20 de abril de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência XI


Parte 6/8


B - Infelizmente há os que desertam. Há os que não observam o mandamento formal de Deus, e contratam um novo casamento, enquanto o outro cônjuge ainda vive. 
a - Sabeis o que daí resulta? Uma conversa como esta:
- O que faz a Igreja Católica é inaudito. Fui me confessar e não recebi absolvição. Jesus Cristo não ensinou esta crueldade. Ele perdoou mesmo a mulher adúltera... Onde se encontra entre nós a caridade cristã?
Assim esbravejava diante de mim, indignada, uma senhora, que dificilmente me deixava dizer uma palavra.
- Mas, senhora, a recusa da absolvição é um termo tão horrível, uma pena tão dolorosa que nenhum confessor a aplica, sem uma extrema necessidade. Se vos foi realmente recusada a absolvição, houve para isto um motivo muito sério.
- Um motivo? Acusei-me de ter um segundo marido.
- Bem! Vede como fizestes mal, indignando-vos contra o vosso confessor. Não encontrareis no mundo inteiro um confessor que vos possa dar a absolvição.
- Por que? Se eu confesso meus pecados? Será que Cristo não perdoou a mulher adúltera?
- É a segunda vez que invocais este exemplo. Se lerdes, todavia, esta história na Sagrada Escritura, vereis que este caso não fala em vosso favor. Não sabeis o que disse Nosso Senhor, absolvendo-a? "Ide, e não pequeis mais" (Jo 8, 2). Eis a condição de absolvição: Não pequeis mais. É verdade, caístes, fostes fraca, mas, agora, não o fareis mais? Vós, porém, senhora, não podeis prometê-lo, e é justamente por isto que não podeis receber a absolvição. De nenhum padre nem do próprio Cristo. Porque viveis com um homem que, segundo Nosso Senhor Jesus Cristo, não é vosso esposo, e viver com ele, juntos, como se fosseis casados, constitui um continuo pecado, grave. E agora julgai vós mesma se merece absolvição aquele que diz: Muitas vezes cometi o pecado, e eu peço perdão disto, ainda que queira continuar a viver assim...
- Mas como sabeis que, segundo Nosso Senhor Jesus Cristo, ele não é meu marido?
- Como? Pelo próprio Cristo. Concentrai-vos um pouco, abri o evangelho de São João, no capitulo IV, e lereis aí a conversação que o Salvador teve, junto ao poço de Jacob, com a Samaritana, que estava com o seu sexto marido. "Jesus lhe diz: ide, chamai vosso marido, e vinde aqui. A mulher responde: Eu não tenho marido. Jesus diz: Tendes razão em dizer que não tendes marido, porque tivestes cinco maridos, e aquele que tendes agora não é vosso; nisto dissestes a verdade" (Jo 4, 16 - 18).
Parece que esta senhora compreende sua falta. Olha em silêncio, e depois pergunta docemente:
- Mas, então, que fazer? Devo eu deixar meu segundo marido?
- Vede, agora, achastes a única solução.
Não, isso não pode ser, respondeu ela, indignada. Vivemos juntos há dez anos. Isso não pode ser. Mas eu quereria confessar-me. Não há de fato outro meio?
- Não há, senhora.
- Que crueldade! É uma lei tão severa e tão dura, que trará a ruína da religião católica. E eu também vou deixar o catolicismo por causa disto.
- Ides renegar a fé por isto? Em suma, a religião católica não é a verdadeira, porque prega estritamente o mandamento de Cristo? Não será esta uma atitude semelhante a um pequeno aluno que, diante da severidade de seu mestre, declara: agora não acredito mais que dois e dois são quatro. É bem verdade, muitos sofrem por causa deste princípio, mas que um princípio seja severo e difícil, não é isto que importa.
- Não é isto? Que é então?
- É se o princípio é verdadeiro e justo. Se sua observância é um mandamento de Deus. Se é um fundamento necessário da vida humana. Se os interesses superiores da vida humana, o bem comum o exigem, como o pedaço de pão, como a respiração. E se assim for, e assim é para a indissolubilidade do matrimônio, é preciso sustentá-lo observá-lo, ainda que este princípio para alguns seja fonte de sofrimento e dramas.
A senhora levanta-se com um ar teimoso, sai, e de fato deixa a religião católica. Nossa Igreja a vê partir com o coração apertado, como Nosso Senhor viu afastarem-se os discípulos incrédulos (Jo 6, 67), mas ela não pode cortar uma só palavra da lei, como Cristo não cortou uma letra de suas palavras.


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