12 de abril de 2016

Sermão para o Domingo in Albis Pe Daniel Pinheiro IBP

[Sermão] A paz interior e a paz na sociedade


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Caros católicos, três vezes no Evangelho de hoje Nosso Senhor Jesus Cristo deseja a paz aos seus discípulos. Ele o faz, então, insistentemente após a sua Ressurreição. A paz é a tranquilidade na ordem, na boa definição de Santo Agostinho. A verdadeira paz apenas pode existir na ordem, e quando essa ordem é tranquilamente possuída. A ordem é a disposição de todas as coisas em vista de uma finalidade, de um objetivo. Na ordem, cada coisa ocupa o seu devido lugar e coopera para que todas possam atingir o objetivo comum. A verdadeira ordem apenas pode existir quando as coisas estão dispostas em vista de Deus, pois Deus é a finalidade de tudo. Todas as coisas foram criadas para dar glória a Deus, para manifestar as suas perfeições. Em particular, nós, homens, fomos criados para conhecer, amar e servir a Deus. A verdadeira ordem é necessariamente uma ordem que conduz a Deus, uma ordem em que as coisas estão dispostas de tal forma que cooperem para nos mostrar as perfeições de Deus e que cooperem para que possamos conhecer a doutrina católica, para que possamos amar e servir a Deus. A verdadeira ordem é uma ordem que conduz não para qualquer divindade ou religiosidade, mas que conduz os homens para o Deus verdadeiro e único, Uno e Trino, para Nosso Senhor Jesus Cristo, para a Igreja que Ele fundou, que é a Igreja Católica Apostólica Romana, fora da qual não há salvação. A verdadeira ordem pode existir apenas quando são respeitadas as leis de Deus, seja a lei natural seja a Revelação. A primeira coisa para haver paz é, portanto, a ordem, a ordem que dirige a Deus. Todas as criaturas, todo nosso ser, todos os elementos da sociedade devem, então, estar ordenados a Deus, se queremos a verdadeira paz. Até conseguirmos essa ordenação a Deus, que é o primeiro elemento da paz, teremos que combater muito. Em seguida, o outro elemento da verdadeira paz é a tranquilidade, quer dizer, que essa ordenação completa a Deus possa ser observada com certa serenidade. Todavia, a paz perfeita, virá apenas no céu. Aqui na terra, a nossa paz estará sempre aliada ao combate para garantir a ordem, para garantir a ordenação de nossa alma e da sociedade para Deus contra os inimigos de Deus.
Vivemos um período um pouco conturbado no mundo e, particularmente, em nossa pátria. A paz está, verdadeiramente, ausente. Ausente porque poucas são as coisas que estão orientadas para Deus e poucas são as coisas que nos orientam para Deus. Os conflitos em todos os âmbitos são inúmeros. A discórdia floresce. Claramente, não há paz porque não há ordem nem tranquilidade. E a falta de paz vai gerando ainda mais dificuldades. O abismo chama o abismo. O homem, porém, tem um desejo natural pela paz. Muitas vezes a compreende erradamente, de modo distinto do que falamos. Muitas vezes, o homem quer uma paz que é simples ausência de combate, de luta, de arma. Uma paz meramente sentimental, em que as pessoas vivem juntas. E, para alcançar essa paz, o homem iguala a verdade e a mentira, o pecado e o vício, o bem e o mal. Vamos viver em paz, todas as religiões são boas, dizem. Vamos viver em paz, cada um faz o que quer, desde que não prejudique a liberdade do outro, ouvimos constantemente. Vamos viver em paz, cada um pode pensar o que quiser, desde que não queira impor a sua verdade ao outro, falam. Essa paz, evidentemente, é uma falsa paz. É uma paz na desordem, na mentira, no erro. É a paz de uma falsa tranquilidade que, na verdade, gera tanta discórdia e tanta desunião. É a paz do mundo, mundana. É a paz do homem. É a paz do liberalismo e do relativismo. Que desembocará em conflitos sérios. É paz que não conduz para Deus, para a verdade, para a vida eterna. A verdadeira paz, como falamos, supõe a orientação de tudo a Deus, supões a verdade, supõe também a verdadeira religião, que é a Católica. A verdadeira paz não pode colocar em pé de igualdade a mentira e a verdade, o pecado e o vício, o bem e o mal, a verdadeira religião e aquelas que foram inventadas pelos homens ou pelo demônio. A verdadeira paz é uma paz baseada na verdade. O fundamento da verdadeira paz é a submissão a Deus.
Se queremos restabelecer a paz em nossa sociedade, será preciso restabelecê-la sobre a verdadeira ordem, isto é, sobre a orientação de tudo a Deus. Todavia, a paz exterior decorre necessariamente da paz interior (ver Pio XII, Homilia de Páscoa, 9 de abril de 1939). A paz interior que não é uma paz ingênua ou um estado zen, como dizem. A paz interior é a ordenação de toda a nossa alma e de todo o nosso ser a Nosso Senhor Jesus Cristo. A paz interior decorre da fé católica e da observância dos mandamentos de Cristo, pois com a fé e a prática dos mandamentos, ordenamos, orientamos o nosso ser a Cristo. Devemos guerrear por essa paz interior, que é a união com Deus. E devemos guerrear para defendê-la e guardá-la.
A paz exterior, a paz de uma sociedade e de uma nação, decorre da paz interior de seus membros. Não nos iludamos. Não há outro caminho. Apenas teremos a paz na sociedade, quer dizer, uma sociedade ordenada a Deus com tranquilidade quando muitos de seus membros estiverem ordenados a Deus. A paz na sociedade não encontra seu primeiro fundamento na política, ainda mais quando essa política se faz desconsiderando a verdadeira religião, quando se realiza fazendo abstração da verdade revelada. A paz encontra seu primeiro fundamento na verdadeira religião, que é a Católica. A ação política de um católico jamais pode prescindir disso. A ação política de um católico nunca pode cooperar com um erro para combater outro. Cooperar com um erro para combater outro apenas gerará outros erros. Não se pode cooperar nem com um erro menor para combater um maior. Os fins não justificam os meios. O demônio e a maçonaria jogam constantemente com isso, com direita e esquerda, com progressista e conservador, com socialista e liberal, com revolucionário e reacionário. São criados falsos dilemas, como se fôssemos obrigados a aderir a um ou a outro. E os católicos são, infelizmente, facilmente enganados. Alguns, opondo-se ao comunismo, pintam, por exemplo, a ditadura militar como um ideal quase perfeito. Esquecem-se de que a ditadura militar aprovou, por exemplo, o divórcio no Brasil e estatizou uma quantidade imensa de empresas. Muitas vezes, combatemos um erro sem perceber que estamos aderindo a outro erro, e que, assim, as coisas pouco mudarão, no fundo. O católico deve se pautar pela verdade, pela verdade natural e pela doutrina de Cristo. Nada mais. A sua ação na sociedade deve se basear nisso: na verdade, na religião, na virtude. São Pio X dizia ao católicos que queriam mais ativamente participar da política “… será preciso inculcar e seguir na prática os princípios elevados, que regram a consciência de todo verdadeiro católico: ele deve se lembrar, antes de tudo, de ser em toda circunstância católico e de se mostrar verdadeiramente católico, assumindo e exercendo cargos públicos com a firme e constante resolução de promover, na medida em que puder, o bem social e econômico da pátria e particularmente do povo, conforme os princípios da civilização claramente cristã, e de defender ao mesmo tempo os interesses supremos da Igreja, que são os da religião e da justiça.” (Il fermo proposito).
(Instrução do Santo Ofício 20.12.1949) Um católico pode se unir com um não católico para defender os princípios fundamentais da lei natural ou da religião cristã contra os inimigos de Deus ou para postular coisas corretas na ordem social e econômica. Todavia, nessa união, como é evidente, os católicos não podem aprovar ou conceder nada que esteja em conflito com a revelação divina ou com a doutrina da Igreja, mesmo nas questões sociais ou econômicas. É o que sempre ensinou a Igreja.
A ação política de um católico deve ser baseada solidamente na verdade natural e na verdade revelada. A paz na sociedade não virá de uma ação meramente política nem simplesmente de um sistema político ou de uma forma de governo. A volta a uma forma de governo do passado não resolve nada propriamente falando. O que é preciso, em primeiro lugar, é de uma política, e de um governo que leve em consideração as leis de Deus.
Três vezes Nosso Senhor ressuscitado deseja a paz no Evangelho de hoje. Se queremos a verdadeira paz, caros católicos, devemos ter a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitado. Devemos buscar primeiramente a paz interior, a paz da nossa alma. Em seguida, a paz na sociedade, que só pode ser baseada na verdade, na virtude, na submissão a Deus.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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