18 de abril de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth

Conferência XI


Parte 5/8

A - Uma mulher de quarenta anos assentou-se diante de mim, em meu escritório. Quando começa a falar, ainda não chora, mas luta contra a sua grande dor. Logo, porém, sua voz se torna velada, sua aflição torna-se cada vez mais acentuada, e por fim todas as suas palavras são entrecortadas de soluços:
- Somos casados há vinte anos, ambos bons católicos, durante muito tempo fomos à confissão e à comunhão. Tenho quatro filhos, o primeiro com dezesseis anos, e o mais jovem com seis anos. Durante dezessete anos, levei com meu marido uma vida de felicidade. Mas há três anos, uma jovem, a caixa de nossa casa comercial, veio colocar-se no meio, e daí por diante meu marido mudou completamente. Tornou-se brutal, nervoso, abandona sua família, mal esta em casa à noite...
E eu suporto isto tudo há anos. Não por mim, mas por meus filhos. Choro e sofro em silêncio. Mas agora não posso mais. Esses últimos dias descobri tudo, e ele me confessou tudo. Estava, é verdade, muito comovido, e me fez promessas, mas esta acabado. Eu não posso mais com isso, vou divorciar-me.
E a pobre senhora chora amargamente.
a - De fato, quem ousaria afirmar que ela não é uma pobre mulher? quem ousaria duvidar que pesada cruz amarga a sua existência? E agora, eu lhe vou dizer que não se divorcie. Posso dizer, contudo, que lhe vou aconselhar talvez o maior sacrifício que Deus possa esperar de uma criatura humana sobre a terra. Mas é preciso que eu a persuada, pois não há melhor solução.
- Então, senhora... vós quereis vos separar de vosso marido... É verdade que nestas circunstâncias dolorosas a Igreja permite a separação, isto é, desliga-vos do juramento que fizestes, por ocasião de vosso casamento, de permanecer junto de vosso esposo durante toda a vida. A igreja pode autorizar-vos a deixar vosso marido, mas, naturalmente, não é possível novo casamento.
- Ah! não penso nisto. Estou satisfeita com um. Por que hei de tomar novo marido?
- Mas refleti bem nas consequências de vosso gesto. Pensai primeiramente em vossa alma. Neste momento sentis e não pensais que seja de outro modo que podereis guardar a castidade à qual vos obrigará esta separação. Mas que enorme domínio de vós isto exigirá! quantos discursos tolos precisareis ouvir: "sois ainda jovem e levais uma vida tão triste". Podereis sempre resistir a estes assaltos?
- Irei me confessar e comungar, muitas vezes. Sim, creio que tudo irá bem.
- É verdade. Vossa alma, para vós, estará em ordem. Mas pensais também no que acontecerá ao vosso marido?
- O que acontecerá? Ele já me abandonou, e já caiu.
- Sim. Mas se lhe perdoardes e tudo esquecerdes - oh como isto é difícil! - ele poderá ainda levantar-se. Se, ao contrário, vos separardes dele agora, o deixais no abismo do qual talvez não mais possa sair. Dissestes que vosso marido, outrora, era piedoso. Pode-se, pois, ainda esperar. É verdade ele tropeçou, mas se agora ele vos pede perdão...
- Mas, dizei-me, Monsenhor, pode-se esquecer semelhante coisa?
 - Não é esta a questão. Não se consegue sempre apagar uma lembrança e governar os sentimentos. Mas a intenção. A vontade. O gesto de perdão. A reconciliação com quem se arrepende. E eu ainda não falei da pesada responsabilidade que assumis por uma separação: a sorte de vossos filhos.
- Eu também sinto muito. Se tudo suportei até aqui, foi por causa de meus filhos.
- E continuareis a fazê-lo. Porque não quereis que estes infelizes se tornem órfãos, vivendo sem pai e sem mãe. Não podeis querer que seu jovem ideal se desmorone como um castelo de cartas. Não podeis querer a horrorosa tragédia por que passam os filhos, cujos pais se separam, e que consequentemente arruínam estas almas.
b - Compreendo que alguns, talvez, quereriam intervir em favor desta mulher. Intervir perguntando: 
- por que uma pessoa tão infeliz e inocente não se pode casar de novo? Na primeira vez ela não foi feliz, não foi bem sucedida. Por que não se casaria novamente? Será que ela não tem direito à felicidade?
Quantas vezes não se houve este brado de indignação. E aqueles que assim falam não percebem, talvez, quanto esta linguagem não é cristã. Sim, o cristão quer também ser feliz, mas só conforme a vontade de Deus e não contra ela. Ora, nesta questão, como em todas as outras, a vontade divina corresponde justamente aos interesses da sociedade, do bem comum da .humanidade. Mas o interesse da humanidade e a conservação do bem comum se sobrepõem à felicidade particular e mesmo aos sofrimentos individuais.
"Que me importa este interesse geral"? dirão alguns amargamente. Eu não cuido senão do meu próprio interesse."
Não , mil vezes não! Quando estoura a guerra, todo mundo é enviado para a frente, porque o interesse da pátria o exige. "Que me importa o interesse da pátria? Fugirei". Será que alguém poderá falar assim?
Existirá um direito maior para dizer - que me importa o bem geral, fugirei da frente da vida familiar?


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