar com reverência, como José.

A cena é pungente. O Corpo do Salvador, desfigurado, coberto de chagas, é descido lentamente. Cada movimento é envolto em silêncio, em lágrimas, em amor profundo. Não há palavras. Apenas o toque reverente das mãos puras de Maria, o pranto contido de João, a veneração muda dos discípulos fiéis.

A Tradição nos ensina que Maria recebeu o Corpo de seu Filho nos braços. É o momento da Pietá, não apenas uma imagem comovente, mas realidade mística. Aquela que O gerou em seu seio virginal, agora O acolhe morto em seus braços. Que dor! Que silêncio! Que união perfeita com a Vontade do Pai!

Nesta cena, vemos a Igreja nascente, representada por Maria, João, Nicodemos e José. O Corpo de Cristo é confiado à Igreja. É ela quem deve guardá-Lo, velá-Lo, preparar o sepultamento — não com pressa, mas com piedade. A retirada do Senhor da Cruz é também imagem do cuidado que devemos ter com a Sagrada Liturgia, com os Sacramentos, com o Santíssimo Corpo de Cristo presente na Eucaristia.

Neste momento da Paixão, aprendemos a humildade, a reverência, a adoração silenciosa. Contemplamos Aquele que se humilhou até a morte e morte de Cruz. E com Ele morremos para o pecado, para viver desde já na esperança da Ressurreição.

Ao encerrarmos esta meditação, guardemos no coração a imagem de Maria segurando o Corpo de seu Filho. Que ela nos ensine a amar, a sofrer e a esperar com fé. Que ela nos forme no silêncio da dor e da confiança, até o raiar do Domingo da Ressurreição.

 

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