Desde o Concílio de Trento (1545–1563) a Igreja Católica conta com um Catecismo de referência que sintetiza sua doutrina de sempre. Esse Catecismo Romano foi elaborado a partir de um Concílio dogmático e infalível, que anatematizou as teses reformistas sobre a fé e os sacramentos. Por isso, a tradição católica sempre o considerou um guia seguro para o ensino da fé. Em contraste, o novo Catecismo da Igreja (1992), fruto do Concílio Vaticano II, não é dogmático nem infalível. Como enfatiza o Prof. Orlando Fedeli, o Vaticano II teve caráter apenas pastoral, sem proclamações magisteriais definitivas. Dessa forma, o Catecismo dele derivado também não carrega caráter infalível. O Papa João Paulo II pediu o uso desse catecismo como “texto de referência, seguro e autêntico”, mas não o impôs obrigatoriamente; como Prof. Orlando Fedeli nota, “Pedir não é mandar”. Em suma, enquanto o Catecismo de Trento nasceu num Concílio infalível, o Catecismo de 1992 só tem força pastoral, criando espaço para ambiguidades.
Concílio de Trento: Concílio Dogmático e Infalível
O Concílio de Trento foi convocado pelo Papa Paulo III
em resposta à Reforma protestante. Seus decretos são dogmáticos e infalíveis:
Prof. Orlando Fedeli observa que em Trento “foram condenadas com anátemas todas
as teses reformistas… acerca da Fé Católica e dos Sacramentos”. A seguir, em
1566, compôs-se o Catecismo Romano (Catecismo de Trento), baseado nesses
decretos conciliares. Assim, todo seu conteúdo repousa em definições
magisteriais a que não se pode contrapor nova interpretação. A doutrina nele
contida – por exemplo, sobre a natureza da graça, os sacramentos, a hierarquia
e a moral – foi ensinada pelos Padres e Papas sem qualquer inovação posterior,
assegurando a “continuidade segura” da fé tradicional. Como Prof. Orlando
resume, nos fundamentamos sempre no Catecismo do Concílio de Trento, “um
Concílio infalível”, tendo dele por base infalível o ensinamento.
O Vaticano II como Concílio Pastoral
Ao contrário, o Concílio Vaticano II (1962–1965)
dedicou-se sobretudo a abordagens pastorais e a atualizar a linguagem da
Igreja, sem definir novos dogmas. O próprio Professor sublinha que, por esse
motivo, “se o Novo Catecismo ensina o mesmo que o de Trento, podemos usar o
de Trento. Se ele discrepa, então devemos usar apenas o de Trento”. Em
outras palavras, diante de qualquer divergência, não há hesitação: prevalece a
doutrina tridentina. Além disso, João Paulo II, ao promulgar o Catecismo
de 1992, apenas recomendou sua leitura em espírito de comunhão; não
houve ordem papal de substituí-lo integralmente ao anterior. Prof. Orlando observa
categoricamente: “Pedir não é mandar… Quem pede não manda”.
Consequentemente, não se trata de rebeldia seguir o velho Catecismo – ao
contrário, tal escolha reafirma nossa fidelidade ao ensinamento milenar da
Igreja, que não se torna obsoleto por receber atualizações pastorais.
Liberdade Religiosa: Doutrina Antiga versus Novidade
Moderna
O Catecismo de Trento expressa a visão clássica: a única
verdadeira religião é a Católica, e promover crenças contrárias à fé – como
pregava a Reforma – é erro grave. Antes do Vaticano II, a Igreja via nas
leis de “liberdade de culto” dos governos modernos (por exemplo, conceder a
heréticos direito de pregar à vontade) um perigo à verdade. O Syllabus de
Pio IX (1864) chegou a condenar o erro de “que a liberdade de religião
é um direito do homem e deve ser proclamada por lei”. Em contraste, a
declaração conciliar Dignitatis Humanae (1965) afirma o direito pessoal
à liberdade religiosa, sem coerção, como valor humano fundamental. O Catecismo
de 1992 segue essa linha: ensina que as pessoas devem ter proteção jurídica
para professar sua fé segundo a própria consciência. Muitos tradicionalistas
veem nisso uma “novidade não condizente” com o magistério constante da Igreja.
De fato, Trento e papas antigos nunca aprovaram a ideia de que todos os erros
devem ser tolerados como ato de justiça, mas sim como uma concessão em
circunstâncias excepcionais. A linguagem contemporânea introduz ambiguidades:
por exemplo, perguntar se a Igreja agora aceita plenamente todas as religiões é
motivo de dor para quem valoriza a doutrina de Cristo como único caminho de
salvação. Esse tema ilustra como o novo catecismo pode parecer afastar-se da
antiga ênfase tridentina, gerando debates doutrinários sobre o verdadeiro
significado de “liberdade religiosa” no magistério da Igreja.
Ecumenismo e Unidade Cristã
Outro ponto em que os catecismos diferem é a abordagem
ecumênica. Trento reafirmou a unidade estrita da Igreja Católica e condenou as
seitas protestantes como ramos separados da Fé. Não havia espaço para “diálogo
igualitário” com outras igrejas; a meta era ou que retornassem à comunhão com
Roma, ou identificá-las como afastadas da verdade. Após o Vaticano II,
surgiram documentos que promovem o diálogo com cristãos não-católicos e até com
judeus e muçulmanos, enfatizando valores comuns. O Catecismo de 1992 reflete
esse espírito: reconhece elementos de verdade fora da Igreja e convoca o
respeito mútuo (conforme Unitatis Redintegratio, Nostra Aetate).
Os críticos veem aí “novidades” que parecem suavizar as definições
tradicionais. Apontam, por exemplo, que Pio XI em Mortalium Animos
condenava expressamente os erros do ecumenismo moderno como indiferentista.
Comparar esses enfoques mostra o choque entre a ênfase tridentina na verdade
una e a atitude pós-conciliar de encontro ecumênico. Para nós, a “continuidade
da fé” exige lembrar que o ecumenismo deve estar sempre subordinado à verdade
integral; quaisquer ambiguidades que deem a entender o contrário são vistas
como inconsistências em relação ao magistério histórico da Igreja.
Colegialidade Episcopal: Monarquia vs. Colégio
O Concílio de Trento reforçou o primado do Papa como
sucessor de São Pedro, destacando sua autoridade máxima. Os bispos eram
reconhecidos como os legítimos governantes locais das dioceses, porém em plena
comunhão com o Romano Pontífice. Já no Vaticano II, os documentos Christus
Dominus e Lumen Gentium deram grande destaque ao “colégio episcopal”
unido ao Papa, ressaltando a responsabilidade colegiada dos bispos pela Igreja
universal. Muitos tradicionalistas enxergam aí uma ênfase incomum, embora
Vaticano I (1870) já tenha afirmado a colegialidade em sentido geral. A crítica
tradicional distingue: a colegialidade nunca pode diminuir a primazia petrina,
mas alguns interpretam certos trechos pós‑concilares como uma abertura maior à
ideia de concílios ou decisões colegiadas com peso próprio. Por exemplo,
questiona-se se o entendimento contemporâneo de co-governo não introduz algo
além do modelo meramente hierárquico antigo. Ainda que o novo Catecismo
reafirme oficialmente o primado do Papa, a tonalidade geral sugere uma maior
“sinodalidade” (sobretudo após o Vaticano II), diferente da linguagem
categórica do passado. Essa alteração de ênfase – mesmo sutil – é apontada como
uma divergência doutrinal que, segundo críticos da reforma conciliar, não se
encaixa na constante tradição católica, onde o Papa governa como pedra
fundamental e modelo de unidade.
Salvação Fora da Igreja: Unidade Salvífica
Finalmente, o tema da salvação salta aos olhos. O Catecismo
de Trento – seguindo Tradições como “Extra Ecclesiam nulla salus” –
ensina que Cristo é o único Mediador, de quem nasce a Igreja. Assim, em termos
absolutos, quem conscientemente rejeita a Igreja não recebe os meios ordinários
de salvação. O novo Catecismo, contudo, afirma (conforme Lumen Gentium 16)
que aqueles que, sem culpa própria, ignoram a Igreja mas procuram
sinceramente a Deus e praticam a justiça, podem alcançar a salvação. Em linhas
gerais, admite uma salvação também fora dos limites visíveis da Igreja, por
ação da Graça. Para defensores da doutrina tradicional, isso representa uma
mudança significativa: se antes falar em “salvação fora da Igreja” soava a erro
ou ambiguidade, hoje soa pastoravelmente mais inclusivo. A ênfase moderna em
invincible ignorance (ignorância invencível) abre a porta para interpretações
contraditórias sobre o alcance da única Igreja de Cristo. Essa é vista por
muitos como uma “ambiguidade” doutrinal do novo catecismo, em contraste com a
clareza sem rodeios do ensino anterior, que afirmava explicitamente a necessidade
de permanecer unido a Cristo pela fé e pelos sacramentos da Igreja para a
salvação eterna.
Em todos esses pontos – natureza infalível do Concílio,
liberdade religiosa, ecumenismo, colegialidade e salvação – fica patente que o Catecismo
Romano é sólido e estável, enquanto o Catecismo de 1992 introduz
elementos novos e, por vezes, ambíguos. Defendê-lo não é um gesto de rebeldia
contra o Magistério, mas a afirmação de que a doutrina “de sempre” da Igreja é
segura, imutável e satisfatória. Como bem diz Prof. Orlando: se o novo
catecismo concorda com o antigo, não há problema em usá-lo; mas se diverge, “deve
usar apenas o de Trento”. Nossa resistência não é pessoal nem ideológica.
Ao seguir o Catecismo do Concílio infalível, agimos em fidelidade à “plenitude
da verdade” que Cristo confiou à Igreja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário